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Luiz Eduardo Silva Parreira: "O dia em que a cobra fumou"

Especialista em Gestão de Negócios pela Fundação Dom Cabral e membro da ADESG/MS

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Na manhã de 21 de fevereiro de 1945, a região de Monte Castello, na Itália, distante 300 quilômetros a nordeste de Roma, amanheceu debaixo de fogo da artilharia aliada. Eram granadas de 105 milímetros, lançadas pelos obuses da Força Expedicionária Brasileira, a FEB! No fim da tarde daquele dia, a Infantaria do Exército Brasileiro conquistou esta importante posição; ponto de partida do seu avanço pelo vale do Rio Pó, até a vitória final, em 8 de maio daquele ano.

Em números, significa dizer que a FEB capturou 20.573 soldados inimigos, entre os quais 2 generais, 892 oficiais e 19.679 praças, e impediu que essas forças alemãs conseguissem voltar para sua terra e reforçar as tropas de resistência, que lutavam contra soviéticos, norte-americanos, franceses, ingleses e demais aliados, em solo do III Reich. Fora o fato de que os Estados Unidos da América, a Grã-Bretanha e o Canadá só puderam executar a operação Overlord (o Dia D) porque o efetivo de vários países, entre eles a FEB, os substituiu nos combates do teatro de operações da Itália.

A força brasileira tinha como emblema uma cobra fumando, pois, na época, dizia-se ser mais fácil uma cobra fumar cachimbo do que o Brasil participar da Segunda Guerra Mundial. Mas naquela tarde de 1945, e vinha sendo assim desde 16 de setembro de 1944, a cobra fumou! E continuou fumando, de vitória em vitória, mostrando sua capacidade de combate e garra, a ponto de ter havido o convite para que a FEB fosse parte das forças de ocupação da Áustria, no fim da guerra. Convite este recusado por Getúlio Vargas.
O Brasil enviou mais de 20 mil homens para lutar na Itália. Eram chamados de Pracinhas, que divididos por estados (da época) foram: 91 do Amazonas; 281 do Pará; 111 de Goiás; 136 do Maranhão; 67 do Piauí; 377 do Ceará; 341 do Rio Grande do Norte; 349 da Paraíba; 651 de Pernambuco; 148 de Alagoas; 192 de Sergipe; 686 da Bahia; 343 do Espírito Santo; 7.586 do Rio de Janeiro; 1.542 do Paraná; 956 de Santa Catarina; 1.880 do Rio Grande do Sul; 2.947 de Minas Gerais; 679 de Mato Grosso; e 3.889 de São Paulo.

Muitas cidades homenagearam a FEB, dando a algumas ruas, praças, prédios e monumentos o nome de suas vitórias, como é o caso de Campo Grande, que tem a Avenida Monte Castelo. Mas, se a FEB recebeu tantas homenagens, onde estão – e quem são – os Pracinhas Expedicionários de Mato Grosso do Sul? Infelizmente, a maioria já partiu. Dos poucos ainda vivos, destaca-se o senhor Agostinho Gonçalves da Mota, presidente da Seção Regional – Mato Grosso do Sul, da Associação Nacional dos Veteranos da FEB. Há 73 anos, ele lutou em Monte Castello. Hoje, a sua batalha é outra: lutar contra a falta de memória com relação à FEB!

Que em 2018 nos lembremos daqueles jovens que há sete décadas arriscaram suas vidas na conquista de Monte Castello e ajudaram a erradicar o nazismo da Europa. O mínimo que podemos fazer é não deixar que os seus feitos sejam enuviados pelo descaso e que a nova geração saiba que a cobra fumou!