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Luiz Fernando Mirault Pinto: "Do Caos ao Efeito Borboleta"

Físico e administrador

Redação

28/08/2015 - 00h00
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Sistemas dinâmicos complexos são aqueles cuja evolução temporal é função dos parâmetros e variáveis em que se baseiam e apresentam resultados considerados “instáveis”, imprevisíveis ou aleatórios, e para alguns, ao acaso (embora o acaso não exista). Portanto alguns fenômenos naturais que são imaginariamente determinados e previsíveis têm seus resultados derivados da ação e modificação aleatória dos elementos constituintes desses eventos, ou seja, são tão complexos quanto imprevisíveis.

A Teoria do Caos, da física, estuda a aleatoriedade dos sistemas. Um sistema é formado por um conjunto de elementos que tem relações uns com os outros. Eles podem ser lineares, se a resposta resultante da ação em um evento qualquer é proporcional a esta. Caso contrário em que o resultado de um efeito não seja necessariamente proporcional a causa inicial, os sistemas são denominados - dinâmicos não lineares, o que significa que pequenas variações que aparentemente não influem no resultado futuro, até então dito previsível, podem tomar corpo por meio de uma progressão de intensidade de efeitos, fora dos padrões estatísticos, resultando num sistema caótico.

A interligação não aparente e por menor que seja entre os elementos de um sistema, resulta em respostas que dependem das condições iniciais dos parâmetros de descrição dos atributos dos seus componentes. Para minimizar os desvios entre a entrada e a saída de dados, é preciso inúmeras medições de medidas exatas, uma avaliação precisa da incerteza, bem como a consideração de diversos parâmetros. 

Essa explicação física se traduz no chamado Efeito Borboleta, onde “o bater de suas asas num extremo do planeta é capaz de provocar um cataclismo no outro extremo em uma questão de tempo”, uma alegoria que se refere ao processo de realimentação, ou seja, a reintrodução no próprio sistema do somatório dos erros gerados a cada passo.

Esses sistemas são estudados quanto suas estruturas, ditos abertos quando sofrem influencias do meio externo do qual fazem parte, e se alimentam, se auto-regulam ou procuram equilíbrio por meio dessas interações. Os fechados, sem interação (sinergia) externa se mantêm por eles mesmos, cujo prognóstico é a falência.

O que para muitos até agora mais parece uma aula chata de física, devo dizer que a física, como ciência da natureza não só nos permite fazermos analogias entre outros sistemas (meio ambiente, social, comunicação e informação, econômicos) dos quais dependemos, como nos impede com seus métodos, de tirarmos conclusões precipitadas e irreais. Nada nos impede, portanto divagar sobre as teorias físicas em comparação ao momento político atual, porque não?

Existem dois sistemas. Um dinâmico não linear, que se intitula de aberto por congregar diversos outros micro-sistemas que interagem com diversas ideologias, que se manifesta aleatoriamente nas ruas, e se identifica com a mídia, “aparentando” sem sinergia (entropia) suficiente para modificar o “status quo”. O outro, linear, não suficientemente fechado, resiste a mudanças, e naturalmente se auto-regula substituindo partes que deixam de funcionar, mas mantém seu equilíbrio pela troca de energia com elementos do outro sistema. São sistemas aparentemente diferentes, mas que se equivalem e sobrevivem na política pela mútua simbiose.  

Quanto ao Efeito Borboleta, atualmente dá-se o nome de Lava Jato, onde uma simples investigação local, num posto de combustíveis, cujo proprietário estava envolvido com a lavagem de dinheiro oriundo de trafico, de modo imprevisível levou a justiça aos casos subseqüentes de propinas e corrupção, tornando caótico o mundo político de então, protagonizado pelos dois sistemas.

A física estatística ou probabilística certamente explicará o comportamento futuro desses dois sistemas. A sobrevivência de ambos, sujeitos aos efeitos caóticos devastadores do Efeito Borboleta, dependerá de novas interações, um resultado não tão imprevisível, quando serão reequilibrados nas próximas eleições, de acordo com os pesos políticos de seus componentes.

