Da época de criança, muitas possuíam seus porquinhos de louça com moedinhas, até o ponto de quebrá-los para comprar um desejo material. Mais velho, a lembrança nos leva aos porta-níqueis, hoje inexistentes e raros, mas que valorizavam as menores frações monetárias.
Hoje, o valor intrínseco do material é superior à reserva de valor, o que representa o resultado do desequilíbrio entre a produção excessiva de moeda, em relação ao custo do material e da produção final.
O porquinho e o porta-níqueis já eram, principalmente na fase da moeda virtual – a “bitcoin” – que foge aos padrões convencionais de dependência aos sistemas financeiros, governos, sistemas bancários e, portanto, sem a segurança (falência e hackers) e garantia da legalidade (moeda sem fronteiras), com um viés de “moai”, “monopólio” e “pirâmide”.
Todavia, guardar uma reserva em uma gaveta, num bolso de paletó, numa lata de cozinha, foi um hábito dos mais velhos e previdentes. Uma situação emergencial ou um simples desejo poderia ser resolvido ou atendido ao se recorrer àquela poupança despretensiosa, talvez até fruto das necessidades ou mesmo dos ensinamentos sobre o dízimo.
Propagandas veiculadas atualmente se referem ao hábito de se fazer uma poupança. São os bancos em busca de dinheiro! Não faz muito tempo que o nosso dinheiro em conta produzia juros pagos pelos bancos, que brigavam entre si para oferecer as melhores taxas.
Apesar dos princípios e leis apropriados pela economia, as bases da ciência econômica estão no equilíbrio entre a poupança e o consumo, um mistério ainda não desvendado. Falamos de poupança como reserva, e não como investimento, quando o dinheiro se transforma em um bem e, nesse caso, sua valorização dependerá de sua escassez no mercado.
Parece que a retenção de alguns centavos em casa gera inflação e, portanto, aumento de preços de produtos, e guardar dinheiro em banco impede a circulação, o azeite da máquina financeira.
A verdade é que a desconfiança no sistema de poupança em função das várias modificações e falcatruas aplicadas, tanto nas regras, como nos desvios, fez com que a sociedade preferisse trocar suas reservas por bens móveis e imóveis, onde o valor real é depreciado e imobilizado, tornando difícil a rapidez na recuperação do investimento. Além disso, as políticas financeiras prestigiaram uma poupança como investimento, inadequadamente, reduzindo os interesses financeiros resultantes, e não como mostrar que uma reserva dá ao detentor um poder de compra, de negociação e de definir uma escolha correta.
Por outro lado a compra de bens supérfluos, que satisfazem um desejo ou necessidade momentânea, faz girar a moeda, trocando de mãos e sustentando minimamente uma economia de varejo, pequenos negócios, produções artesanais, mas que competem desigualmente com os importados.
Nos meandros da economia, é importante ressaltar que o valor do dinheiro está em nossas mãos. O costume de se gastar desenfreadamente, compulsivamente, satisfaz as ações por um instante, gerando um vazio depressivo posteriormente, e ao praticar a usura, simplesmente sendo acumulador patológico (pão-duro), corre-se o risco de perder as oportunidades, senão sua vida de economias. Poupar ou gastar? Duas ações que não ocorrem simultaneamente, mas a ordem dos fatores implica no resultado, uma vez que só se gasta o que se tem e, para isso, é necessário poupar.
Nos países desenvolvidos, dá-se valor às moedas, evitam-se prestações, adquirem-se produtos duráveis, de qualidade e necessários, pechincham-se os preços, juntam-se cupons de descontos e, sobretudo, admitem-se apenas o preço justo, talvez porque tenham sofrido necessidades, aprendido cidadania, a exigir seus direitos e a reclamar sobre o que está errado, e mais importante mantêm um fundo de riqueza, uma poupança.
Enquanto isso, o Fundo Soberano do Brasil (2008), que tinha a atribuição de fazer investimentos no País e no exterior, formar poupança pública, combater os efeitos das crises econômicas e incentivar os projetos, teve sua extinção anunciada pelo atual governo, que vendeu ativos para tapar o buraco fiscal e ficar subordinado às finanças internacionais.