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Rolemberg Estevão de Souza: "Hélio Jaguaribe: o saudoso entusiasta de um Brasil melhor"

Diplomata

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Nosso homenageado ocupa e seguirá ocupando um lugar de destaque no panteão da intelectualidade brasileira. Lugar que poucos conseguiram preencher e honrar. Ao longo de sua trajetória de vida, semeou ideias e zelou para a construção de um consenso mínimo em nossa sociedade, em torno da modernização, da democracia e do desenvolvimento socioeconômico em sentido amplo. Como país liberal e progressista, o Brasil deveria trilhar o caminho da industrialização, única alternativa em um contexto de crescimento populacional e urbano acelerado. À época do governo JK, que catalisou o País no rumo do desenvolvimento, a colaboração de Hélio Jaguaribe se fez por meio de sua atuação no Iseb, ao lado de intelectuais como Antônio Cândido, Carlos Estevam Martins, Cândido Mendes, Nelson Werneck Sodré, entre muitos outros.

Hélio Jaguaribe considerava que o Brasil reunia condições ótimas para alcançar o desenvolvimento, mas que, em meio à conjuntura da Guerra Fria e à herança das estruturas oligárquicas do País, deparava-se com o desafio da construção de um projeto nacional. Em suas palavras, “daí o dilema que ora se apresenta ao nacionalismo brasileiro e ao projeto de nação nele implicado: ou alcança uma formulação mais consistente e suficientemente elaborada, e determina o curso subsequente de nossa história, ou malogra, desaparecendo, com seu insucesso, a condição mesma de o povo brasileiro realizar uma história nacional”.

(O nacionalismo na atualidade brasileira, 1958). Enquanto JK se ocupava da dimensão política e econômica do desenvolvimento, ao Iseb caberia – e não somente a ele – suporte ideológico do desenvolvimento, resumido no lema “Desenvolvimento para todos”. Agnóstico convicto, nunca deixou de se preocupar com cada brasileiro (a).

Frustrado com os acontecimentos políticos do País após o quin-quênio de Juscelino, Hélio Jaguaribe não abandonou sua convicção de que a burguesia nacional brasileira deveria ser a vanguarda do crescimento econômico e o principal suporte de um Estado neobismarckiano. Em sua perspectiva reformista, considerou o regime militar implantado em 1964 uma expressão do atraso do País, ou seja, um regime colonial-fascista. Porém, após o chamado milagre econômico (1969-1973), período no qual o País cresceu a uma taxa média de 11,2%, revelou-se satisfeito com os resultados alcançados pelo regime, atenuando as críticas anteriores, a ponto de relevar a ideia de ditadura, à luz da alternância de governantes no período.

Não obstante, a redemocratização contribuiria para manter e aprimorar os ganhos econômicos do período, antecipando elogios que a política econômica do regime militar receberia no período democrático atual, à direita e à esquerda.

Tendo nos deixado no dia 9 de setembro, Jaguaribe nos legou, por meio do conjunto de sua vasta obra, lições relevantes para a compreensão do Brasil dos dias de hoje. Fiel aos princípios liberais, sabia que a economia dependia da liberdade dos agentes e do ordenamento do Estado, em um regime de propriedade privada, “condição de eficiência e de produtividade econômica, pois de tal propriedade depende a gestão, também privada, das empresas e da economia de mercado”. A liberdade empresarial e política, juntamente à coordenação do Estado e à construção de um projeto nacional, seriam elementos fundamentais na construção de um projeto nacional.

Venho, à luz dos ensinamentos do mestre Hélio Jaguaribe, a quem tive a oportunidade de entrevistar por ocasião de minha tese apresentada ao Instituto Rio Branco sobre a Operação Pan-Americana de Juscelino Kubitschek, que o leitor e a leitora destas linhas atente-se para a necessidade superarmos a polarização política, os ódios e as interpretações apressadas que temos tido em nossa sociedade. Temos valores e princípios que permitem a nós a boa convivência, o trabalho árduo, a participação política dialógica.

A Hélio Jaguaribe, nossos agradecimentos pela maestria com que imaginou um Brasil melhor e com a qual as teceu relações entre liberalismo, nacionalismo e desenvolvimento para todos.