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MS é o primeiro em áreas de produção integradas no Brasil

Estado tem 2 milhões de hectares destinados à produção integrada

MAURÍCIO HUGO

07/11/2016 - 15h30
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Mato Grosso do Sul é o primeiro Estado no Brasil em área com algum sistema de integração produtiva. Com 2 milhões de hectares de área, MS aparece primeiro, seguido de Mato Grosso com 1,5 milhão de hectares e o Rio Grande do Sul com 1,4 milhão de hectares integrados. 

A pesquisa, realizada para apurar a realidade da ILPF no Brasil, mostra que, atualmente, a área com algum tipo de adoção de sistema ILPF em todo o País abrange 11,5 milhões de hectares. Além dos estados citados também se destacam Minas Gerais, com um milhão de hectares e Santa Catarina, com 680 mil hectares.

No âmbito dos produtores rurais com atuação predominante na pecuária e que adotam a estratégia, 83% utilizam o sistema de integração lavoura-pecuária (ILP);  outros 9% adotam  lavoura, pecuária e floresta (ILPF);  e 7%  integração pecuária-floresta (IPF). E entre os produtores de grãos, 99% adotam o sistema integração lavoura-pecuária - ILP (0,4% ILPF e 0,2% ILF).

Comentando sobre o fato de Mato Grosso do Sul estar em primeiro lugar em área com sistemas de integração, o secretário de Estado da Produção e da Agricultura Familiar, Fernando Lamas, lembrou que MS tem 16 milhões de hectares de pastagens e as propriedades pecuárias precisam melhorar suas rendas. “A produção precisa ser sustentável, nem pode ser diferente. E para ser sustentável a produção precisa ser integrada e intensiva. Por isso, os produtores hoje não tem outra saída a não ser integrar as atividades, de forma que o trabalho possa ser intensivo e, dessa forma, sustentável e rentável”, explicou o secretário Fernando Lamas.

Ele acredita que os produtores rurais sul-mato-grossenses têm se preparado de forma bem satisfatória para esses novos tempos de tecnologias que visam à sustentabilidade total do negócio agrícola. “Dessa forma, tendo espaço, como falei temos 16 milhões de hectares de pastagens, e tendo conhecimento das tecnologias, o produtor de MS está gradualmente entrando de forma definitiva nos sistemas integrados e intensivos. Por isso estamos na frente com 2 milhões de hectares integrados, e podemos muito mais no futuro”, comentou Lamas.

REDUZIR OS IMPACTOS AMBIENTAIS

Entre os produtores cujo foco predominante é a pecuária, os principais fatores motivadores para a adoção do sistema foram a redução de impactos ambientais, entendida como uma preocupação de adequar ambientalmente a atividade diante das pressões da sociedade e dos mercados e o interesse dos pecuaristas na recuperação das pastagens.

Já entre os produtores de grãos, os principais fatores que justificaram a adoção estão diretamente relacionados ao aumento da produtividade e ao incremento na resiliência dos sistemas produtivos com consequente diminuição dos riscos financeiros na atividade.  

Paulo Herrmann, presidente da Rede de Fomento à Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, credita a grandiosidade dos números de adoção dos sistemas integrados a duas características: aptidão natural dos trópicos para a produção agrícola; e capacidade dos produtores brasileiros em absorver novas tecnologias produtivas e sustentáveis.

Herrmann destaca que a integração é um sistema complexo, mas produtivo e, por isso, requer um modelo de financiamento orientado a apoiar todas as etapas do sistema de produção e não somente o financiamento de uma única safra para produção de um produto em separado. Herrmann ainda ressalta que o crédito para a ILPF é o mais seguro, entre os aplicados ao campo, “pois mitiga riscos do investimento, uma vez que o sistema ILPF produz ao longo de todo o ano, melhorando o fluxo de caixa da atividade além de promover o incremento de propriedades agronômicas que conferem capacidade adaptativa aos desafios impostos pela mudança do clima”, completa.

