O bolivarianismo é uma salada semimística de conceitos, elaborada pelo falecido comandante Hugo Chávez, com sustentação do narco-exército (2 mil generais) e do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV). Chávez e os chavistas receberam ampla atenção – e apoio – dos partidos esquerdistas do Reino Unido (Labour Party – LP) e do Brasil (PT e PSOL), o que continua desde que o ex-motorista de ônibus Nicolás Maduro assumiu depois da morte do comandante.
Este último ainda aparece, às vezes, na forma de um passarinho ou de uma borboleta, para instruir Maduro, quando este dorme ao lado do seu túmulo. Um dos pilares de sustentação do bolivarianismo seria um marxismo atualizado, mas Marx odiava Bolívar, chamando-o de “canalha covarde e traidor”, cujo sonho era uma ditadura permanente, descrição convenientemente esquecida pelos chavistas.
No Reino Unido, uma possível futura ministra do LP, Diane Abbott, participa ativamente de reuniões públicas pedindo apoio para Venezuela, “um país mais democrático que os Estados Unidos ou Reino Unido, pois as eleições são livres e o povo é ouvido”. O líder nacional do LP, Jeremy Corbyn, e o ex-presidente-réu Lula são entusiastas do chavismo, embora ambos deixassem outros expressaram esse apoio, tendo em vista possíveis eleições futuras.
No Brasil, a senadora Gleisi Hoffmann, a presidente-ré do PT, copia fielmente mrs. Abbott, empregando a mesma terminologia do “regime democrático”, falando ainda do povo livre caminhando para uma sociedade socialista, graças à instituição de uma assembleia constituinte e à visão inspiradora do seu presidente. As dificuldades enfrentadas pelo povo – tais como uma falta total de comida e medicamentos, salários irrisórios, alta taxa de mortalidade infantil –, são todas culpa de elites capitalistas e direitistas; só eles interferem no progresso bolivariano.
A Venezuela já foi um dos países mais ricos do mundo, mas obstáculos alheios destruíram o sonho da realização do bolivarianismo. O ex-presidente-réu Lula, a ex-presidente cassada Dilma, a presidente-ré do PT, Gleisi – todos já sonharam alto com a implantação do milagroso bolivarianismo no Brasil. Qualquer medida ou política que vise à melhoria de bem-estar do povo, mas não se encaixa neste milagre deve ser combatida. Também ações vigorosas sempre devem ser tomadas: não tem pão? Punir os padeiros. Não tem papel higiênico? Estatizar as fábricas! Não tem dinheiro? Prender os banqueiros! A vida torna-se mais simples no mundo chavista. Os mortos e os sofrimentos do povo são – obviamente – preços baratos para pagar no caminho do paraíso. Talvez seja necessário um golpe para chegar lá, mas os bolivarianos locais podem muito bem cuidar disso!
Qualquer proposta de ajuda humanitária é, obviamente, uma tentativa de derrubar um governo democrático bolivariano e tem de ser oposta firmemente, com propaganda e violência.
Enquanto isso, dois grandes “governos populares” – Rússia e a China – continuam ao lado do Venezuela, numa tentativa desesperada de ter de volta pelo menos parte dos seus enormes investimentos, mas é claro que a sabotagem capitalista está tornando isso cada vez mais difícil. Em breve, Nicolás Maduro deve se juntar a outros heróis da revolução, mas não antes de seu povo chegar ao desespero final.