A palavra senso se refere a um modo de agir de forma sensata, prudente, avaliando a direção e o andamento do nosso comportamento pela habilidade de distinguir aquilo que é certo ou errado, o falso do verdadeiro, ou mais apropriadamente o adequado e o inadequado para um determinado momento. Ela tem a ver com o instinto, inteligência, a prudência e o juízo característicos de seres humanos e o modo de viver em um ambiente.
O neocortex é a área ocupada pelos “lobos frontais” responsável pelo senso crítico, onde estão as nossas capacidades das tomadas de decisão, concentração, análise dos riscos, raciocínio, planejamento, garantindo nossas relações humanas de convivência e a sobrevivência com o entorno.
O senso comum reflete o modo de pensar da maioria das pessoas baseado em experiências práticas vividas e transmitidas, observações de padrões (comportamento), mas que não se baseiam em metodologias científicas e sim numa maneira natural de guardar conhecimentos diários, úteis para a sobrevivência.
A literatura estabelece que o senso comum é uma unanimidade de pensamentos sobre a vida, obtida sem reflexão ou análise crítica (sem questionamentos e métodos), sem origem, propriedade, que levam a um bem comum, ou às vezes a uma alienação, própria das classes menos favorecidas, carentes da educação e passíveis de manipulação.
Independente das pessoas serem do jeito que são; acreditarem naquilo que querem ser; auto-determinadas e autônomas, elas têm obrigação de resguardar e zelar pela integridade das opiniões e das ações sob pena de serem desacreditadas por serem desprovidas do senso crítico.
Como se trata de uma característica individual e que depende de inúmeros fatores e, portanto são diversos seus níveis como a formação e o conhecimento, observação, raciocínio, avaliação, discussão, confronto de ideias, entendimento das palavras e do contexto e suas interpretações, conceituação do cenário e do evento ou fenômeno e conclusão lógica da resposta. Importante lembrar que fisicamente, a fadiga, o álcool, as drogas, a alimentação incorreta, os níveis de estresse, a senilidade, prejudicam as condições ideais para que o senso crítico se manifeste em sua plenitude.
Quando nos comportamos ridiculamente, isto é, na maioria das vezes fora das normas instituídas socialmente, o nosso senso crítico é questionado neste momento, justo porque afloram hábitos e crenças enraizadas em nós e que destoam daquilo que é aceitável para um convívio harmonioso.
Não existe dicotomia entre os dois sensos, mesmo que as conceituações os classifiquem entre um senso dito “erudito” e outro “popular”. Enquanto o crítico se firma a partir das avaliações sobre as conceituações e a introjeção (valores familiares e sociais) do conhecimento do senso comum; este, por sua vez, apenas vive e não tem tempo para analisar a qualidade ou mesmo a importância de um evento qualquer.
O que se observa na atualidade é que o ser humano passou a desconsiderar a crítica, sendo abduzido pelo pensamento comum como o descaso da violência, a insensibilidade nas notícias, o entretenimento fútil dos programas televisivos, o passatempo estéril na comunicação pelos Faces, Instagrans, Twitters e Hangouts, as manifestações públicas sem objetivos, as replicações de falsas verdades pela web e o enredo de vampiros, mortos vivos e heróis sem ética.
A falta de senso crítico resulta em prejuízos para a sociedade que passa a dar crédito a políticos e empresários corruptos, a celebridades falsas, e aceitar uma cultura medíocre representada por artistas sofríveis, ou o despreparo de educadores, salários e empregos aviltantes, sem o devido crivo da avaliação. O senso comum, no entanto, sabe disso tudo e ingenuamente afirma que “sempre foi assim”, vai ganhando espaço precioso sobre esse tal de senso crítico. Urge reverter esse placar!