Maurício Lopes, presidente da Embrapa destaca que o Brasil chamará cada vez mais a atenção do mundo pelo potencial de intensificação da sua agricultura. Ele argumenta que produzir de forma mais intensiva se tornou um imperativo frente à necessidade de se ampliar a eficiência de uso dos recursos ambientais – especialmente água, solo e biodiversidade – garantindo serviços ecossistêmicos adequados, como reciclagem de resíduos, manutenção da fertilidade dos solos, recomposição das reservas hídricas, melhoria da atmosfera, dentre outros.  

Lopes destaca que o Brasil é um dos poucos países no mundo com grandes extensões de terras com aptidão para uso agrícola sustentável, produzindo, no mesmo espaço, grãos, proteína animal, fibras, bioenergia e, em futuro próximo, biomassa para uso bioindustrial. Segundo ele o Brasil poderá se tornar o líder global em intensificação baseada em tecnologias “poupa-recursos”, de baixa emissão de carbono e em ganhos na produtividade da terra.  Para o presidente da Embrapa, os dados revelados pela pesquisa mostram que a agropecuária brasileira está em sintonia com as demandas globais por mitigação e adaptação a realidade de mudanças climáticas, ao novo Código Florestal brasileiro e ao novo padrão de consumo definido por uma sociedade cada vez mais engajada nas causas ambientais.

Para o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente e integrante da Rede de Fomento ILPF Ladislau Skorupa, os números revelados pela pesquisa sugerem que há um grande espaço para ações de transferência de tecnologia, no sentido de elevar a qualidade dos sistemas já implantados. Dessa forma, ele acredita que a crescente disseminação de informações sobre os benefícios da estratégia pode ampliar a sinergia que a integração dos componentes lavoura, pecuária e/ou floresta pode proporcionar. “Em outras palavras, podemos ir muito além, explorando todas as potencialidades da estratégia integrada,” explica.

Skorupa salienta ainda que  a estratégia de ILPF é flexível, podendo ser adotada  por pequenos, médios e grandes produtores. Conforme explicou, a pesquisa ainda mostrou um cenário de consolidação da ILPF no País, onde os dados gerados poderão orientar as políticas públicas. A base interpretativa da pesquisa concentrou-se na percepção do produtor, em relação ao que ele acreditava possuir implantado na propriedade. Com isso, as configurações, bem como a dinâmica (Lavoura, Pecuária e Floresta) na adoção não são necessariamente as mesmas preconizadas na pesquisa, Transferência de Tecnologia ou mesmo na Extensão Rural. Essa característica evidencia que é vital implementar ações para a identificação e qualificação da adoção dos sistemas implantados nas diferentes regiões do País.

Por essa razão, a Rede de Fomento ILPF (composta pelas empresas Dow AgroSciences, John Deere, Cocamar, Parker e Syngenta) e a Plataforma ABC (Embrapa) atuam em colaboração visando estabelecer uma Rede de Monitoramento para a identificação espacial e qualificação da adoção de sistemas ILPF no Brasil.

Esse esforço também poderá contribuir para melhorar a gestão de riscos associados aos impactos negativos da mudança do clima, permitindo, ao longo do tempo, o desenvolvimento mais consistente das atividades do setor e ainda apoiando uma mudança progressiva na trajetória de emissões de gases de efeito estufa. Este modelo de desenvolvimento sustentável está alinhado com os objetivos tanto do Plano Nacional de Adaptação quanto do Plano ABC.

Para o coordenador da Plataforma ABC e integrante da Rede de Fomento, Celso Manzatto, estabelecer um sistema eficiente de monitoramento é importante para a estratégia de transferência de tecnologia, definida pela Rede, ao proporcionar aos interessados contato com tecnologia via trocas de experiência com outros produtores que já estão em fase mais avançada de adoção.