Artigos e Opinião

ARTIGO

A+ A-

Mário Von Zuben: "Tecnologia traz cada vez mais sustentabilidade ao campo"

Engenheiro agrônomo pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz

Continue lendo...

Já não é novidade o papel decisivo que o Brasil tem ocupado como produtor mundial de alimento. É fato que o mundo conta conosco para alimentar mais de 7 bilhões de pessoas. No entanto, muitos críticos ainda insistem em não reconhecer a importância desse setor para a geração de oportunidades – empregos, impostos, fortalecimento do PIB, entre outros – e de como ele contribui para a prosperidade do País.

Faz-se necessário enfatizar que a sustentabilidade ambiental é imperativa para a agropecuária brasileira. Significa dizer que nossos agricultores trabalham incansavelmente para produzir cada vez mais com o emprego de tecnologias de conservação de solo, água, flora e fauna. Além disso, alguns números chamam a atenção: dois terços da superfície brasileira, mais precisamente 66,3% do seu território, são áreas legalmente protegidas e preservadas. E mais: os agricultores brasileiros, sem contrapartida governamental, dedicam áreas à preservação da vegetação nativa que totalizam 21% do território nacional.

De 40 anos para cá, foram desenvolvidas diversas tecnologias sustentáveis por parte da agricultura brasileira, como: técnicas de recuperação de pastagens degradadas; sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta; agroenergia renovável; manejo de florestas e da biodiversidade nativa e reciclagem de grande parte dos efluentes e resíduos sólidos. Por exemplo, os agricultores destinam de forma adequada mais de 90% das embalagens de defensivos utilizados, um recorde mundial.

Enquanto as percepções urbanas sobre o meio rural brasileiro estão associadas a mitos e visões equivocadas, a agricultura prospera. Hoje, o Brasil exporta para alimentar mais de 1,5 bilhão de pessoas em todo o planeta, mas não foi sempre assim.

Na década de 1970, éramos uma nação importadora de alimentos. O período que se seguiu foi de transformação do Brasil em potência agrícola, acompanhado de uma queda pela metade dos preços dos alimentos. Esse foi o maior ganho social da modernização agrícola, que beneficiou, sobretudo, a população urbana. Foi a partir dessa mudança que o Brasil saiu do mapa dos países com insegurança alimentar.
Em 2016, o Brasil produziu 238 milhões de toneladas de grãos para uma população de 207 milhões de habitantes, o que significa disponibilizar mais de uma tonelada de grãos por habitante. Só a produção de grãos no Brasil é suficiente para alimentar mais de quatro vezes a própria população.

Como se não bastasse, a agricultura é hoje a principal fonte de prosperidade em muitas regiões do Brasil. Emprega mais de 32 milhões de trabalhadores, cerca de 33% da força de trabalho do País. Com participação no Produto Interno Bruto de 24%, é, sem dúvida alguma, o setor mais competitivo da economia brasileira no mundo. Em 2017, as exportações somaram US$ 96,2 bilhões, o que representou 44,1% das vendas externas do País. Sem essas cifras, o deficit na balança comercial seria de 15 bilhões de dólares. Porém, pouco se fala disso.

Para entender esses avanços da agropecuária, recomendo o livro “Tons de Verde – A Sustentabilidade da Agricultura no Brasil”, obra fundamental do pesquisador Evaristo de Miranda. Neste trabalho, que aborda o panorama da atual sustentabilidade do setor agrícola brasileiro, fica claro como o País tem se preparado para assumir o papel de celeiro da humanidade e avança em práticas que levarão nossa produção a ser cada vez mais rentável e sustentável. 

ARTIGO

Produtos livres de desmatamento nas estratégias da União Europeia

11/04/2024 07h30

Continue Lendo...

O Regulamento para Produtos Livres de Desmatamento é um entre vários componentes do Pacto Ambiental Europeu (European Green Deal), que tem como objetivo final atingir neutralidade de emissões de gases de efeito estufa em 2050, com um crescimento econômico livre da exploração excessiva dos recursos naturais e sem deixar ninguém para trás.

