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Ruben Figueiró: "Em terreno sáfaro"

Ex-senador da República

Redação

22/07/2017 - 01h00
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Lembro FHC que foi presidente da República e ainda hoje diante do que tem ocorrido com os que os sucederam ainda é considerado como referência: “a medida que vamos ficando mais velhos, convivemos cada vez mais com a memória”.

Nestes anos tão obumbrados na política nacional, onde até os carneiros se estranham, que dizer dos lobos esganados a tripa forra nas burras do tesouro público.

Numa espécie de consolo tenho com frequência voltado a memória para o passado, dos bons tempos da juventude quando mais inflamados eram os desejos de um dia participar ativamente das peleias públicas.

Lembro-me, já universitário na busca das fontes limpas da doutrina política frequentado os palácios Tiradentes e Monroe (respectivamente antigas sedes da Câmara dosa Deputados e do Senado Federal).

Assistindo às sessões muito aprendi nos discursos de eminentes parlamentares fluentes em suas mensagens de saber e erudição política. Ouvia-os com atenção e profundo respeito.

Na época despontavam-se grandes oradores. Lembro-me de alguns como Afonso Arinos de Melo Franco, Alberto Deodato, Aliomar Baleeiro - estes também meus mestres na faculdade de direito da UDF ( o tradicional casarão do catete) - Gustavo Capanema, Vieira de Melo, este digladiando com as mesmas armas da oratória com o carbonário Carlos Lacerda; Flores da Cunha com suas tiradas gauchescas ( quem come carne que roa o osso).

Daqui da terra, as oratórias flamantes de José Fragelli, e Argemiro Fialho, as ponderações de Dolor de Andrade e João Ponce de Arruda. Deles todos hauri conhecimentos pelas suas trajetórias de extrema inteligência e diligência política. 

Até quando assumi a cadeira de deputado federal no final da década de 70, fazendo parte da primeira representação de nosso novel estado, convivi com alguns daqueles expoentes oriundos de uma constelação de homens públicos que estava rareando na arena da política nacional e que deixaram seus rastros que jamais serão esquecidos pelo saber, inteligência e de cidadania prestantes à pátria.

Eram raríssimos os escândalos partidos da classe política. Me recordo apenas do fantasmagórico deputado Barreto Pinto defenestrado por acinte ao decoro parlamentar. No executivo sim, e guardadas as proporções e os limites do tempo, tenho que foram minúsculos diante da farra escandalosa encontrada nos propinodutos da era lulopetista, desnudada pela Operação Lava-Jato de repercussão internacional.

Parafraseando Plínio, o antigo, lendário da república romana, sou a cada dia que passa mais saudoso do passado. Sem ambição política e consciente de minhas limitações, pisando em terras sáfaras (pedregosas) sou teimoso ainda na perseguição dos ideais que veem da já longínqua mocidade.

PS . Registro com profundo pesar o falecimento de dois proeminentes cidadãos que tiveram marcante atuação na vida pública de Mato Grosso uno: O professor Aecim Tocantins e o advogado Walter Faustino Dias.

Aecim fechou os olhos para sempre aos 94 anos em Cuiabá, sua terra natal, onde exerceu missões importantes, tais como prefeito, secretário de estado, chefe da casa civil do governo José Fragelli, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado e também foi titular da Comissão Especial do governo do presidente Geisel quando dos estudos para a divisão territorial do Estado de Mato Grosso, de 1975 a 1977, quando pela Lei Complementar nº 31 foi criado Mato Grosso do Sul. Na vida privada teve destacada atuação como contabilista emérito.

Já o dr. Walter Faustino Dias, filho ilustre de tradicional família de Santana do Paranaíba, histórica cidade e ponto de entrada para a colonização da região sul do antigo Mato Grosso, faleceu com vetusta idade.

Teve realce como um dos autênticos líderes da região do bolsão, divisionista de primeira hora ainda em vida viu vitoriosa a sua luta pela criação do novo estado – Mato Grosso do Sul. Foi deputado estadual quando da elaboração da primeira carta constitucional do estado, após a queda do Estado Novo do ditador Getulio Vargas; foi procurador chefe do Ministério Público Estadual no governo de José Garcia Neto.

Voltando a residir em sua terra natal, Paranaíba, manteve acesa a sua preocupação com os destinos de nosso estado e do Brasil, pela respeitabilidade de sua vida digna sempre teve merecida a sua opinião.

