O impasse entre os vereadores João César Matogrosso (PSDB) e Otávio Trad (PSD) pelo comando da Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJR) está atrasando a definição de todas as comissões da Câmara Municipal de Campo Grande. Também há um impasse na Comissão de Finanças e Orçamento.
O presidente da Casa, Carlos Augusto Borges (PSB), o Carlão, cobrou que as lideranças definam seus indicados, bem como entrem em um consenso até terça-feira, primeira sessão ordinária da Câmara. A sessão de ontem, de abertura dos trabalhos, teve caráter solene e não houve deliberações.
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A disputa pelo comando da CCJR é protagonizada pelo tucano João César Matogrosso, principal aliado do prefeito Marcos Trad (PSD) nas últimas eleições, e por Otávio Trad, que é sobrinho do chefe do Executivo.
Na legislatura passada, era Otávio quem estava na presidência da comissão. Otávio também lidera a bancada do PSD, a maior da Câmara.
Oxigenação
Para defender sua candidatura, Matogrosso afirmou que a população mandou um recado para o Legislativo municipal na eleição de 2020, quando decidiu trocar 18 dos 29 vereadores.
“Assim como ocorreu no pleito passado e na presidência, com a confirmação do nome do Carlão, eu acredito que na comissão precisa haver também essa alternância, para oxigenar os trabalhos".
"O Otávio é um grande parlamentar e fez um excelente trabalho à frente do colegiado, porém, eu acredito que também posso fazer uma boa gestão no comando da CCJR, já que fui membro dela e tenho conhecimento do andamento”, detalhou.
Apesar do impasse, o tucano acredita que tudo esteja resolvido na terça-feira. No entanto, mesmo afirmando que está lutando para comandar o colegiado, o vereador deixou escapar que “lamenta já saber o desfecho dessa articulação”.
RACHA?
Essa disputa entre Matogrosso e Otávio Trad pode corroborar conversas de bastidores que apontam haver um distanciamento entre o prefeito Marcos Trad e o governador Reinaldo Azambuja (PSDB).
Os dois foram aliados políticos nas duas últimas eleições, em 2018 e 2020. Por exemplo, no último pleito que culminou com a reeleição do atual prefeito de Campo Grande, os tucanos deixaram de lançar uma candidatura própria e apoiaram Trad, o que, para muitos analistas políticos, foi um dos fatores decisivos para que ele se reelegesse no segundo turno.
“Lamentavelmente, eu já sei o resultado de quem e para qual partido vai essa comissão. Eu não concordo que a comissão mais importante da Casa seja a guardiã do prefeito, pois se deve respeitar a independência entre Poderes".
"Eu caminhei ao longo dos últimos quatro anos ao lado do Marcos, bem como na campanha. Ele tem seu capital político, pois soube ser parceiro do governo do Estado, bem como o Estado tem o seu, porque se aproveitou dessa parceria".
"Portanto, não é porque eu esteja à frente da comissão que a prefeitura enfrentaria algum tipo de empecilho para aprovar projetos importantes, pelo contrário”, disse Matogrosso.
Seu adversário na disputa da presidência da CCJR afirmou que é do jogo democrático o partido que tem a maior bancada, como o PSD, que tem seis cadeiras, ter pelo menos dois integrantes em todas as comissões – no caso da CCJR, o vereador Beto Avelar (PSD) e Otávio Trad.
“Em relação à presidência, quem vai decidir será o colegiado. Não abrimos mão de uma única coisa, já que o regimento da Casa contempla a proporcionalidade. Nós como maior bancada temos direito a dois membros”, defendeu Trad, afirmando que a escolha deve ser técnica – ele é advogado.
Prefeito
Em resposta a uma possível pressão por parte do Executivo da Capital na escolha do comandante da CCJR, o prefeito Marcos Trad afirmou ao Correio do Estado que não existe interferência dele nesse jogo político.
“Não há interferência nenhuma da prefeitura em relação ao parlamento municipal, por isso os vereadores falam em suposta ventilação. Contudo, não acredito que nenhum dos 29 vereadores é capaz de se preocupar com pressões externas, não são homens e nem mulher [referindo-se à única vereadora] que se submetem a esse tipo de situação”, rechaçou.