Trata-se, portanto, de uma peça dentro de um quebra-cabeça bem mais complexo que visa tornar a Europa um continente sustentável e carbono neutro.

Desde 2019, o Pacto Ambiental Europeu apresenta diretrizes que vão sendo gradativamente regulamentadas, cobrindo de energia renovável a produção de alimentos, passando por transporte e construção civil.

Trata-se de um marco legal abrangente que aborda diversas questões ambientais, incluindo o desmatamento, como parte dos esforços da União Europeia (UE) para um novo modelo de economia verde. 

O regulamento para produtos livres de desmatamento, aprovado em 2023, disciplina as atividades dos importadores europeus que passam a ser responsáveis por garantir que os produtos adquiridos não venham de áreas desmatadas depois de 31 de dezembro de 2020.

As restrições entram em vigor no final de 2024. Os importadores são os responsáveis pela implementação das verificações nos países exportadores, as chamadas “due dilligences”. 

As implicações para o Brasil são significativas, pois a UE é o segundo maior comprador dos nossos produtos agropecuários. Enfrentamos sérios problemas de desmatamento ilegal na floresta amazônica, além de questões fundiários e sociais.

Outro ponto importante é que a legislação europeia não faz distinção do que é considerado desmatamento legal ou ilegal. A normativa claramente se refere a desmatamento em geral. 

Esse ponto vem sendo questionado pelo governo brasileiro, alegando que está acima das exigências legais do ordenamento jurídico do país. Argumenta-se que essa normativa representaria uma forma de barreira não tarifária aos produtos do Brasil.

Entretanto, o argumento contrário é de que a UE tem a prerrogativa de estabelecer os critérios para os produtos que farão parte das suas cadeias de suprimento. E, como o objetivo maior é a redução dos impactos ambientais do consumo dos próprios europeus, nada mais lógico do que exigir que seus fornecedores sigam padrões compatíveis com essa ambição.

Importante notar que há fortes reações ao Pacto Ambiental dentro da própria UE, como vimos recentemente nos diversos protestos de produtores rurais no território europeu.

Embora estejam sensibilizando parte da sociedade e postergando algumas limitações, dificilmente a insatisfação dos produtores europeus ou dos governos fornecedores de produtos agrícolas para a Europa terão força para uma guinada nos objetivos de longo prazo da UE.

Parece haver um sério proposito do continente em mudar completamente suas bases de desenvolvimento, mirando a transição para uma economia mais resiliente e de baixas emissões de gases de efeito estufa.

Ao Brasil cabe o desafio de entender essas normativas e entrar em um processo de negociação sério e embasado na ciência. Ainda há grandes lacunas sobre como serão feitas as verificações do desmatamento e, sobretudo, como serão mapeadas as origens de cada lote de exportação.

Precisaremos acelerar nossos investimentos em rastreabilidade e transparência nos processos produtivos, assim como no aprimoramento de plataformas de monitoramento territorial. Tudo isso em consonância e em estreita colaboração com os importadores e agentes da União Europeia.

Ainda estamos em um momento de discussão e entendimento junto aos agentes europeus de como o novo regulamento será implementado no Brasil. Entende-se que será um processo com aprendizado mútuo e um período de adaptação.

Os entes governamentais têm o papel de catalisar essa discussão entre produtores, processadores e exportadores brasileiros para que estejamos prontos para manter a liderança como fornecedores de produtos agrícolas para a União Europeia. 

 

Assine o Correio do Estado

ARTIGO

Era uma vez em uma escola na Suécia

11/04/2024 07h30

Continue Lendo...

Depois de anos educando as crianças quase que exclusivamente com recursos digitais, o Ministério da Educação da Suécia começou a perceber alguns sintomas perturbadores nas suas crianças: deficiência na leitura e na compreensão de textos apropriados para a idade, muita dificuldade de escrever e, quando solicitadas, escritas realizadas apenas em caixa alta.

