Artigos e Opinião

ARTIGO

Pedro Chaves: "110 anos da Imigração Japonesa para o Brasil"

Senador da República

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Considero muito importante refletir sobre os 110 anos da imigração japonesa para o Brasil evento considerado relevante, pois os nipônicos e seus decentes tiveram e tem fundamental papel em todas as dimensões da sociedade brasileira.

A história registra que no dia 18 de junho de 1908 aportou em Santos, São Paulo, o famoso navio Kasato Maru que havia partido da cidade de Kobe, Japão, transportando 781 imigrantes, viagem que durou 52 dias.

Esse processo imigratório foi possível em função do Tratado de Comércio, Amizade e Navegação entre o Japão e o Brasil, assinado em 1895, em Paris, iniciativa que se mostrou muito acertada para os dois países.  O Brasil demandava mão-de-obra livre para trabalhar, principalmente nas fazendas de café em  São Paulo, e o  Japão padecia com elevada pressão demográfica naquela quadra histórica.  

O sucesso da iniciativa, mesmo com os problemas de adaptação e ausência de Leis Trabalhistas para regular as relações de trabalho entre as empresas contratantes e o trabalhador imigrante, os japoneses continuaram chegando ao Brasil para participarem do processo de desenvolvimento econômico e social do campo e da cidade. Estima-se que, entre 1908 e 1935, quase 200 mil nipônicos desembarcaram no Brasil. 
Depois de pouco tempo no país, por conta da sua eficiência e grande disposição para o trabalho, os japoneses começaram a adquirir terras e ou trabalharem como profissionais liberais nas cidades. Esse é um momento importante porque eles começaram a explorar oportunidades em outros estados da federação. 

O Sul de Mato Grosso, por exemplo, recebeu muitas famílias nipônicas vindas principalmente da Ilha de Okinawa. Algumas entraram pelo Porto de Santos e outras pela cidade de Corumbá via  Bacia do Rio da Prata. Parte dessas famílias, a partir de 1912, trabalharam na construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil que tinha como ponto de ligação dos trilhos a cidade de Campo Grande. Outro grupo preferiu trabalhar na produção de pequenos animais e hortas. Durante muitas décadas a produção de verduras e legumes em Campo Grande era liderada por famílias japonesas. 

Desde de adolescente tenho o prazer de conviver com japoneses ou com seus descendentes. Sou testemunha da importância deles para a economia e a cultura do Brasil e do Mato Grosso do Sul. 

São muitas as cidades brasileiras em que a força da cultura japonesa está presente com justo e merecido destaque. Isto é motivo de muito orgulho de um povo que com paciência, competência e tradição se integrou a cultura e a economia nacional de forma brilhante e singela. 

Quem vai a Feira Central ou ao Mercado Central de Campo Grande, minha cidade, se encanta com as iguarias da Terra do Sol Nascente.  Há exatamente 110  anos temos o orgulho de conviver e aprender com  eles.

Sou admirador da cultura japonesa.  Frequento com regularidade o Clube Nipo Brasileiro de Campo Grande. Domingo (17) estive no evento em que a comunidade japonesa e convidados celebraram a imigração.

Em nome do presidente do Clube Nipo Brasileiro, Jorge Gonda, parabenizo toda comunidade japonesa e desejo todo sucesso do mundo  aos irmãos e irmãs que escolheram o Brasil para morar e trabalhar. 

EDITORIAL

As bolhas que nos afastam da realidade

Enquanto uma parte do Estado amplia suas zonas de conforto, outra é pressionada a fazer mais com menos, arcando com o desgaste político e social das escolhas difíceis

17/12/2025 07h15

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A expressão “estar em uma bolha” deixou de ser apenas uma gíria de internet para se transformar em um retrato cada vez mais fiel da forma como a sociedade vem se organizando. Nas redes sociais, algoritmos direcionam conteúdos, opiniões e notícias de acordo com preferências previamente identificadas.

O resultado é um ambiente confortável em que quase tudo confirma aquilo que o indivíduo já pensa. Divergir passa a ser exceção e confrontar ideias, um incômodo evitado.

Fora do ambiente digital, a lógica das bolhas também se impõe. O isolamento crescente em condomínios fechados, verticais ou horizontais, reduz o contato cotidiano com o diferente. Ao limitar o convívio, o indivíduo perde a oportunidade de compreender realidades distintas da sua própria.

