Entre os anos de 1918 e 1940, o Brasil e a França promoveram uma série de contratos cujo objetivo era reorganizar e modernizar o Exército Brasileiro. Para atingir tal “desideratum”, uma Missão Militar Francesa de Instrução foi contratada pelo governo brasileiro em razão de dois fatores primordiais: 1º) a identidade cultural Brasil/França trazendo este último país uma elite militar vitoriosa na Grande Guerra (1914-1918) e 2º) o Brasil ter-se decidido em melhorar a eficiência do seu Exército procurando reorganizar-se, em bases modernas, que permitissem assegurar a soberania nacional e impor-se no quadro militar de seus vizinhos sul-americanos.
Intensa discussão lavrou no Brasil precedendo a assinatura do contrato que, finalmente, nos trouxe a Missão Militar Francesa chefiada por um general, figura destacada na 1ª Guerra Mundial (1914 a 1918): o famoso general Maurice Gamelin. Por ocasião dos debates, formaram-se três pontos de vista com relação à vinda da Missão Militar Francesa:
1º) Não se aceitava a vinda de instrutores estrangeiros. Afirmava-se que os militares brasileiros podiam atingir os reclamos do Exército Brasileiro, desde que fossem alocados recursos compatíveis com as suas necessidades.
2º) Aceitavam o contrato desde que trouxessem especialistas para prestarem serviços específicos. Esses elementos teriam ação limitada. Foi a chamada “Pequena Missão”.
3º) Finalmente, existiam os adeptos da Missão Militar Francesa completa se posicionando em defesa da “Grande Missão”.
A 3ª corrente foi a vitoriosa, argumentando que os problemas do Exército eram muito graves e geravam-se, principalmente, na cúpula administrativa. Acrescentavam ainda que não haveria motivo para temor, pois a França era a nossa tradicional aliada e não tínhamos segredos militares a preservar. O trabalho da Missão Militar Francesa nos 20 anos que atuou no Brasil modernizando o nosso Exército pode ser assim resumido: 1) Reorganização do sistema escolar do Exército. Vários estabelecimentos foram criados em diversos níveis, sendo frequentados por maioria esmagadora de oficiais e praças; 2) Modernização dos Serviços e Administração Militar. Elevou-se a eficiência da Remonta, Veterinária, Intendência e Saúde, necessários para apoiar as tropas combatentes. 3) Melhoria dos níveis e qualidade na produção das fábricas militares e arsenais. 4) Dotação de um armamento moderno e diversificado, compatível com a organização adotada para o Exército. 5) Positiva influência na alta Administração do Exército, do que resultou a construção de quartéis, depósitos, hospitais etc por todo nosso território, edificações essas que existem até os dias atuais. 6) Foi dada grande importância ao Estado-Maior. Esse órgão ficou responsável técnico pela eficiência e emprego do Exército. Com isso, tornou-se extremamente valorizado o Curso de Estado-Maior, formando um Quadro a parte que passou a ter exclusividade nas funções mais relevantes do Exército, permitindo o acesso ao Generalato. 7) Elaboração de um Corpo de Doutrina. Além de tratarem do estudo das Guerras de Napoleão, Foch, Joffre, etc., bem como das suas experiências na 1ª Guerra Mundial, levaram em consideração nossas características próprias para definir um corpo de doutrina nacional, deixando uma mensagem salutar, que assim expressamos: “Estudem a História Militar do Brasil e dela procurem tirar a substância que há de corporificar uma Doutrina Militar Brasileira”.
O alto nível dos trabalhos legados pela Missão Militar Francesa ficou evidenciado quando da formação e preparo da FEB para combater na Itália ao lado dos Aliados na 2ª Guerra Mundial. O Exército Brasileiro, nessa ocasião, respondeu à altura ao desafio de enviar oficiais e praças para combater naquele Teatro de Operações. E tudo isso porque o Exército Brasileiro, ao longo de vinte anos, levou a sério o seu preparo profissional sob a orientação experiente da Missão Militar Francesa, contratada no momento oportuno e constituída por militares altamente qualificados. Isso concorreu para uma rápida e fácil adaptação à doutrina e ao emprego do material bélico norte-americano. A FEB voltou vencedora e coberta de glória. Honrou o Brasil!