Mas o que mais chamou a atenção foi a percepção de que as crianças também começaram a apresentar dificuldades para expressar o que sentiam, pois lhes faltava vocabulário até mesmo para descrever cenas breves ou relatos de emoções simples.

Muitas dessas manifestações, resultantes da falta de exercício cognitivo e motor, assemelhavam-se a alguns transtornos psicológicos, e não é de se espantar que muitos pais possam ter procurado psicólogos, feito exames ou mesmo ministrado medicamentos, preocupados com a lentidão, o mutismo ou ainda com dificuldade de compreensão de seus jovens filhos.

O governo sueco, diante dessa constatação, resolveu dar uma guinada nas suas orientações escolares e agora estimula fortemente o uso de livros em vez de laptops, como também incentiva a leitura em voz alta, as rodas de conversa e a prática da escrita - inclusive ditados - com o objetivo de reverter o cenário que se desenhava catastrófico para o futuro.

Crianças que não são estimuladas desde cedo em atividades motoras e intelectuais podem ter dificuldades de desenvolvimento profissional na vida adulta, particularmente em um mundo onde a criatividade e a inovação são realidade em todo lugar. 

No último Pisa, divulgado em 2023, o resultado geral dos jovens estudantes suecos foi de 487, ante 499 registrado na edição anterior, de 2018. Em Matemática, a queda foi de 15 pontos e em Leitura, de 10 pontos.

Suficiente para que fizesse um país sério, como a Suécia, acender as luzes amarelas e buscar compreender as razões dessa perda de energia no aprendizado de seus jovens cidadãos, (para além dos efeitos da covid, que afetou de maneira praticamente igual os países participantes).

Uma das medidas que o governo buscou implementar em todas as escolas - embora na Suécia o programa e as orientações pedagógicas não sejam unificadas como no Brasil - foi: menos celular, menos laptop e mais livro, leitura, escrita e conversa. O básico que, desde mais ou menos cinco séculos atrás, tem orientado a ideia do que é ensinar e aprender.

 Lógico que esta constatação não implica em demonizar o uso de tecnologia em sala de aula, mas de usá-la com sabedoria, de forma que ela ofereça o que, de fato, não é possível conseguir por outros meios.

Mal comparando, é como o hábito de muita gente usar palavras em inglês para se referir a coisas ou situações nas quais já existe uma palavra em português perfeitamente cabível. Esse é o mau uso da língua estrangeira. O que não significa que não se deva aprendê-la e usá-la, muito pelo contrário.

A tecnologia compreende um conjunto de ferramentas e habilidades que deve servir para ampliar nossa capacidade de ler, raciocinar, produzir e nos comunicar. Mas, para isso, precisamos antes saber ler, raciocinar, produzir e nos comunicar.

O perigo do uso de celulares e laptops no ensino fundamental é o de diminuir ou mesmo obstaculizar  o desenvolvimento motor e cognitivo das crianças, além de dificultar a expressão de ideias, emoções e socialização, por falta de vocabulário capaz de se fazer entender quando relatar uma experiência.

O fenômeno hikikomori, que se refere aos jovens que abandonam qualquer contato social real e mantêm-se isolados em seus quartos, comunicando-se apenas pelas redes sociais, vem se alastrando por todo mundo, assim como a descrição de novos transtornos psicológicos associados à dificuldade de comunicação e socialização. A saída, porém, pode estar um pouco antes do consultório médico ou do psicólogo. Na boa e velha sala de aula.

 

ASSINE O CORREIO DO ESTADO 

NEWSLETTER

Fique sempre bem informado com as notícias mais importantes do MS, do Brasil e do mundo.

Fique Ligado

Para evitar que a nossa resposta seja recebida como SPAM, adicione endereço de

e-mail [email protected] na lista de remetentes confiáveis do seu e-mail (whitelist).