Torna-se, ao mesmo tempo, mais desconfiado e mais desinformado, conhecendo o mundo mais pelo “ouvir dizer” do que pela experiência direta. A realidade passa a ser filtrada, editada e, muitas vezes, distorcida.

As bolhas criam falsas impressões. Quando se consolidam em grupos, reforçadas pelo sentimento de pertencimento, geram uma perigosa falta de sintonia com o restante da sociedade. Problemas coletivos passam a ser relativizados, minimizados ou simplesmente ignorados.

A empatia dá lugar à autoproteção e o interesse público acaba substituído pela preservação de privilégios.

Nesta edição, mostramos um exemplo concreto dessa desconexão: o aumento do duodécimo para quase todas as instituições de Mato Grosso do Sul, mesmo após um ano marcado por crise financeira, enquanto cresce a sobrecarga sobre o Poder Executivo.

É sobre ele que recai, de forma quase exclusiva, o peso de enfrentar as dores reais da sociedade: da falta de recursos para serviços essenciais às demandas crescentes por saúde, educação, transporte e assistência social.

Essa discrepância orçamentária não é apenas um dado técnico. Ela reforça as bolhas institucionais. Enquanto uma parte do Estado amplia suas zonas de conforto, outra é pressionada a fazer mais com menos, arcando com o desgaste político e social das escolhas difíceis.

Trata-se de um desequilíbrio que aprofunda a sensação de injustiça e distancia ainda mais as instituições da realidade vivida pela população.

Seria desejável que integrantes das instituições que recebem repasses de duodécimo saíssem de suas bolhas. Que vivessem mais intensamente a realidade fora de gabinetes, relatórios e planilhas.

Que entendessem que, em tempos de dificuldades financeiras, reforçar privilégios e ampliar confortos institucionais não é apenas insensível, é socialmente injusto.

Romper bolhas não é simples, mas é necessário. Para indivíduos, para grupos e, sobretudo, para instituições públicas. A democracia e a justiça social exigem mais contato com a realidade concreta e menos acomodação em mundos protegidos. Caso contrário, seguiremos administrando percepções, e não problemas reais.

ARTIGOS

A Interpol e as lições do roubo ao Louvre: quando a cultura exige proteção global

O que alguns insistem em tratar como luxo é, na verdade, expressão de identidade coletiva, memória histórica e soberania cultural

16/12/2025 07h45

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A Interpol é amplamente reconhecida por seus sistemas de avisos e pela atuação no combate ao crime organizado transnacional.

O recente episódio envolvendo o Louvre, porém, recoloca em evidência um ponto ainda subestimado no debate público: crimes não violentos, como o roubo de bens culturais, também demandam tutela internacional qualificada.

O tráfico de obras de arte e de patrimônio histórico segue sendo um delito de baixo risco e alto lucro, alimentado pela opacidade do mercado e pela fragmentação das respostas estatais.

O que alguns insistem em tratar como luxo é, na verdade, expressão de identidade coletiva, memória histórica e soberania cultural. A Interpol parte dessa premissa, ao reconhecer a cultura como interesse jurídico protegido, merecedor da mesma atenção dedicada à vida, à segurança e à integridade física.

Nesse contexto, o Banco de Dados de Obras de Arte Roubadas da organização cumpre papel central: dar rastreabilidade a um mercado em que o patrimônio cultural pode, com facilidade, converter-se em saque.

A existência do banco de dados não é apenas simbólica. Ela permite a identificação de peças subtraídas, inibe a circulação ilícita e oferece suporte técnico às investigações nacionais.

Ainda assim, a eficácia do sistema depende de algo que nem sempre acompanha a velocidade do crime: cooperação internacional efetiva e compartilhamento ágil de informações entre agências de aplicação da lei.

Há espaço evidente para aprimoramentos. A ampliação do banco de dados com atualizações em tempo real, a integração mais ampla de museus, casas de leilão e colecionadores privados, além de protocolos obrigatórios de verificação de procedência, fortaleceriam significativamente o combate ao tráfico ilícito.

Do mesmo modo, penalidades mais rigorosas e treinamento especializado para forças policiais e autoridades alfandegárias são medidas indispensáveis para reduzir a atratividade econômica desse tipo de crime.

O episódio do Louvre serve como alerta. Proteger bens culturais não é capricho elitista nem pauta secundária: é defesa da memória, da identidade e do patrimônio comum da humanidade.

Quando uma obra é roubada, perde-se mais do que um objeto, perde-se um fragmento da história coletiva. A resposta, portanto, precisa ser global, coordenada e à altura desse valor.

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