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MS vai buscar redução no uso de agroquímicos nas lavouras

Por meio do controle biológico de pragas e doenças, produtores também serão beneficiados

MAURÍCIO HUGO

26/12/2016 - 15h51
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Após três meses de pesquisas, estudos e intensas reuniões dos membros do comitê formado para a elaboração do Plano de Controle Biológico de Pragas para Mato Grosso do Sul, a equipe finalizou e entregou, na semana passada, ao secretário de Produção e Agricultura Familiar (Sepaf), Fernando Mendes Lamas, o documento de 25 páginas, mais anexos, com as propostas e metas a serem atingidas em curto, médio e longo prazo. 

Esse trabalho foi lançado e solicitado durante o I Workshop de Controle Biológico de Mato Grosso do Sul, realizado nos dias 13 e 14 de setembro em Campo Grande, com a participação dos maiores especialistas em controle biológico do Brasil. No evento, ficou determinante a necessidade de que começassem a ser mapeados os problemas críticos de pragas e doenças que atingem o setor agropecuário do Estado. Também ficou claro que se torna imprescindível o levantamento das principais tecnologias disponíveis para enfrentar esses problemas, por meio do controle biológico.

Os grandes objetivos do trabalho são: a redução do uso de agroquímicos em lavouras, cursos d’água, no meio ambiente, enfim; e também a consequente redução nos custos de produção para os agricultores.

AS METAS

As metas de curto prazo devem levar de um a dois anos para se concretizarem e consistem em mapear as tecnologias disponíveis em MS e em outros estados para o controle biológico das principais pragas que afetam a produção de alimentos, bioenergia e fibras; estabelecer parcerias e criar biofábricas para produção dos agentes de controle biológico; treinar mão de obra e estabelecer programas de pesquisa e de ensino para promoção de programas de formação de recursos humanos e de projetos de pesquisa em controle biológico de interesse das diferentes cadeias do agronegócio de MS.

MAPEAR PROBLEMAS

O coordenador do Comitê, professor Ruy Caldas, da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), conta que o trabalho de mapear os problemas em que o controle biológico pode contribuir foi minucioso e, agora, espera sair da bancada e chegar ao campo o mais rápido possível. Atuar no plano, diz o professor, foi uma realização pessoal e profissional.

Além de mapear os problemas, o plano teve por objetivo diagnosticar impactos de pragas e doenças na economia do Estado e na rentabilidade das diferentes cadeias do agronegócio que comprometem a produtividade e a saúde humana e animal, bem como atingem de forma negativa o ambiente. Outros objetivos contemplam o documento, como o de elaborar planos anuais de investimento em tecnologias de controle biológico; propor parcerias público-privadas visando criar bases de produção agropecuária sustentável; propor políticas publicas de controle biológico para produção agropecuária e agroindustrial sustentável; fomentar a formação de recursos humanos em áreas estratégicas para a capacidade local de desenvolvimento de tecnologias de controle biológico, entre outros.

O documento foi bem recebido pelos 13 representantes de entidades presentes no gabinete do secretário da Sepaf, Fernando Lamas, que agradeceu ao Comitê o resultado final, classificando o plano como altamente significativo para MS. “Temos sérios problemas e precisamos modificar o modelo atual de agricultura diminuindo o uso de agrotóxicos. O caminho é o controle biológico, ferramenta de fundamental importância para mudar nossa agropecuária. Agora é transformar o plano em projetos”, declara. Segundo o secretário, a prioridade do Estado são as culturas de milho, soja, cana-de-açúcar, pastagens e floresta. “Temos tecnologias disponíveis para o produtor utilizar e embasamentos de forma organizada. Precisamos priorizar e fazer com que o agricultor utilize as informações e as incorpore no seu sistema de produção”, disse o secretário, que acredita que já na próxima safra muitas ações deverão ser fundamentadas no controle biológico.

Jerônimo Alves, secretário-adjunto da Sepaf, ressaltou que o plano dá os rumos para a sequência do trabalho. Posteriormente, o plano será traduzido em programas e projetos que vão ser desenvolvidos dentro do ritmo possível, envolvendo o governo do Estado e os parceiros.

PROBLEMAS E SURTOS

O Estado enfrenta vários problemas de pragas e doenças nas lavouras e na pecuária. Hoje, um problema considerado emergencial é o controle da mosca-dos-estábulos, que atinge diretamente os produtores de carne e leite, com prejuízos que variam entre 20% e 50%, e também a cadeia produtiva da indústria sucroalcooleira. 

Mato Grosso do Sul tem registro de vários surtos, e a Embrapa Gado de Corte tem atuado no monitoramento desses surtos. Pesquisadores trabalham no desenvolvimento de tecnologias que possam controlar o problema. E uma dessas tecnologias se baseia justamente no controle biológico.

TECNOLOGIAS REDUZEM O USO DE QUÍMICOS

Para a chefe de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa Gado de Corte, Lucimara Chiari, incluir o tema pecuária no plano foi significativo. “A Embrapa tem muito a contribuir com o Estado de MS”, disse, citando o problema da mosca-dos-estábulos. Os pesquisadores da Embrapa buscam uma solução que atualmente repercute negativamente em duas grandes cadeias: na sucroalcooleira e na pecuária (leiteira e de corte), estas últimas com perdas de produção que chegam a 20% durante os surtos.   

“A Embrapa está à frente nas pesquisas de combate à mosca-dos-estábulos, incluindo estudos de controle biológico; além disso, a empresa deve contribuir em várias outras frentes com tecnologias que visam, principalmente, diminuir o uso de agrotóxico”, revela Lucimara.

O custo anual de produtos para saúde animal na pecuária de corte é estimado em R$ 35,3 milhões, o que representa 0,45% do faturamento bruto. A estimativa de perda causada pelas doenças e pelos ecto e endo parasitas pode variar de 1% a 5% da produção, o que equivale a R$ 390,9 milhões.

Além da mosca-dos-estábulos, a pecuária amarga prejuízos causados pela mosca-dos-chifres e por carrapatos. Com a mosca-dos-chifres, estima-se uma perda de receita em MS na ordem de R$ 160 milhões por ano, e os prejuízos causados pelo carrapato, de R$ 660 milhões por ano ou 4,5 milhões de arroba de boi.

PARTICIPAÇÕES  

As instituições participantes do trabalho foram: a Embrapa Gado de Corte e a Agropecuária Oeste, Fundação-MS, Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Federação da Agricultura e Pecuária de MS (Famasul) e Secretaria de Estado de Produção e Agricultura Familiar.