Os moradores de Campo Grande sentem-se profundamente frustrados ao passar pela Avenida Afonso Pena e se depararem com a obra inacabada do Aquário do Pantanal.
O ser humano, naturalmente, sente-se incomodado com qualquer coisa que esteja inacabada. Imagine você tendo de conviver diariamente com algo que começou a fazer dentro de casa e não terminou; seja uma mudança estrutural na casa, seja mesmo alguma alteração no mobiliário. O inacabado atrapalha não somente o cotidiano dos que convivem com sua presença, mas também faz pior: transmite a todos impressões negativas, relacionadas a procrastinação e desleixo.
Locomover-se pelo Brasil é deparar-se com sucessões de obras e projetos inacabados. O curioso é lembrar que tudo que está inacabado um dia foi uma ideia repleta de boas expectativas e de visões otimistas para o futuro. Mas como já diziam nossos sábios avós: de boas intenções o inferno está cheio. Não basta querer algo bom, é preciso criar condições para concluí-las. Ou seja, é preciso muita seriedade e foco para que as tarefas sejam sempre cumpridas.
Nesta edição, por exemplo, voltamos a contar mais um capítulo da longa novela chamada Aquário do Pantanal. Desta vez, mostramos o andamento de uma das licitações para a conclusão da obra, que começou no início da década e que caminha para que, ao fim dela, não esteja concluída.
Se existe um projeto visionário e repleto de boas intenções, certamente este é o projeto do Aquário do Pantanal. Sua estrutura extrapola a de um aquário para visitação de turistas e a de um centro de pesquisas. Assinado por Ruy Ohtake, um dos arquitetos brasileiros mais celebrados do mundo, o edifício é, por si só, um monumento.
Mas o Aquário do Pantanal vai além disso. O local, se e quando concluído, não perderá em nada para nenhum dos grandes aquários do mundo. A projeção é de que, em um período relativamente curto, ele pague – por meio de geração de receita e de impostos pela atração de turistas – o custo de sua implantação. Para gerenciar o empreendimento, existe nada menos que o Consórcio Cataratas, que administra os três parques nacionais mais visitados do Brasil (Iguaçu, Tijuca – Cristo Redentor e Fernando de Noronha) e venceu licitação de concessão do Aquário do Pantanal em 2014.
Motivos para a conclusão do aquário não faltam. Todos eles, claro, têm uma conotação otimista. Os motivos da paralisação, porém, também são importantes de serem lembrados. Depois que a Operação Lama Asfáltica teve início, uma das mais abrangentes investigações de combate a crimes de corrupção e lavagem de dinheiro desta década, a obra do Aquário do Pantanal acabou paralisada, sobretudo porque a Proteco, empreiteira que executava o edifício do aquário, foi duramente atingida.
Passada a Operação Lama Asfáltica, o governo de Mato Grosso do Sul agora faz o correto: retoma a obra e busca concluí-la. Que este trabalho seja concluído rapidamente. Os moradores de Campo Grande sentem-se profundamente frustrados ao passar pela Avenida Afonso Pena e se depararem com a obra inacabada.