Nenhuma polícia deve ser vista como uma legião de super-heróis. Policiais devem ser reconhecidos como servidores públicos que prestam um serviço à população.
Operação desencadeada anteontem pela Corregedoria da Polícia Militar e pelo Grupo de Apoio Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) resultou na prisão preventiva de 20 policiais militares e na detenção temporária de outro integrante da mesma corporação, e, ao contrário do que diz a maioria dos defensores das polícias e do setor de segurança pública, essa não é uma notícia negativa. Não se trata de algo prejudicial para a imagem da PM, ultimamente tão exaltada nas redes sociais em meio ao aumento da criminalidade e da sede da população por punição de criminosos.
A prisão de um número considerável de policiais militares, entre os quais três oficiais (um major e dois tenentes-coronéis), é algo a se comemorar. É o sinal de que a corregedoria da instituição está funcionando. É a demonstração de que a polícia, antes de sair caçando criminosos na sociedade, está tentando limpar seus quadros para, enfim, dar o exemplo.
A operação do Gaeco e da Corregedoria da PM deve ser vista com bons olhos, pois traz coerência na ação destas forças da segurança pública e reforça as instituições. É certo, claro, que a notícia de que 20 policiais militares de Mato Grosso do Sul foram para cadeia pode ter confundido a cabeça de muita gente, sobretudo os que se informam basicamente por redes sociais e por programas policiais com excesso de carga opinativa e pouca notícia sobre o fato. É por causa destas duas formas de se comunicar que se propagou nos últimos anos a visão distorcida de que policiais são super-heróis e que qualquer pessoa no caminho destes agentes da lei é, naturalmente, um bandido. Isso nunca foi verdade, e a prisão dos agentes suspeitos de facilitar o contrabando de cigarros ocorrida anteontem é a comprovação de que policiais – assim como qualquer outro ser humano – também cometem crimes. Acreditem!
O fortalecimento das corregedorias, não só da Polícia Militar, mas de todo órgão da Justiça e da Segurança Pública, é importantíssimo, pois dá legitimidade às punições aos cidadãos comuns. Não há sensação de justiça, quando se é preso ou punido por instituições cujos integrantes saem impunes dos crimes que – em tese – deveriam reprimir ou prevenir. Na manhã de ontem, o prefeito de Campo Grande, Marcos Trad, disse a guardas municipais que “mesmo que eles façam a ‘coisa certa’, os erros serão sempre mais exaltados”, ao comentar sobre a capa de ontem do Correio do Estado, em que é noticiada a prisão de 20 PMs. Comentário infeliz, pois a punição de policiais não se trata de um erro, mas de um acerto da própria polícia, que é quem os pune.
Toda polícia, seja Estadual, Militar, Civil, Federal ou Rodoviária Federal, não deve ser vista pela população como uma Liga da Justiça ou alguma outra legião de super-heróis de estúdios, como Marvel e DC Comics. Os policiais devem ser reconhecidos como servidores públicos que prestam um serviço à população, cujo objetivo é a manutenção da ordem. É preciso acabar com o maniqueísmo que ainda predomina na sociedade brasileira, em que há mocinhos de um lado (da polícia) e bandidos do outro, sobretudo porque, às vezes, como no caso desta semana, eles podem atuar em conjunto, e quem perde é o restante da sociedade, principalmente, aqueles que ainda acreditam nesta divisão simplória e equivocada.