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'Sistemas nacionais de inovação e importância para o desenvolvimento'*

'Sistemas nacionais de inovação e importância para o desenvolvimento'*

Redação

26/03/2018 - 02h00
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Os sistemas de inovação têm se mostrado fundamentais para o desenvolvimento econômico dos países centrais e em especial para países em desenvolvimento. Vários pesquisadores destacam que buscar um sistema nacional de inovação maduro é muito relevante para que determinada economia consiga alcançar o nível de desenvolvimento dos países avançados.

Diversos autores contribuem nessa temática, como Richard R. Nelson, Christopher Freeman, Bengt-Åke Lundvall, Keith Pavitt, Parimal Patel, Eduardo da Motta e Albuquerque... De forma sintética, um Sistema Nacional de inovação é um conjunto de instituições, organizações, entidades e empresas que objetivam contribuir para a criação, absorção e difusão de inovações e tecnologias.

Nessa seara, também é destacada a importância da comparabilidade dos sistemas de inovação. Assim é sugerida uma tipologia em três categorias: i) Sistemas de inovação que capacitam os países a se manterem na liderança do processo tecnológico internacional (sistemas maduros); ii) Sistemas de inovação com objetivo de difusão de inovações (intermediário) e iii) Países cujo sistema de inovação não se completou (incompletos).

Os sistemas maduros são os sistemas de inovação dos principais países capitalistas desenvolvidos. São capazes de manter o país na fronteira tecnológica ou muito próxima dela. Alguns exemplos de países são: EUA, Japão, Alemanha, Inglaterra, França e Itália.

Já os sistemas de difusão são caracterizados pelo elevado dinamismo tecnológicos, pela grande capacidade de difusão, e não pela capacidade de geração tecnológica, alguns exemplos de países são: Suécia, Dinamarca, Coreia do Sul, Taiwan, Holanda e Suíça. Por fim, os sistemas incompletos são países que construíram seu sistema de ciência e tecnologia, mas não transformaram em sistemas de inovação propriamente ditos.

Esses países erigiram uma infraestrutura mínima, porém, dada a pequena dimensão desta estrutura, a sua baixa articulação com o setor produtivo, a pequena contribuição ao setor produtivo não ultrapassam um patamar mínimo para caracterizar um sistema de inovação. Alguns países nesta situação são: Brasil, Argentina, Índia e México.

Deste modo, ao analisar a situação do Brasil, pesquisas indicam que existe uma pequena dimensão relativa do sistema brasileiro (em termos de pessoal envolvido, gastos gerais e composição da estrutura de gasto), uma ineficiência do sistema (em termos de patentes de invenções e publicações científicas) e também ocorre um padrão bastante inferior em relação aos sistemas maduros do envolvimento das empresas com P&D.

Infelizmente, apesar de ocorrer uma melhora em termos absolutos, os trabalhos mais atuais não observam uma melhora relativa do Brasil, sendo assim, a distância com os sistemas maduros ainda é grande.

Desse modo, é de extrema relevância políticas que promovam o Sistema Nacional de Inovação, a fim de favorecer uma maior integração e eficiência nas inter-relações entre governo, universidades, centros de pesquisa, setor privado e fortalecendo a articulação com o setor produtivo.

*Mateus Boldine Abrita - professor da UEMS

EDITORIAL

As bolhas que nos afastam da realidade

Enquanto uma parte do Estado amplia suas zonas de conforto, outra é pressionada a fazer mais com menos, arcando com o desgaste político e social das escolhas difíceis

17/12/2025 07h15

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A expressão “estar em uma bolha” deixou de ser apenas uma gíria de internet para se transformar em um retrato cada vez mais fiel da forma como a sociedade vem se organizando. Nas redes sociais, algoritmos direcionam conteúdos, opiniões e notícias de acordo com preferências previamente identificadas.

O resultado é um ambiente confortável em que quase tudo confirma aquilo que o indivíduo já pensa. Divergir passa a ser exceção e confrontar ideias, um incômodo evitado.

Fora do ambiente digital, a lógica das bolhas também se impõe. O isolamento crescente em condomínios fechados, verticais ou horizontais, reduz o contato cotidiano com o diferente. Ao limitar o convívio, o indivíduo perde a oportunidade de compreender realidades distintas da sua própria.

Torna-se, ao mesmo tempo, mais desconfiado e mais desinformado, conhecendo o mundo mais pelo “ouvir dizer” do que pela experiência direta. A realidade passa a ser filtrada, editada e, muitas vezes, distorcida.

