O Paraguai era e é um país “enclausurado” no interior do continente, muito afastado do mar e com o acesso ao seu território limitado, basicamente, à via fluvial do Prata, por suas águas e afluentes. Isso exigia dos Aliados, a posse dessa rede fluvial. Dois fatores contribuíram para esse objetivo: O Tratado da Tríplice Aliança, que conferiu aos brasileiros o Comando das Operações Navais e o prestigio pessoal do Almirante Tamandaré junto ao governo argentino, garantindo a utilização pela Armada brasileira do Porto de Buenos Aires. Essa Base permitiria, durante o conflito, destruir os meios flutuantes do Paraguai e obter, desta forma, a supremacia naval. Esse acerto das medidas tomadas resultou na Batalha do Riachuelo, travada em 11 de junho de 1865 que, pela sua vitória, criou as condições necessárias para o sucesso das operações futuras das Forças Aliadas.
O resultado a favor das nossas armas permitiu que a logística, em vista dos recursos locais escassos, conseguisse manter o fluxo de suprimentos oriundos da Área de Retaguarda. A esquadra paraguaia, partindo de Humaitá na noite de 10, devia regular a sua marcha de modo a atingir a esquadra brasileira nas primeiras horas da madrugada de 11 de junho. Cada um dos navios paraguaios devia abordar um dos navios brasileiros. Se algum destes conseguisse repelir a abordagem, teria a sua retirada cortada por uma bateria previamente assestada no barranco sobre o canal Riachuelo, duas léguas abaixo da cidade de Corrientes. Ide e trazei-me os navios brasileiros! foram as palavras de Lopez quando terminou a proclamação que dirigiu à sua esquadra no momento da partida de Humaitá. A distancia poderia ser percorrida em cinco ou seis horas, mas uma avaria no vapor Iberánão não permitiu efetuar a surpresa antes do romper do dia, e só às 9 horas as duas esquadras se avistaram.
A Força Naval Brasileira que bloqueava o rio Paraná estava fundeada ao lado do Chaco, a 25 km ao sul de Corrientes. Era composta de 11 navios, mas no dia da batalha contava só com 9; outros dois: as canhoneiras Itajái e Ivaí encontravam-se destacadas em ponto distante rio abaixo. A força era formada pela 2ª e 3ª Divisões da Esquadra e composta de 09 navios de guerra estando armada com 59 bocas de fogo, levando a bordo 1 113 fuzileiros navais e 1 174 soldados do Exército Imperial. Somavam um total de 2 287 homens. Seu Comandante-em-chefe era o Almirante Francisco Manuel Barroso da Silva, que antes de iniciar o combate naval emitiu da fragata “Amazonas”, capitânia da Esquadra 02 mensagens para a faina geral:
1) “O Brasil espera que cada um cumpra o seu dever” . 2) “ Atacar e destruir o inimigo o mais perto que puder”.
Já haviam as forças paraguaias de terra levantado, durante a noite precedente,baterias nas barracas, de onde deviam cooperar com as forças navais.Passaram estas, ao descer o rio, pela nossa esquadra quase sem hostilidades; e chegando junto ás baterias mascaradas, romperam fogo com violência terrível tentando rechaçar para cima os nossos navios. A tática dos paraguaios era tremenda; e sem a bravura dos nossos, teria ela produzido o desastre mais horrível, talvez de toda história militar da America. Além de seis formidáveis baterias flutuantes, puseram os inimigos em ação oito vapores e numerosas chalanas, ou grandes canoas de guerra. Ao inesperado do ataque e a surpresa das manobras, juntaram se logo a desordem e a confusão produzidas pela estranha celeuma e pelos ímpetos de loucura com que as chusmas de paraguaios fanáticos investiam as nossas embarcações.
A batalha durou 10 horas; e por fim, a coragem épica do comandante Barroso, imaginando utilizar o seu navio “A Amazonas”, construído com a dura madeira teca indiana e carvalho, como um aríete, manobrou rapidamente e com o choque do seu navio afunda três vapores do inimigo, assegurando a vitoria das nossas armas, e escrevendo uma das páginas mais gloriosas da nossa história naval. Os paraguaios fogem levando mortos e feridos, da ordem de 1.000 homens, entre estes o Comandante Meza. Nossas baixas somaram 104 mortos, 123 feridos e 20 extraviados.
Imortalizaram-se nesta batalha, entre outros heróis, o marinheiro Marcilio Dias e o Guarda-Marinha João Guilherme Greenhalgh, mortos em luta desesperada na defesa do Pavilhão Nacional. Riachuelo representou o aniquilamento da força naval paraguaia, permitindo e esquadra brasileira dominar o Rio Paraná até a embocadura do Rio do Prata. E, para terminar digamos como o ilustre professor Escragnolle Doria “Se houve um dia em que o Brasil careceu de um homem, esse dia foi Riachuelo, esse homem foi Barroso”.