A educação é sempre lembrada em períodos de dificuldades econômicas, crises políticas e insatisfação da sociedade como a panaceia para esses e outros males. Surge então uma torrente de ideias, sugestões de ação, metodologias coletadas ad hoc e políticas públicas, em geral construídas sem o devido conhecimento, preparação adequada e objetivos bem estabelecidos.
O Ministério da Educação lançou, em outubro de 2017, a Política Nacional de Alfabetização, com o objetivo de enfrentar os desafios advindos dos índices praticamente estagnados da Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA). A política é conformada por um conjunto de iniciativas que envolvem a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a formação de professores, o protagonismo das redes e o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Uma novidade anunciada naquela ocasião foi a criação do Programa Mais Alfabetização, com o compromisso de atender, a partir de 2018, 4,6 milhões de alunos. Entre os instrumentos adotados foi destacada a presença de assistentes de alfabetização, trabalhando em conjunto com os professores em sala de aula, o que parece ser uma medida alvissareira.
O Estado de Mato Grosso do Sul não está entre os de pior desempenho no País. Dados de 2016 indicavam que o estado tinha uma taxa de 93,7% de alfabetização, atrás do Distrito Federal (97,4), Rio de Janeiro (97,3%), Santa Catarina e São Paulo (97,2%), Rio Grande do Sul (96,8), Paraná (95,5%), Amapá (95%), e Espírito Santo e Minas Gerais (93,8). Na última posição se encontrava Alagoas, com 80,6%. Os dados, ainda que tenham oscilado no último ano, nos fornecem uma boa noção da posição de Mato Grosso do Sul no conjunto da nação. Esse desempenho, porém, não é suficiente. Há sete anos, segundo reportagem do respeitado jornal Correio do Estado, nos encontrávamos em melhor situação, com 7,6% da população não alfabetizada, atrás do Distrito Federal, Santa Catarina, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná.
O que observamos ao longo de nossa trajetória na carreira diplomática, no Brasil e em outros países, é que a diferença em relação aos “casos de sucesso” como a Coreia do Sul, os demais “tigres asiáticos” (Cingapura, Hong Kong e Taiwan) e, mais recentemente outros países da Ásia, incluindo a China, é que nossos projetos carecem de clareza de propósitos, identificação de instrumentos e métodos a eles adequados e a valorização efetiva de professores e demais agentes da educação. No caso de Mato Grosso do Sul, conforme identificado pela professora Ana Lúcia Espíndola (Revista Intermeio 6 – UFMS), entre a redemocratização dos anos oitenta e ao longo dos anos noventa diversos projetos acabaram apresentando resultados limitados. A razão principal seria o distanciamento entre a reformulação dos aspectos metodológicos e a reflexão sobre a origem dos problemas educacionais. Não nos parece que tal distanciamento tenha sido superado.
Longe de sermos especialistas em Educação, mas com experiência de vida suficiente para sugerirmos, modestamente, um caminho, pensamos que é necessário desencadear amplo diálogo com a sociedade para estabelecermos metas amplas para 10, 20 e 30 anos, incluindo os setores menos favorecidos da sociedade, respeitando suas diversidades, e fazendo uso criterioso de novas tecnologias, sem desconhecer que o (a) professor (a) bem formado e com condições adequadas de trabalho, incluindo assistentes igualmente capacitados, são requisitos indispensáveis. No mais, nossas autoridades deverão demonstrar que o priorizar a educação não pode se restringir ao discurso e a projetos de pouca eficiência.
Para as crianças, a alfabetização é o despertar de todas suas potencialidadades, para jovens e adultos, a ampliação da cidadania e o acesso ao trabalho!