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Ruben Figueiró: "Um pouco de 'estória'"

Ex-senador da República

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Era o ano de 1953. Ao lado do Nelson Fontoura e do Nelson Trad – ambos hoje de saudosa memória – iniciávamos o curso superior na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, no centenário “Casarão do Catete”, da Universidade do Distrito Federal, a UDF.

Quais todos os jovens da época transbordantes de vitalidade cívica, vocacionados mesmo pela política, desejávamos participar dos movimentos sociais que surgiam decorrentes da recuperação do processo democrático, após os anos turvos da ditadura implantada por Getúlio Dorneles Vargas – o tirano dos pampas – no chamado Estado Novo que vigeu de 1937 a 1945.

Já de início, cada qual manifestou sua preferência partidária: o Nelson Trad engajou-se no PTB, sua paixão imorredoura; o Nelson Fontoura e eu alistamo-nos na UDN, seguindo a tendência de nossas famílias aqui no estado. Definidos partidariamente, fomos fervorosos na defesa do que entendíamos como valores para o nosso País, para a política regional do então Mato Grosso uno. Acima de tudo mantínhamos férreo nosso companheirismo, o Trad no comando do diretório acadêmico Luiz Carpenter da Faculdade e nas ações da União Metropolitana dos Estudantes, cuja liderança era inconteste. A mim e ao Fontoura coube a participação ativa na AME-Associação Mato-Grossense de Estudantes, entidade que na cidade maravilhosa representava os filhos da terra distante, oriundos de todas as regiões do então Mato Grosso e que para lá foram à procura do saber universitário – inexistente na terra natal.

Na AME feria-se anualmente uma apaixonada eleição pelo seu comando entre os “nortistas” (naturais de Cuiabá e de municípios sob sua liderança) e os “sulistas” (de Campo Grande e do extremo sul). A entidade fundada na década de 40 era um feudo político dos nortistas, até que em 1953 os sulistas os destronaram e coube a mim ser eleito seu presidente. Na ocasião leit motiv que fervilhava era a questão quase centenária da divisão do estado de Mato Grosso. Um ideal antigo dos sulistas que ficara esmaecido pelo rigor ditatorial do Estado Novo de Vargas, e ganhou foros de luta revigorante pela ação da juventude acadêmica sul-mato-grossense na então Capital da República, centro das grandes decisões nacionais naqueles anos de explosão democrática.

Nas tradicionais férias universitárias de julho daquele 1953, já com ideia fixa de disputar a presidência da AME, importante alavanca para os ideais divisionistas, tomei um DC-3 da PanAir do Brasil com destino a nossa Cidade Morena. Foram pelo menos cinco horas de viagem, além das paradas técnicas. No trajeto escrevinhei algo sobre a viagem. Aqui aportando visitei o Jornal do Comércio, então o mais importante órgão da imprensa do sul do estado. Seu diretor e redator-chefe era não menos o consagrado professor José Barbosa Rodrigues, cuja memória reverencio como uma das personalidades mais relevantes que aqui engrandecem a nossa ainda juvenil e já fecunda história.

O professor Barbosa Rodrigues não só abriu o rodapé da primeira página do jornal para o meu artigo, engajou-se na campanha dos estudantes sulistas pela divisão do estado, como deu sequência do seu nobre gesto – e com mais vigor – quando assumiu a direção do nosso CORREIO DO ESTADO – gesto que jamais olvidarei.