Artigos e Opinião

OPINIÃO

Luiz Carlos Pais: "História da imprensa em Ponta Porã"

Professor aposentado

Redação

03/12/2016 - 01h00
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O ano de 1920 está na história da imprensa sul-mato-grossense devido ao lançamento do primeiro número de O Progresso, de Ponta Porã, jornal de propriedade de José dos Passos Rangel Torres. Advogado formado em 1914, pela Faculdade de Direito de Recife, Rangel Torres foi promotor de justiça em Bela Vista, na mesma região. Fixou residência em Ponta Porã, onde exerceu o jornalismo, por vários anos.

Ao ser lançado, o histórico jornal ponta-poranense foi muito bem aceito pela sociedade local, recebendo elogios pela qualidade das notícias e artigos publicados. Três anos após, era anunciado como semanário independente a serviço do interesse do povo da cidade.

Criado em 1912, o município de Ponta Porã estava na fase áurea do ciclo da erva-mate, história narrada pelo ilustre escritor nioaquense Hélio Serejo. Foi nesse contexto que, oito anos depois, o título escolhido para batizar o jornal expressou, com pertinência, “o progresso” da região. O povoado, berço da progressista cidade, começou a ser erguido próximo a um quartel construído para guarnecer as fronteiras demarcadas, após o término da guerra com o Paraguai.

Atualmente, ainda é possível acessar cerca de 80 de suas edições digitalizadas, publicadas entre 1923 e 1927, disponíveis no site da Biblioteca Nacional. São páginas que registram eventos marcantes da história sul-mato-grossense, na fronteira de nossas raízes guaranis. Quando estava no 4º ano de circulação, em 6 de maio de 1923, o referido jornal publicou uma ampla reportagem sobre a Empresa Mate Laranjeira, ressaltando a sua exuberância e imbatível organização na produção de erva-mate, além de relevar seus estreitos laços de afinidade com a política centralizada em Cuiabá. 

Em meados de 1924, no contexto da revolução paulista, a trajetória de O Progresso foi interrompida, devido à censura “indireta” imposta pelo comandante da Circunscrição Militar de Campo Grande. Em 10 de agosto do mesmo ano, o editor explicou os motivos da suspensão temporária do jornal, prometendo retomar a publicação, após a volta à normalidade.

Assim se expressando: “Tomamos essa deliberação por entender que, não tendo sido decretado estado de sítio para o território mato-grossense, não pode a liberdade de imprensa ser cerceada por nenhuma medida.” Dois anos depois, o bravo periódico voltou a circular, conforme noticiou a Gazeta do Commercio, de Três Lagoas, em 1º de agosto de 1926.

Para finalizar, cumpre observar que o jornalista Rangel Torres era pai do também advogado, poeta e jornalista Weimar Gonçalves Torres, que, em 1951, preservando o mesmo título, lançou O Progresso, em Dourados. Assim, teve início a trajetória do atual diário douradense, um dos representantes da exitosa imprensa sexagenária sul-mato-grossense, ou seja, que persiste na arena jornalística, depois de seis décadas de existência, como é o caso do Correio do Estado, de Campo Grande.

editorial

Depurar a polícia para fortalecer a lei

Policiais que se corrompem colocam em risco mais do que suas próprias carreiras, comprometem a integridade de todo o sistema de segurança pública

04/12/2025 08h30

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A investigação conduzida pela Polícia Federal envolvendo dois policiais de Mato Grosso do Sul – um militar e outro civil – suspeitos de ligação com o contrabando é mais do que necessária: é fundamental para a saúde institucional do País. A depuração interna, especialmente quando atinge aqueles que deveriam zelar pela lei, é um dos pilares de qualquer sistema de segurança pública que pretenda inspirar confiança. Porque, para que a polícia funcione a contento, não basta treinar, equipar ou ampliar efetivos, é preciso oxigenar constantemente suas estruturas, renovar práticas e reafirmar o compromisso ético de seus integrantes.

Uma polícia não pode ser guiada por convicções pessoais, crenças particulares ou simpatias ideológicas. Sua atuação deve ser ancorada em fatos, provas e legalidade. A independência funcional não é luxo, é condição indispensável para que a instituição cumpra seu papel de proteger a sociedade e manter o funcionamento correto das instituições democráticas. Quando um policial se afasta desse caminho, toda a corporação sente o impacto. Quando dois, três ou mais o fazem, instala-se o risco de corrosão da credibilidade – e confiança perdida é difícil de recuperar.