 

ARTIGO

Produtos livres de desmatamento nas estratégias da União Europeia

11/04/2024 07h30

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O Regulamento para Produtos Livres de Desmatamento é um entre vários componentes do Pacto Ambiental Europeu (European Green Deal), que tem como objetivo final atingir neutralidade de emissões de gases de efeito estufa em 2050, com um crescimento econômico livre da exploração excessiva dos recursos naturais e sem deixar ninguém para trás.

Trata-se, portanto, de uma peça dentro de um quebra-cabeça bem mais complexo que visa tornar a Europa um continente sustentável e carbono neutro.

Desde 2019, o Pacto Ambiental Europeu apresenta diretrizes que vão sendo gradativamente regulamentadas, cobrindo de energia renovável a produção de alimentos, passando por transporte e construção civil.

Trata-se de um marco legal abrangente que aborda diversas questões ambientais, incluindo o desmatamento, como parte dos esforços da União Europeia (UE) para um novo modelo de economia verde. 

O regulamento para produtos livres de desmatamento, aprovado em 2023, disciplina as atividades dos importadores europeus que passam a ser responsáveis por garantir que os produtos adquiridos não venham de áreas desmatadas depois de 31 de dezembro de 2020.

As restrições entram em vigor no final de 2024. Os importadores são os responsáveis pela implementação das verificações nos países exportadores, as chamadas “due dilligences”. 

As implicações para o Brasil são significativas, pois a UE é o segundo maior comprador dos nossos produtos agropecuários. Enfrentamos sérios problemas de desmatamento ilegal na floresta amazônica, além de questões fundiários e sociais.

Outro ponto importante é que a legislação europeia não faz distinção do que é considerado desmatamento legal ou ilegal. A normativa claramente se refere a desmatamento em geral. 

Esse ponto vem sendo questionado pelo governo brasileiro, alegando que está acima das exigências legais do ordenamento jurídico do país. Argumenta-se que essa normativa representaria uma forma de barreira não tarifária aos produtos do Brasil.

Entretanto, o argumento contrário é de que a UE tem a prerrogativa de estabelecer os critérios para os produtos que farão parte das suas cadeias de suprimento. E, como o objetivo maior é a redução dos impactos ambientais do consumo dos próprios europeus, nada mais lógico do que exigir que seus fornecedores sigam padrões compatíveis com essa ambição.

Importante notar que há fortes reações ao Pacto Ambiental dentro da própria UE, como vimos recentemente nos diversos protestos de produtores rurais no território europeu.

Embora estejam sensibilizando parte da sociedade e postergando algumas limitações, dificilmente a insatisfação dos produtores europeus ou dos governos fornecedores de produtos agrícolas para a Europa terão força para uma guinada nos objetivos de longo prazo da UE.

Parece haver um sério proposito do continente em mudar completamente suas bases de desenvolvimento, mirando a transição para uma economia mais resiliente e de baixas emissões de gases de efeito estufa.

Ao Brasil cabe o desafio de entender essas normativas e entrar em um processo de negociação sério e embasado na ciência. Ainda há grandes lacunas sobre como serão feitas as verificações do desmatamento e, sobretudo, como serão mapeadas as origens de cada lote de exportação.

Precisaremos acelerar nossos investimentos em rastreabilidade e transparência nos processos produtivos, assim como no aprimoramento de plataformas de monitoramento territorial. Tudo isso em consonância e em estreita colaboração com os importadores e agentes da União Europeia.

Ainda estamos em um momento de discussão e entendimento junto aos agentes europeus de como o novo regulamento será implementado no Brasil. Entende-se que será um processo com aprendizado mútuo e um período de adaptação.

Os entes governamentais têm o papel de catalisar essa discussão entre produtores, processadores e exportadores brasileiros para que estejamos prontos para manter a liderança como fornecedores de produtos agrícolas para a União Europeia. 

