Motivo de aflição para muita gente que frequenta a universidade, o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) está se tornando solo fértil para a criatividade dos futuros profissionais em busca do tão sonhado diploma nas faculdades do Sul do Rio de Janeiro.
A variedade dos assuntos abordados chama atenção de quem poderia estar acostumado a ouvir sobre temas diretamente relacionados à área de atuação profissional da carreira escolhida.
O fenômeno de popularidade da cantora Gretchen nas redes sociais, o cabelo como fator de transformação dos padrões estéticos e até um aplicativo de celular que faz mapa astral são alguns exemplos que podem ser encarados como sinais desses novos tempos, marcados pela popularização das mídias digitais.
Na maioria dos casos, a justificativa pela escolha passa pelo mesmo argumento. "Quando eu percebi que teria que fazer um TCC, procurei pesquisar sobre algo que fosse interessante, e tivesse a ver comigo, algo que fosse prazeroso realizar", resumiu Letícia Dantas, de 24 anos, que se formou jornalista defendendo um trabalho com o título "Cabelo crespo: uma análise da transformação dos padrões estéticos pela popularização dos influenciadores digitais".
Na hora de avaliar os trabalhos, os professores garantem que não se deixam levar pelo saudosismo. Abertos aos novos tipos de abordagens, eles pedem que, para serem bem sucedidos no que propõem, os textos sejam bem argumentados e se encaixem em algumas regras.
"Os critérios que avaliamos são a relevância e atualidade do tema, a qualidade da pesquisa e da redação, a organização das ideias e formulação das hipóteses. A reflexão e pesquisa dos chamados temas alternativos ou marginais, desde que abordados com rigor científico, tem o nosso total apoio", disse o professor Álvaro Britto, coordenador do curso de comunicação social do Centro Universitário de Barra Mansa (UBM).
"Geralmente os universitários querem falar sobre as blogueiras de moda, grifes e youtubers. Apesar de os temas novos surgirem, a gente não pode ficar cego. É positivo, desde que se tenha consciência e cautela para não se apaixonar pelo tema. Nosso papel como orientador é mantê-los motivados", explicou o professor Douglas Gonçalves, coordenador dos cursos de jornalismo e publicidade e propaganda do Centro Universitário de Volta Redonda (UniFOA).
Trabalho sobre Gretchen rende apelido
Quando teve a ideia de desenvolver o trabalho de pesquisa que daria origem à monografia "Gretchen, a rainha da internet: a construção das divas midiáticas", o universitário Roberto da Silva Santos, de 26 anos, que cursa comunicação social com habilitação em publicidade e propaganda, não imaginava que isso lhe renderia brincadeiras e apelidos até dos colegas de trabalho.
"No começo eu estava pensando em fazer algo voltado para o mundo dos memes, mas aí a Gretchen apareceu bombando em um clipe junto com a Katy Perry e não deu para escapar. O meu trabalho aborda a construção do mito da beleza, contando um pouco da história de personalidades como Cleópatra e Carmen Miranda. Também falo sobre o surgimento do termo diva, palavra que surgiu na época das grande óperas. Nos tempos de hoje, a Gretchen é um ícone e soube se renovar com o passar dos anos. Ela encarna isso tudo e atrai cada vez mais atenção, principalmente dos jovens", disse ele, que leva na esportiva a gozação dos amigos, mas se diz assustado com a repercussão do caso nas redes sociais.
Apesar de já ter posado para a foto oficial da turma celebrando a conquista, Roberto ainda aguarda aprovação do trabalho, que tem 73 páginas. A apresentação para a banca de professores está prevista para este sábado (9), na Associação Educacional Dom Bosco, em Resende.
"O natural é belo"
Para elaborar o trabalho "Cabelo crespo: uma análise da transformação dos padrões estéticos pela popularização dos influenciadores digitais", a jovem Letícia Dantas, de 24 anos, se inspirou na cultura negra. Para sustentar a pesquisa, ela entrevistou a youtuber Ana Lídia Lopes, que costuma postar vídeos sobre transição capilar e outros temas relacionados ao assunto.
"Assumir o cabelo muda muito a pessoa, deixa com um jeito diferente. Desde que comecei a procurar um tema para o meu trabalho, identifiquei esse assunto como relevante também pela representatividade cultural que simboliza. Foi um pouco difícil encontrar material de referência, não existem muitos estudos sobre o tema, mas no fim deu certo".
E o que o leitor pode esperar do trabalho, que tem 45 páginas? Segundo Letícia, que atualmente é funcionária de uma rádio de Barra Mansa, e curte a tranquilidade de já ter sido aprovada pela banca, o objetivo é mostrar que o "natural é belo, independentemente se liso ou crespo, e despertar nas pessoas um sentimento de se assumirem como são".
Mapa astral no celular
No caso do universitário Henrique Genestra, de 21 anos, o trabalho não fugiu tanto da realidade do mundo profissional da carreira escolhida. No fim do curso de design, o jovem, que é morador de Volta Redonda, optou por desenvolver um aplicativo de celular. A função do programa, no entanto, chamou a atenção de amigos e professores.
"Eu estudo astrologia há três anos. Fui ouvindo meus amigos falarem que não existia aplicativo que fosse capaz de fazer um mapa astral. Fui amadurecendo a ideia, até que decidi realizar o projeto, colocando em prática os conhecimentos aprendidos durante o curso. Não basta a um aplicativo realizar uma tarefa, é preciso oferecer uma boa experiência, através de uma série de fatores, como cor, alinhamento de texto e botões. Tudo é importante".
Orgulhoso do projeto, Henrique ainda aguarda o resultado da empreitada. "A pessoa pode adicionar um mapa astral, incluindo nome, data, local e hora de nascimento. Aí, o aplicativo gera, automaticamente, o signo, o ascendente, o sol e a lua. Cada detalhe foi pensado para a atrair o usuário".