O Prosul, Fórum para o Progresso da América do Sul, foi criado no dia 22 de março último, em Santiago do Chile, a partir de iniciativa liderada por Chile e Colômbia, que contou com a adesão de Brasil, Argentina, Equador, Paraguai, Peru e Guiana. Bolívia, Uruguai e Suriname participaram apenas como observadores. A Venezuela não foi convidada. O fórum, aberto a todos os países sul-americanos e sem ideologias, nas palavras do anfitrião, o presidente chileno Sebastián Piñera, teria uma única condição para a adesão: o respeito aos direitos humanos e o compromisso com a democracia.
A iniciativa é legítima, pois advém de governos eleitos democraticamente, que prezam pela defesa dos direitos humanos e pela tradição do direito internacional público. Um dia antes do encontro, o chanceler Ernesto Araújo, em coletiva à imprensa na qual fez um balanço da viagem de Bolsonaro aos Estados Unidos, mencionou que o Brasil deveria anunciar a saída da Unasul, de forma coordenada com outros países do grupo. Em suas palavras, “gostamos muito da ideia de substituir a Unasul por outro bloco. A Unasul é um órgão falido, que foi capturado e com vício de origem [provavelmente uma referência ao bolivarianismo], que não conseguiu avançar na integração física entre os países. Não construiu um quilômetro de rodovia”.
Com efeito, maior aproximação com o Chile, Colômbia e Peru, países tradicionalmente mais vinculados à economia norte-americana e que em geral adotam políticas econômicas de viés liberal, poderá reposicionar o Brasil na América do Sul e abrir mercados na região do Pacífico, incluindo as regiões mais dinâmicas da Ásia. O Prosul, nessa perspectiva, não é somente uma iniciativa legítima, mas também estratégica.
Jair Bolsonaro negou, em Santiago, que a criação do Prosul é um “recado” para a Venezuela, ou seja, a motivação não foi criar um fórum de coordenação política de oposição a Caracas e sim afirmar uma nova orientação para a política sul-americana do Brasil, mais próxima da tradição do país. Não obstante, reconheceu que a Unasul deixara de ter papel positivo na região: “A Unasul era um nome de fantasia do Foro de São Paulo”, em referência à organização que congrega partidos de esquerda do continente.
A criação do Fórum para o Progresso da América do Sul suscitou dúvidas quanto à possibilidade de uma ação mais assertiva dos Estados Unidos em relação à Venezuela, com apoio dos países sul-americanos. Indagado sobre o tema, o Presidente brasileiro afastou a possibilidade de o Brasil apoiar quaisquer ações militares contra o país caribenho. Depreende-se das manifestações de nossas autoridades que o governo brasileiro está em sintonia com os princípios que regem a diplomacia brasileira para a região desde a gestão do Barão do Rio Branco, para quem “toda a nossa vida como estado livre e soberano atesta a moderação e os sentimentos pacíficos do povo brasileiro, em perfeita consonância com a índole e a vontade da nação”.
Na visão de José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Rio Branco – referência da diplomacia brasileira de ontem e de hoje –, “trabalhamos sempre por estreitar nossas boas relações com as nações do nosso continente e particularmente com as que nos são mais vizinhas”.
A iniciativa de criação do Prosul é legítima, estratégica, e condizente com os valores mais caros da tradição diplomática do país!