 

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Era uma vez em uma escola na Suécia

11/04/2024 07h30

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Depois de anos educando as crianças quase que exclusivamente com recursos digitais, o Ministério da Educação da Suécia começou a perceber alguns sintomas perturbadores nas suas crianças: deficiência na leitura e na compreensão de textos apropriados para a idade, muita dificuldade de escrever e, quando solicitadas, escritas realizadas apenas em caixa alta.

Mas o que mais chamou a atenção foi a percepção de que as crianças também começaram a apresentar dificuldades para expressar o que sentiam, pois lhes faltava vocabulário até mesmo para descrever cenas breves ou relatos de emoções simples.

Muitas dessas manifestações, resultantes da falta de exercício cognitivo e motor, assemelhavam-se a alguns transtornos psicológicos, e não é de se espantar que muitos pais possam ter procurado psicólogos, feito exames ou mesmo ministrado medicamentos, preocupados com a lentidão, o mutismo ou ainda com dificuldade de compreensão de seus jovens filhos.

O governo sueco, diante dessa constatação, resolveu dar uma guinada nas suas orientações escolares e agora estimula fortemente o uso de livros em vez de laptops, como também incentiva a leitura em voz alta, as rodas de conversa e a prática da escrita - inclusive ditados - com o objetivo de reverter o cenário que se desenhava catastrófico para o futuro.

Crianças que não são estimuladas desde cedo em atividades motoras e intelectuais podem ter dificuldades de desenvolvimento profissional na vida adulta, particularmente em um mundo onde a criatividade e a inovação são realidade em todo lugar. 

No último Pisa, divulgado em 2023, o resultado geral dos jovens estudantes suecos foi de 487, ante 499 registrado na edição anterior, de 2018. Em Matemática, a queda foi de 15 pontos e em Leitura, de 10 pontos.

Suficiente para que fizesse um país sério, como a Suécia, acender as luzes amarelas e buscar compreender as razões dessa perda de energia no aprendizado de seus jovens cidadãos, (para além dos efeitos da covid, que afetou de maneira praticamente igual os países participantes).

Uma das medidas que o governo buscou implementar em todas as escolas - embora na Suécia o programa e as orientações pedagógicas não sejam unificadas como no Brasil - foi: menos celular, menos laptop e mais livro, leitura, escrita e conversa. O básico que, desde mais ou menos cinco séculos atrás, tem orientado a ideia do que é ensinar e aprender.

 Lógico que esta constatação não implica em demonizar o uso de tecnologia em sala de aula, mas de usá-la com sabedoria, de forma que ela ofereça o que, de fato, não é possível conseguir por outros meios.

Mal comparando, é como o hábito de muita gente usar palavras em inglês para se referir a coisas ou situações nas quais já existe uma palavra em português perfeitamente cabível. Esse é o mau uso da língua estrangeira. O que não significa que não se deva aprendê-la e usá-la, muito pelo contrário.

A tecnologia compreende um conjunto de ferramentas e habilidades que deve servir para ampliar nossa capacidade de ler, raciocinar, produzir e nos comunicar. Mas, para isso, precisamos antes saber ler, raciocinar, produzir e nos comunicar.

O perigo do uso de celulares e laptops no ensino fundamental é o de diminuir ou mesmo obstaculizar  o desenvolvimento motor e cognitivo das crianças, além de dificultar a expressão de ideias, emoções e socialização, por falta de vocabulário capaz de se fazer entender quando relatar uma experiência.

O fenômeno hikikomori, que se refere aos jovens que abandonam qualquer contato social real e mantêm-se isolados em seus quartos, comunicando-se apenas pelas redes sociais, vem se alastrando por todo mundo, assim como a descrição de novos transtornos psicológicos associados à dificuldade de comunicação e socialização. A saída, porém, pode estar um pouco antes do consultório médico ou do psicólogo. Na boa e velha sala de aula.

 

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