Policiais que se corrompem colocam em risco mais do que suas próprias carreiras, comprometem a integridade de todo o sistema. Um agente que hoje se alia ao contrabando – atividade historicamente ligada ao crime organizado e ao financiamento de facções – pode amanhã se associar a delitos ainda mais graves. E quando essas “maçãs podres” não são identificadas e afastadas rapidamente, o prejuízo institucional se amplia: a população passa a desconfiar da capacidade do Estado de se proteger de dentro para fora. A sensação de impunidade alimenta a descrença no sistema de Justiça e fragiliza o combate ao crime.

O combate sério à criminalidade começa dentro da própria polícia. Antes de enfrentar quadrilhas nas ruas, é necessário ter a certeza de que ninguém dentro da corporação atua em sentido contrário, prestando serviço clandestino às mesmas organizações que se pretende combater. A depuração interna, quando bem conduzida, eleva o padrão ético da instituição, fortalece o controle e envia à sociedade a mensagem de que corrupção não será tolerada, venha de onde vier.

Em Mato Grosso do Sul, essa necessidade é ainda mais urgente. O Estado, que faz fronteira com a Bolívia e o Paraguai, é um dos principais corredores logísticos de organizações criminosas brasileiras. Do tráfico de drogas ao contrabando, passando pela circulação de armas e mercadorias ilegais, a pressão do crime organizado sobre servidores públicos é permanente. Isso exige das forças de segurança um trabalho redobrado de investigação interna, monitoramento de condutas, treinamento contínuo e políticas firmes de integridade.

É assim que se constrói segurança pública de verdade: com instituições que têm coragem de olhar para dentro, admitir falhas, responsabilizar culpados e preservar quem trabalha corretamente. A Polícia Federal, ao investigar policiais suspeitos de envolvimento com crimes de fronteira, reafirma esse compromisso. O caminho da depuração é duro, mas é o único capaz de garantir que as forças de segurança continuem sendo o que a sociedade espera delas: guardiãs da lei, e não cúmplices de quem a viola.

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ARTIGOS

Multar no trânsito é o suficiente?

Dados corroboram o pensamento de que dirigir pode ser estressante e até mesmo desafiador, principalmente se observarmos um contexto em que muitos buscam vantagem sobre o próximo

03/12/2025 07h45

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Dirigir é um ato de responsabilidade. Ter atenção ao volante e cuidados antes de pegar a estrada – como não ingerir bebidas alcoólicas, por exemplo – são parte do papel do motorista dentro da sociedade, apesar de extremamente necessárias.

Para além disso, a cordialidade e o respeito com os demais condutores são pilares para o cotidiano saudável nas vias. No entanto, o que se percebe é bem diferente.

Uma pesquisa divulgada em 2024 pelo Instituto Real Time Big Data, que analisou o comportamento dos brasileiros no trânsito, revelou que mais de 80% dos entrevistados já xingaram outros motoristas, enquanto quase 70% já realizaram gestos obscenos.

Os dados corroboram o pensamento de que dirigir pode ser estressante e até mesmo desafiador, principalmente se observarmos um contexto em que muitos buscam vantagem sobre o próximo.

Entre ofensas e irresponsabilidades, uma pergunta surge: multar é o suficiente? Para levantar o debate, o olhar deve ser direcionado primeiramente para o ponto de origem. Formar condutores não deve se limitar a preparar para o exame da CNH.

É essencial que o processo estimule a compreensão de que a melhor direção é a defensiva, fundamental para garantir segurança e respeito no dia a dia.

Somado a isso, o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) garante que “o maior protege o menor”, de acordo com o artigo 29, parágrafo 2°. A base é precisa e ainda estabelece um limite entre os motoristas, que optam por ignorar a norma a fim de economizar segundos no tempo do trajeto. É em casos como esse que acidentes são flagrados diariamente e o egoísmo nas estradas fica escancarado.

Conectada ao individualismo, a imprudência recebe destaque. É comum telejornais noticiarem tragédias provocadas pela falta de responsabilidade, como acidentes envolvendo pessoas alcoolizadas ao volante e avanços do sinal vermelho.

O cenário, por mais que seja um forte exemplo de condutas que não devem ser seguidas, é rotineiro e, muitas vezes, fatal.

Levar a educação ao trânsito vai além da aplicação de simples multas. É preciso que o condutor compreenda seu papel dentro do convívio social e estabeleça o respeito pelo próximo mesmo que não esteja dirigindo – uma vez que um bom pedestre precede um motorista consciente.

A aplicação de multas nesse contexto é importante, mas corre o risco de ser apenas um paliativo dentro de tantas mudanças a serem feitas.

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