Fui amigo, admirador e companheiro dos dois, Aecim Tocantins e Walter Faustino, irmanados pelos mesmos ideais em memoráveis pugnas eleitorais e políticas. Descansem em paz, com a consagração dos que os conheceram.

ARTIGO

Tarifa social é tendência global

10/04/2024 07h30

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À medida que avançamos em 2024, é notável o aumento no número de cidades brasileiras adotando políticas de tarifa social no transporte público. Este movimento marca um avanço significativo na busca por uma mobilidade urbana mais inclusiva.

Um levantamento da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) mostra que o país tem 103 municípios, distribuídos por 14 estados e o Distrito Federal, que aderiram à prática, seja de forma universal (sete dias por semana), em dias específicos (aos domingos, por exemplo) ou para grupos em particular (como idosos, pessoas com deficiência e estudantes). São Paulo e Minas Gerais lideram a lista, com 29 e 26 municípios, respectivamente.

Vem crescendo o debate e as iniciativas que visam democratizar a mobilidade para o exercício da cidadania e a participação da vida política e cultural da cidade. No Enem 2023, 15 capitais do país ofereceram transporte público gratuito para garantir o acesso de todos os candidatos à prova. No segundo turno das Eleições 2022, 13 estados e o Distrito Federal também deram passe livre para os eleitores. No ano passado, Campinas (SP) deu exemplo no “Dia D” de vacinação de crianças e adolescentes, facilitando o acesso à saúde por meio da tarifa social.

Essas tendências respondem a um desafio crítico de mobilidade urbana, exacerbado pelo crescimento no uso do automóvel privado e pelo subfinanciamento do transporte público, levando a um aumento dos congestionamentos, da poluição e da desigualdade social, como aponta o pesquisador e jornalista pós-graduado pela PUC/SP, Daniel Santini, no livro “Passe Livre: as Possibilidades da Tarifa Zero contra a Distopia da Uberização”.

Só na cidade de São Paulo, o trânsito perdeu 1 bilhão de passageiros nos ônibus entre 2013 e 2022. Buscando atrair a população de volta ao transporte coletivo, a prefeitura criou a iniciativa “Domingão Tarifa Zero”, que dá gratuidade às viagens de ônibus aos domingos, no Natal, em 1º de janeiro e no aniversário da cidade (25 de janeiro). Com o slogan “Explore, descubra, viva São Paulo”, o governo espera ampliar o acesso ao lazer e contribuir para a economia do município. No primeiro domingo com isenção de tarifa, o número de passageiros em São Paulo aumentou 35%, de acordo com dados da prefeitura.

Tallinn, capital da Estônia, é um ótimo exemplo de implantação de tarifa social, que varia de preço conforme o tempo que o passageiro pretende usar o transporte e também das atividades que pretende realizar. Com € 2 é possível utilizar o transporte público por uma hora. Pagando € 5,50, esse período aumenta para 24 horas, e por € 30, garante-se 30 dias de transporte. A tarifa mais cara (Tallinn Card, por € 78) inclui 72 horas de transporte e entrada gratuita em todos os museus e pontos turísticos da cidade.

Estudos econômicos sugerem que a tarifa social, quando bem implementada, pode ajudar a equilibrar o sistema de transporte público, ao moderar a demanda e incentivar um uso mais racional do sistema. Além disso, análises de sistemas de transporte em cidades europeias, como Tallinn, revelam que a tarifa social, não apenas aumenta o acesso ao transporte, mas também contribui para uma melhoria geral na qualidade do serviço. Além disso, essa associação benéfica a outros setores da cidade, como as atividades culturais, gera a inclusão tanto de moradores da cidade em ações que talvez não pudessem estar inclusos, como beneficia o turismo local, podendo gerar mais renda para a cidade como um todo — em especial as mais turísticas.

 Lá fora há outras cidades atentas. Chama a atenção o caso dos EUA, que tem uma forte cultura automobilística e onde a posse de um carro está mentalmente associada a progresso, independência e ao “sonho americano”. No país onde o carro próprio é o desejo de todo jovem-adulto, Kansas City (Missouri) é conhecida por ser a primeira cidade a implementar a tarifa zero no transporte público, em 2017. Mostrando que esse é um sistema benéfico para a população, ao longo dos anos, vimos algumas cidades aderirem à ideia, como São Francisco, na Califórnia. Já em 2023, houve um salto: 25 cidades de estados como Washington, Colorado, Ohio, Virgínia, Nova Jersey, Oregon e Carolina do Norte começaram a fazer testes de tarifa zero, incluindo Boston (Massachusetts) e Nova Iorque.

