Recentemente, vários países estão preocupados com a possibilidade de uma recessão global ou ao menos uma desaceleração mais forte. Quais são os motivos? E como poderia afetar o Brasil? Inicialmente é importante pontuar alguns fatores de instabilidades econômicas globais.
i) Guerra comercial: Sem dúvidas a guerra comercial entre China e EUA gera muita instabilidade e queda dos investimentos internacionais, bem como perda do dinamismo de comércio. Para se ter uma ideia, o Fundo Monetário Internacional aponta custos que giram em torno de 430 bilhões de dólares para a economia mundial por conta desta disputa. Além disso, segundo uma pesquisa da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos (Amcham), 66% dos empresários já incluem como riscos aos seus negócios o aumento de custos causado pela imposição de tarifas ou a queda de receitas provocada pela perda de fatias de mercado;
ii) Sanções internacionais: esta questão também tem gerado problemas econômicos (a despeito de entrar no mérito da motivação de impor sanções, que em muitos casos pode ser importante). Um exemplo simbólico é a sanção americana ao Irã que repercutiu na economia alemã (empresas europeias tem no Irã um importante mercado para seus produtos industriais). Por sua vez, a Europa entrando em recessão, toda economia mundial pode ser afetada. Outras sanções que geram instabilidades econômicas e perda de dinamismo de atividade econômica são: as sanções à Rússia e à Venezuela (novamente destacando que isto é uma análise de impacto puramente econômico, não entrando no mérito da necessidade geopolítica da sanção). É importante lembrar que o Brasil apresentou durante muitos anos um amplo superavit comercial de vários bilhões de dólares em relação ao comércio com a Venezuela, fornecendo, em grande medida, produtos industriais de maior valor agregado para o país vizinho;
iii) Instabilidades e impactos na economia europeia e mundial pelo Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia), que talvez ocorra sem acordo e de forma abrupta – ou seja, com um impacto sobremaneira elevado;
iv) Instabilidades na Argentina: o país é um grande parceiro comercial do Brasil, o que pode resultar em vários impactos comerciais e econômicos no Brasil.
Portanto, caso vire realidade, EUA, China, Europa entrando em desaceleração econômica, somando-se esses outros elementos de instabilidades, certamente trarão impactos para a economia brasileira.
Com efeito, existem alguns agravantes e atenuantes nesse cenário. Como agravante, é importante considerar que os estados, bem como os Bancos Centrais pelo mundo afora, possuem um poder de intervenção e estímulos às economias muito menores que na época da crise de 2007-2008. Os estímulos fiscais estão “amarrados” por um já elevado endividamento e as taxas de juros não tem um “grande” espaço para quedas. Embora com menor poder de fogo que em 2007-2008, os governos ainda podem estimular as economias, então como atenuantes temos: estímulos do FED dos EUA, que apontou para redução de juros; estímulos na China e da Alemanha; também, a esperança de um acordo entre EUA e China; por fim, alguma revolução tecnológica que eleve a produtividade global, gerando novo ciclo de crescimento.
Dito isto, pensando no Brasil, os possíveis impactos são diversos (cambial, comercial, inflacionário, comércio, emprego, renda...). Contudo, aqui vou apontar um que julgo um dos principais. O governo vem apostando em reformas pelo lado da “oferta” da economia (tributária, trabalhista, previdenciária, liberdade econômica...) para gerar crescimento. São reformas que podem ser importantes dependendo do seu desenho, mas não resultam necessariamente em maior crescimento no curto prazo – talvez nem no médio prazo. A aposta da atual equipe econômica, mais liberal, é melhorar o ambienta para que o investimento privado seja protagonista. Entretanto, neste cenário de instabilidade política e econômica no Brasil e no mundo, é pouco provável que o investidor privado nacional e estrangeiro realize grandes investimentos, por conta do elevado risco. Com a demanda escassa, emprego e renda fracos, é muito improvável que o empresariado realize grandes investimentos.
Nesse sentido, é importante construir uma agenda que eleve os investimentos privados e sobretudo públicos no Brasil, para assim formar um multiplicador positivo de geração de renda que aumente as vendas do empresariado, gerando mais empregos – que por sua vez, resultem em mais consumo, acarretando aumento das vendas, mais contratações e crescimento, assim sucessivamente.