Não é o intuito deste texto, e não poderia ser de outra forma, colocar em um mesmo plano meu pai por adoção, Manoel Estevão Anjinho, e Roberto Simonsen, o empresário e político santista que, entre outrasrealizações, fundou, em 1928, o Centro das Indústrias, que posteriormente se chamaria Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.
Em minhas recordações, porém, o jovem que se casou em 1925 com Djanira, filha de Maria do Rosário e Arthur Américo Bueno, em São Caetano do Sul, tendo na profissão de carpinteiro uma fonte de estímulo e inovação, rivaliza com o industrial em entusiasmo pelas atividades empresariais e no amor pelo Brasil. Manoel Anjinho convivia na então pouco habitada urbe da Grande São Paulo com figuras como Armando de Arruda Pereira – mais tarde prefeito da cidade de São Paulo – e o empresário e economista Roberto Simonsen.
O Brasil dos anos 1920 passava por mudanças em matéria econômica, social e cultural, advindas do reordenamento econômico internacional do pós-guerra e da emergência de novos setores na sociedade brasileira, expressas na explosão cultural da Semana de Arte Moderna de 1922, patrocinada pelo empresário e escritor Paulo Prado, outro paulista ilustre que, ciente das nossas mazelas, vislumbrava no horizonte outro Brasil.
Naquele contexto, a economia brasileira não apresentava, em geral, má situação, mas sofria com o descontrole fiscal e financiamento das letras de café, como observaram Gustavo Franco e Luiz Aranha Corrêa do Lago, na bela obra organizada por Lilia Moritz Schwarcz, História do Brasil Nação. A economia se deterioraria nos anos seguintes, passando por severa recessão, com queda do crescimento e do investimento industrial em 1924 e 1925, apreciação da taxa de câmbio e forte deflação em 1926. Nos anos seguintes, o café, mais uma vez, manteria a economia brasileira em certo equilíbrio, antes dos efeitos da crise de 1929.
Naquele contexto, segundo os relatos de Manoel Anjinho, o carpinteiro e o industrial convergiam em torno de duas ideias ou três ideias: o respeito ao setor agrícola e aos cafeicultores, a necessidade de se diversificar a economia brasileira, por meio da industrialização e, uma lição mais simples, o quão prejudicial era um quadro de deflação para os negócios de grandes e pequenos empreendedores. Com efeito, naquele período Roberto Simonsen, que havia fundado a Companhia Construtora de Santos em 1912, dirigira várias companhias industriais em ramos tão diferentes quanto artefatos de cobre, frigoríficos, borracha e combustíveis líquidos, e propugnava pela industrialização sob coordenação do Estado.
Para Simonsen, a indústria possuía relevante função social, se conciliada com os interesses nacionais e a nacionalidade brasileira. Era tanto uma atividade individual quanto do conjunto da sociedade, “um negócio da nação”, e seria “um verdadeiro crime de lesa-patriotismo” a ação daqueles que queriam criar obstáculos ou combater a produção do País. Criticava igualmente os que promoviam a luta de classes ou os que tentavam criar leis perturbadoras do trabalho. Nesse sentido, a inauguração do Centro das Indústrias de São Paulo reafirmaria a liderança de Roberto Simonsen não somente como industrial, mas como pensador econômico.
Entre suas lições, os fundamentos nacionalistas da nossa política industrial e a necessidade de harmonizar, em alguma medida, capital e trabalho. Neste aspecto, Manoel Anjinho – o gaditano que, em 1948, por decreto do cuiabano Eurico Gaspar Dutra tornou-se o brasileiríssimo Manoel Estevão Júnior – sabia da importância do crescimento da economia e dos salários para o sucesso do pequeno e do médio empreendedor.