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Roberta D'Albuquerque: "Festa para quem é de festa"

Roberta D'Albuquerque: "Festa para quem é de festa"

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Quando as meninas eram ainda muito novinhas, almoçávamos em um restaurante italiano perto de nossa casa, quando vimos uma cena que nos deixou 'a todos' entre o espanto e o riso. A uma certa altura do almoço, os garçons entraram em fila no salão, cada um segurando duas ou três bandejas de metal nas mãos. Eles se aproximaram da mesa ao lado da nossa e, entre gritos e aplausos do restante da equipe, jogaram a uma só vez as bandejas no chão. O barulho ensurdecedor antecedeu um parabéns pra você endereçado a um aniversariante – tadinho, meu deus – pego assim meio de calças curtas diante da homenagem peculiar.

Desde aquele dia, sempre que o aniversário de alguém se aproxima, ameaçamos brincando que o almoço de comemoração será no italiano. Para mim, que mesmo no parabéns pra você cantado em casa já experimento algum desconforto, essa cena equivale a visão do inferno. Por isso a graça da ameaça. Imaginei que qualquer ser humano sentisse algo parecido.

Corta para ontem à noite. Era aniversário de minha filha mais nova. Na sexta-feira, já tínhamos cantado parabéns em uma festa surpresa lindamente organizada por um grupo querido de amigos. Estávamos finalizando as comemorações em um restaurante japonês, pequeno e discretinho. Na hora de pedir a sobremesa, ela anunciou que queria uma vela e eu expliquei que ali, provavelmente, não haveria nenhuma disponível, que normalmente as pessoas trazem seus bolos e velas de casa, e que o lugar não se prestava a esse tipo de movimento. Ela insitiu, pediu que eu pelo menos perguntasse. E eu perguntei, já soltando um "se não tiver, não tem problema". A garçonete devolveu dizendo que faria o possível. Avisei que era o caso de soprar a velinha somente e ela concordou contente.

Assim que a sobremesa encostou na mesa, com vela de estrelinha e tudo, garçons seguidos dos outros ocupantes do restaurante, até então silenciosos, bateram palmas e cantaram para a minha menina. Uma festa para ela que é também festa. Que provavelmente riu naquele dia do italiano não por espanto e sim do meu espanto. Viva Sofia que escolheu ser diferente de nós, que não tem medo de correr atrás do seu desejo seja no barulho ou no silêncio. Que bonito ser assim minha filha, viva!