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Ruben Figueiró: "Eta, bagunça! A precaução do Dutra. A lição de Schopenhauer"

Ex-senador da república

Redação

01/06/2017 - 02h00
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Encontrei-me com um velho amigo, mais ou menos de minha era, homem simples que sempre mourejou a terra, em vida sólita como soe ser a rural, mas que graças à antena parabólica de sua televisão tem permanentemente as notícias frescas de nosso país e do mundo. Disse-me estarrecido com as notícias que vêm de Brasília – Eta, que bagunça! 

Das lamentáveis notícias, algumas surpreendentes, pareceu-me mais atualizado do que eu. Deu-me inclusive algumas “dicas”. Já acostumado a  assistir às transmissões do Senado (desde meu tempo de senador, não perdia uma), elogiou o discurso da senadora Simone Tebet na tumultuada sessão do dia 24, não só pela erudição de seus conceitos como ao pedir aos seus pares ponderação em suas palavras e atitudes face à gravidade da crise.

Meu amigo está convencido de haver uma carência de lideranças com saber e autoridade capazes de conduzir o País à normalidade de suas instituições, para tirá-lo da bagunça reinante. Na sua humilde argumentação, demonstrando porém atualizado e com exemplos do passado (viveu as crises de 1945, 1954, 1960, 1964, 1967, as diretas de 1984, 1992 e a recente de 2016) que o bom senso está no respeito à Constituição.

A propósito, lembro-me daquela máxima do presidente Eurico Gaspar Dutra (1946 a 1951) ao receber um documento para assinar, cauteloso, indagou seus assessores: “O que diz o livrinho (a Constituição)?”. Ou seja, nada a fazer, praticar, que fira a Lei Maior.  Pelo que se tem presenciado no curso destes tempos obumbrados, trombadas, esbarros, golpes baixos têm sido frequentes a ela. É recente o incidente que abalou a imagem cidadã de nosso presidente, o que me fez recordar a célebre lição do filósofo nascido em Dantzig, no antigo Reino da Prússia, Arthur Schopenhauer, de que “o homem tem no dia pelo menos 15 minutos de bobeira”. Talvez no decorrer daqueles minutos acontecera a queda mental de nosso presidente ao receber o falastrão da JBS, que agora tantas dores de cabeça tem lhe dado, e a frustração de numerosa parcela da opinião pública.

Não creio em soluções tidas como milagrosas como os pregoeiros de quanto mais instabilidade política, mais carga elétrica de raios sobre as estruturas de nossa ainda jovem democracia, cujas colunas de concreto suportaram a crise de ontem (2016) e açoitam a atual. Não creio em impeachment, não creio em renúncia, eis o destemor do presidente, mas não ouso duvidar dos abalizados fundamentos jurídicos e factuais contidos no parecer do ministro-relator do Superior Tribunal Eleitoral (STF).