Na China temos a maior experiência de incentivo social já realizada em todo o mundo, em Chengdu, a cidade dos pandas-gigantes, uma metrópole com mais de 20 milhões de habitantes. Em 2012, Chengdu liberou os passageiros do pagamento das viagens de ônibus até as 7 horas da manhã, com o objetivo de diminuir o congestionamento. Hoje, mais de dez anos depois, 116 linhas são gratuitas durante todo o dia e as restantes saem parcialmente gratuitas por meio do bilhete eletrônico.

O Brasil já possui as tecnologias necessárias para uma ampla e bem-sucedida adesão à tarifa social, garantindo transparência e confiabilidade nas operações. A bilhetagem eletrônica oferece um controle preciso sobre o fluxo de passageiros. Aliada a avanços como validadores com biometria facial e telemetria, a bilhetagem eletrônica poderia garantir uma transição suave rumo à maior adoção da tarifa social, com autenticação segura e geração de informações detalhadas para relatórios, evitando erros e fraudes no sistema. Em Florianópolis, por exemplo, a tecnologia por trás do transporte público foi fundamental para a isenção correta da tarifa nos dias determinados pela prefeitura.

Para que o país abrace definitivamente essas ideias, precisamos de um programa nacional de apoio às novas tarifas para garantir a sustentabilidade financeira do sistema. O envolvimento dos governos estaduais e federal é imperativo para fornecer subsídios, evitando prejuízos tanto para os municípios quanto para as empresas e operadoras do setor de transporte público, além de proporcionar mais qualidade de vida para a população.


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Crise na Bolsa de Valores? Um alerta para a economia

10/04/2024 07h30

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À medida em que a economia brasileira enfrenta um período turbulento e os sinais de alerta começam a piscar, a Bolsa de Valores assume um papel crucial na identificação desses sinais.

Recentemente, a fuga de investidores estrangeiros da B3 atingiu seu pior nível desde o início da pandemia, somando-se aos desafios econômicos que o Brasil enfrenta. Esse fenômeno não deve ser encarado como uma mera flutuação do mercado, mas como um indicador sério da necessidade de revisão das políticas econômicas do governo.

No último dia de março, os investidores estrangeiros retiraram um total de R$ 5,547 bilhões da B3, acumulando um resultado negativo de R$ 22,897 bilhões no ano. Essa tendência descendente é um sinal alarmante, refletindo a perda de confiança dos investidores estrangeiros na economia brasileira. Para um país que busca atrair investimentos e impulsionar o crescimento econômico, essa fuga de capital é profundamente preocupante.

Os investidores institucionais e individuais também demonstraram certa cautela em relação ao mercado de ações brasileiro (retirada de R$ 300 milhões). As instituições financeiras também não escaparam desse movimento, retirando R$ 13 milhões da Bolsa de Valores no mesmo período.

Um dos principais fatores que contribuíram para essa crise na bolsa é a interferência do governo Lula em empresas estatais e privadas. A instabilidade gerada por essas intervenções afeta negativamente a confiança dos investidores, prejudicando o desempenho do mercado de ações. A Petrobras e a Vale são exemplos claros dessa conduta, com o governo exercendo pressão em suas operações e decisões estratégicas.

Além disso, a Eletrobras encontra-se atualmente no centro das atenções, já que o governo expressa sua intenção de reverter a privatização estabelecida pelo governo anterior. Essa incerteza em relação às políticas governamentais cria um ambiente instável para os negócios, desencorajando potenciais investidores e contribuindo para a saída de capital da Bolsa de Valores.

 É crucial que o governo reavalie sua abordagem em relação às estatais e privadas, adotando uma postura mais transparente e pró-mercado. A estabilidade e a previsibilidade são fundamentais para atrair investimentos e promover o crescimento econômico sustentável. Caso contrário, corremos o risco de ver mais investidores estrangeiros se afastando do mercado brasileiro, agravando ainda mais nossa situação econômica.

 Em tempos de incerteza, é essencial que o governo adote medidas proativas para restaurar a confiança dos investidores e promover um ambiente de negócios favorável ao crescimento econômico. Caso contrário, o Brasil corre o risco de perder oportunidades de investimento e enfrentar consequências econômicas ainda mais severas no futuro.

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