Este trecho da canção folclórica infantil – Peixe Vivo vem ilustrar a fase marcada pela infância, carente de cuidados e educação. Como pode um peixe vivo viver fora d’água fria? Como poderei viver sem a tua companhia? Como pode a criança viver sem a atenção e companhia do adulto? Como pode a criança ser desconsiderada na sua história e nos encantamentos da infância?
Como pode a criança ser vítima das irresponsabilidades, negligências e insensibilidade da família, da sociedade, do governo, etc e tal? Como pode a criança ter os laços maternos tão insanamente rompidos? A criança, hoje, em grande parte, vive ou sobrevive em ambientes poluídos de desafetos, crueldade e violência psicológica, física, desamparada nas suas necessidades, sem a ternura, o carinho, o respeito e a educação, necessários para os primeiros anos de vida.
Os pais espalham sem medida, suas “crias”, e mergulham-nas em um faz de conta literalmente mentiroso, confuso e tóxico em todos os sentidos, impensadamente. Submetendo-as em um troca-troca de pais, mães, padrastos, avós e tias/os, vizinhos ou até desconhecidos. Todos coletivamente responsáveis pela criança, perdida em meio a uma miscelânea de hábitos, ou maus hábitos, vícios, pornografias, regras, na maior parte ausência delas.... Como poderá a criança viver assim? E suas potencialidades? E o respeito às suas particularidades/necessidades? A criança possui uma riqueza inesgotável de possibilidades, desde o nascimento até ao longo de toda infância, necessitando de referências, atenção, orientações, educação. “A criança absorve a total agudez das palavras, dos gestos, da agressividade dos adultos, incorporando no seu “eu” os sentimentos alheios”.
Esse é um pensamento do Francês Merleau Ponty, que ainda acrescenta: “a relação humana e parental vai garantir, de forma tanto positiva quanto negativa, de forma saudável ou nociva, à construção do “eu”, na criança”. Essas relações é que serão a base, o alicerce da criança, futuro cidadão. Ainda lembrando dos pensadores da Educação, destacamos o que Jean-Jacques Rosseau dizia, que “a criança será o que fazermos dela.
A criança é um ser em condição única, à espera de orientação, carinho e formação”. Nos lares, as vivências, as relações, o cotidiano imerso em um emaranhado de conflitos, distorções, contradições e descasos com as necessidades da criança, só nos faz lamentar que hoje, não é o boi da cara preta, ou a cuca, que amedrontam as crianças.
Os desajustes familiares, a inconstância das relações, os abusos e maus tratos, o desrespeito e a falta de educação e amor aos filhos, é que retratam o bicho papão a arruinar a docilidade e inocência próprias da infância. Não é o anel que era de vidro e se quebrou...é a família que se desmantelou.
A impaciência e a desatenção que sufocou, ou o amor que era pouco, o que nem existiu que se acabou. A canoa...irremediavelmente virou!