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ARTIGO

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Luiz Fernando Mirault Pinto:
"Balburdia educacional"

Físico e administrador

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A palavra da moda (?) é balburdia: resquícios de antanho de quem vive no século passado. Melhor que isso só algazarra, pandemônio ou rebuliço. Seriam por acaso “maminhas soltas” e “pintinhos murchos” pelo campus universitário a “balburdia” responsável pelo corte de 30% da “subsistência” na continuidade das pesquisas brasileiras?

A frase de Darcy Ribeiro “A crise na educação brasileira não é crise, é projeto” descreve bem o que durante anos a comunidade acadêmica e cientifica enfrenta com o desmonte das estruturas ligadas às pesquisas (Ciência, Tecnologia e Inovação) e o subsequente corte dos recursos destinados às atividades originaria e exclusivas das universidades públicas e de poucas instituições privadas.

A este projeto que envolve gestores incompetentes, fanáticos intolerantes e seus facciosismos exacerbados ou o “viés” anticultural, que se contrapõe à liberdade de pensamento, de expressão e de critica poderíamos chamar de um “golden shower” saudosista própria daqueles vivenciaram experiência similar ao serem advertidos na caserna. 

Este projeto tem nome, o mercado; tem objetivo, traduzido na privatização do ensino público; tem finalidade, a inversão das politicas sociais, e a emancipação contraproducente dos jovens à profissionalização.  

A tecnicidade na educação, ou o modelo tecnicista, cujo objetivo é adaptar o ensino ao “modelo econômico capitalista de mercado” não é um assunto novo entre nós, pois foi o exemplo de pedagogia governamental implantada nas décadas de 70/80; um modelo autoritário que visava a formação de “trabalhadores” para suprir rapidamente as necessidades econômicas, como a produtividade, a organização e a eficiência onde o processo educativo se baseava apenas em informações objetivas, transmissão superficial de conhecimentos por meio da divisão de tarefas entre os instrutores, tornando-os simples executores da programação e tolhidos no pensar.

“Anos” do controle político e ideológico travestido de educação, impedindo a crítica democrática e submetendo os campi em ambientes despolitizados livres de manifestações e reivindicações. O “pulo do gato” para criar um vinculo entre a educação e o mercado seria permitir a privatização oficializada por meio de bolsas de estudo “camufladas” de gratuidade, subliminarmente eliminando a responsabilidade do Estado e terceirizando os recursos públicos para entidades privadas.  

O tempo de formação deveria ser o mais rápido possível; a industrialização estava à espera da mão de obra conforme previsto nos programas de ajuda MEC/USAID, e para tanto a regra era a agilização do calendário escolar transformando o regime anual em semestral, evitando que alunos se permitissem criar vínculos estudantis capazes de subverter a ordem; do mesmo modo a jubilação que expulsava os alunos reprovados em matérias algumas vezes por conta de “balburdias” nos grêmios estudantis.

Os discursos da época se reproduzem atualmente como a erradicação do analfabetismo, valorização da educação, tradicionalismo, aplicação dos recursos em prioridades, a busca do estudante profissional apto a preencher o “mercado” de trabalho, tudo sob a intimidação politico autoritária, incluindo a destinação dos recursos de acordo com a conveniência. 
A receita para as políticas públicas incentivadas por programas liberais, com aquiescência de grupos econômicos e instituições financeiras é a privatização do ensino público com a justificativa de atingir níveis de qualidade suprindo as restrições orçamentarias, apesar de que a educação pública seja dever constitucional do Estado.

No anuncio recente da descentralização dos investimentos das áreas de Filosofia e Sociologia justificando que “o objetivo é focar em áreas que gerem retorno imediato (?) ao contribuinte, como: veterinária, engenharia e medicina” denota-se que a intenção por conta da balburdia educacional seria eliminar ideologicamente os estudos das ciências humanas, ou seja, evitar o entendimento da nossa realidade dissimulando os problemas que induzem as diferenças de classe e a distribuição da riqueza, tolhendo toda forma de pensamento e das relações sociais a partir da educação.

A afirmação que o objetivo do governo atual seria fazer “o Brasil semelhante àquele que tínhamos há 40, 50 anos atrás” nos tem parecido verdadeira pelo menos naquilo que se tem noticiado nestes quatro meses para a área da educação. Estamos de volta ao passado!