As bolhas criam falsas impressões. Quando se consolidam em grupos, reforçadas pelo sentimento de pertencimento, geram uma perigosa falta de sintonia com o restante da sociedade. Problemas coletivos passam a ser relativizados, minimizados ou simplesmente ignorados.

A empatia dá lugar à autoproteção e o interesse público acaba substituído pela preservação de privilégios.

Nesta edição, mostramos um exemplo concreto dessa desconexão: o aumento do duodécimo para quase todas as instituições de Mato Grosso do Sul, mesmo após um ano marcado por crise financeira, enquanto cresce a sobrecarga sobre o Poder Executivo.

É sobre ele que recai, de forma quase exclusiva, o peso de enfrentar as dores reais da sociedade: da falta de recursos para serviços essenciais às demandas crescentes por saúde, educação, transporte e assistência social.

Essa discrepância orçamentária não é apenas um dado técnico. Ela reforça as bolhas institucionais. Enquanto uma parte do Estado amplia suas zonas de conforto, outra é pressionada a fazer mais com menos, arcando com o desgaste político e social das escolhas difíceis.

Trata-se de um desequilíbrio que aprofunda a sensação de injustiça e distancia ainda mais as instituições da realidade vivida pela população.

Seria desejável que integrantes das instituições que recebem repasses de duodécimo saíssem de suas bolhas. Que vivessem mais intensamente a realidade fora de gabinetes, relatórios e planilhas.

Que entendessem que, em tempos de dificuldades financeiras, reforçar privilégios e ampliar confortos institucionais não é apenas insensível, é socialmente injusto.

Romper bolhas não é simples, mas é necessário. Para indivíduos, para grupos e, sobretudo, para instituições públicas. A democracia e a justiça social exigem mais contato com a realidade concreta e menos acomodação em mundos protegidos. Caso contrário, seguiremos administrando percepções, e não problemas reais.

ARTIGOS

A Interpol e as lições do roubo ao Louvre: quando a cultura exige proteção global

O que alguns insistem em tratar como luxo é, na verdade, expressão de identidade coletiva, memória histórica e soberania cultural

16/12/2025 07h45

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A Interpol é amplamente reconhecida por seus sistemas de avisos e pela atuação no combate ao crime organizado transnacional.

O recente episódio envolvendo o Louvre, porém, recoloca em evidência um ponto ainda subestimado no debate público: crimes não violentos, como o roubo de bens culturais, também demandam tutela internacional qualificada.

O tráfico de obras de arte e de patrimônio histórico segue sendo um delito de baixo risco e alto lucro, alimentado pela opacidade do mercado e pela fragmentação das respostas estatais.

O que alguns insistem em tratar como luxo é, na verdade, expressão de identidade coletiva, memória histórica e soberania cultural. A Interpol parte dessa premissa, ao reconhecer a cultura como interesse jurídico protegido, merecedor da mesma atenção dedicada à vida, à segurança e à integridade física.

Nesse contexto, o Banco de Dados de Obras de Arte Roubadas da organização cumpre papel central: dar rastreabilidade a um mercado em que o patrimônio cultural pode, com facilidade, converter-se em saque.

A existência do banco de dados não é apenas simbólica. Ela permite a identificação de peças subtraídas, inibe a circulação ilícita e oferece suporte técnico às investigações nacionais.

Ainda assim, a eficácia do sistema depende de algo que nem sempre acompanha a velocidade do crime: cooperação internacional efetiva e compartilhamento ágil de informações entre agências de aplicação da lei.

Há espaço evidente para aprimoramentos. A ampliação do banco de dados com atualizações em tempo real, a integração mais ampla de museus, casas de leilão e colecionadores privados, além de protocolos obrigatórios de verificação de procedência, fortaleceriam significativamente o combate ao tráfico ilícito.

Do mesmo modo, penalidades mais rigorosas e treinamento especializado para forças policiais e autoridades alfandegárias são medidas indispensáveis para reduzir a atratividade econômica desse tipo de crime.

O episódio do Louvre serve como alerta. Proteger bens culturais não é capricho elitista nem pauta secundária: é defesa da memória, da identidade e do patrimônio comum da humanidade.

Quando uma obra é roubada, perde-se mais do que um objeto, perde-se um fragmento da história coletiva. A resposta, portanto, precisa ser global, coordenada e à altura desse valor.

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