O presidente interino Michel Temer (PMDB) deve incluir em seu discurso de posse a recuperação da economia, corte de gastos do governo, apoio à Operação Lava Jato e à pacificação do país. Isso depois do Senado aprovar, na madrugada de hoje, o afastamento por 180 dias da presidente Dilma Rousseff (PT).
No texto, fechado no Palácio do Jaburu, Temer sustentará que investigações do esquema de corrupção na Petrobras não sofrerão intervenção, uma vez que seria defensor da independência das instituições.
A tom do discurso foi elaborado em conjunto com assessores e integrantes de seu núcleo político como o senador e futuro ministro de Planejamento, Romero Jucá (PMDB-RR), além de seu futuro ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha.
Existe, neste caso, interesse de que o evento não se alongue. O peemedebista deve dar posse aos novos ministros e, em seguida, discursar por dez minutos. Três medidas provisórias também podem ser anunciadas e enviadas ao Congresso, conforme aliados, com foco na área econômica e mudanças de ministérios.
INTERINO
Senadores confirmaram, por 55 votos contra 22, o afastamento da presidente Dilma Rousseff pelo prazo de até 180 dias. Ela é acusada em processo de impeachment de editar decretos de créditos suplementares sem aval do Congresso e usar recurso de bancos federais em programas do Tesouro, manobra conhecida como "pedaladas fiscais". Sua defesa nega.
Temer assume o cargo de forma interina, a partir das 15h (Horário de Brasília), depois de uma equipe de segurança realizar inspeção no Palácio do Planalto. Ele não pretende subir a rampa principal e transformar sua chegada num ato simbólico, tendo plano a adoção de discurso breve e posse dos ministros já escolhidos.
NOVO GABINETE
O vice-presidente passou as últimas semanas montando seu gabinete, com idas e vindas devido a críticas de setores do empresariado e da sociedade civil, além de dificuldades para acomodar os aliados dos quais precisará para tocar sua agenda no Congresso.
Na sua última forma, o homem forte da economia deverá ser Henrique Meirelles, na Fazenda, e a Esplanada poderá sofrer um corte de 32 para 22 pastas.
O grupo do peemedebista calcula que Temer terá cerca de 60 dias para estabilizar-se politicamente e para encaminhar medidas emergenciais econômicas no Congresso. Se bem sucedido, a absolvição política de Dilma é virtualmente impossível.
Dilma, Lula e o PT acusam Temer abertamente de ser golpista e conspirador, já que a abertura do impeachment foi conduzida por seu correligionário Eduardo Cunha (RJ) na Câmara.
JULGAMENTO
Durante os seis meses máximos de afastamento, Dilma será julgada pela acusação de ter autorizado créditos orçamentários sem amparo legal e de ter promovido as chamadas pedaladas fiscais - manobras que utilizaram recursos de bancos oficiais de forma indevida que custaram, em 2015, R$ 72,4 bilhões para serem quitadas.
Os senadores aprovaram o relatório condenatório do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), aliado do adversário derrotado por Dilma em 2014, o também senador e presidente tucano Aécio Neves (MG).
O Planalto nega que as acusações constituam crime de responsabilidade. Anastasia considera que as infrações se encaixam nas definições da lei do impeachment, de 1950.
Dilma tentou até a última hora retardar e anular o processo. O governo entrou com ação no Supremo Tribunal Federal para tentar derrubar o processo, mas o pedido foi negado.
Antes, na segunda (9), o presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão, tentou cancelar a sessão que admitiu o processo de impeachment, em 17 de abril, manobra coordenada pelo Planalto que foi abandonada após ser rejeitada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Renan, que foi aliado de Dilma até os estertores de sua gestão, não votou na sessão, assim como três senadores que se ausentaram: Jader Barbalho (PMDB-PA), em tratamento médico, e Eduardo Braga (PMDB-AM), de licença, e o empresário Pedro Chaves (PSC-MS), suplente de Delcídio do Amaral (ex-PT-MS), cassado na terça (10). Chaves ainda não foi empossado.