Artigos e Opinião

Correio do Estado

Leia o editorial desta segunda-feira: "Construção civil sai da UTI"

Leia o editorial desta segunda-feira: "Construção civil sai da UTI"

Redação

09/04/2018 - 03h00
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Situação econômica do setor, que serve de termômetro para tantos outros, ainda requer alguns cuidados, mas, ao menos, voltou a respirar sem aparelhos em Mato Grosso do Sul.

Depois de dois anos de profunda recessão econômica, a construção civil consegue respirar aliviada. Ao encerrar o ano passado com melhora nas vendas, como mostra reportagem desta segunda-feira do Correio do Estado, o setor está confiante na recuperação para 2018, mesmo que ainda haja algumas turbulências políticas no meio do caminho. O cenário econômico ainda está longe do que foi visto nos anos pré-crise, quando Mato Grosso do Sul experimentava desenvolvimento acelerado com uma construção civil superaquecida. A situação econômica do setor, um dos principais termômetros para outros segmentos, ainda requer cuidados, mas já deixou a “unidade de tratamento intensivo” (UTI) e volta a respirar sem a ajuda de aparelhos. O ano de 2017 se encerrou com alta nas vendas, o que fez crescer o otimismo dos empresários. Afinal, se a construção civil começa a crescer, é sinal de recuperação de todos os outros setores.

O aumento das vendas de materiais de construção aponta que o trabalhador perdeu o medo de ficar desempregado e voltou a se sentir seguro o suficiente para investir, seja na compra de um imóvel ou até mesmo na reforma da casa em que vive. Mostra ainda que o empresário, que até então vinha segurando as pontas diante da queda nas vendas e do cenário de incertezas, também voltou a investir em ampliações. A roda, que ficou parada por mais de dois anos, voltou a girar, mesmo que ainda lentamente, e a expectativa é de que o impulso necessário para que ela volte ao ritmo normal ocorra ainda neste ano, no segundo semestre.

Esse otimismo na retomada do crescimento se deve a outro indicador: o de geração de empregos. No ano passado, Mato Grosso do Sul, que até então vinha conseguindo segurar os índices de desemprego graças ao agronegócio, fechou com um saldo negativo de mais de 6,6 mil empregos extintos. O jogo começou a virar já no primeiro mês do ano e, em fevereiro, fechou com saldo positivo de 3,2 mil empregos a mais. Esse resultado, melhor dos últimos três anos, foi puxado pelo setor de serviços, que vinha em queda e que colocou Campo Grande em uma posição que há algum tempo não ocupava, a de campeã em geração de empregos no Estado.

Com inflação controlada e juros em queda, segmentos como o da indústria automotiva – que também teve alta nas vendas em Mato Grosso do Sul – já estão afirmando que a crise econômica passou. Hoje, o único risco para o Brasil seria uma nova crise política. Estamos, porém, longe de uma situação tranquila. Mesmo que tenha voltado a andar, o Brasil tem um longo caminho para percorrer em busca do desenvolvimento econômico, que precisa ser trilhado com investimentos em infraestrutura, saúde e, principalmente, educação.

EDITORIAL

As bolhas que nos afastam da realidade

Enquanto uma parte do Estado amplia suas zonas de conforto, outra é pressionada a fazer mais com menos, arcando com o desgaste político e social das escolhas difíceis

17/12/2025 07h15

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A expressão “estar em uma bolha” deixou de ser apenas uma gíria de internet para se transformar em um retrato cada vez mais fiel da forma como a sociedade vem se organizando. Nas redes sociais, algoritmos direcionam conteúdos, opiniões e notícias de acordo com preferências previamente identificadas.

O resultado é um ambiente confortável em que quase tudo confirma aquilo que o indivíduo já pensa. Divergir passa a ser exceção e confrontar ideias, um incômodo evitado.

Fora do ambiente digital, a lógica das bolhas também se impõe. O isolamento crescente em condomínios fechados, verticais ou horizontais, reduz o contato cotidiano com o diferente. Ao limitar o convívio, o indivíduo perde a oportunidade de compreender realidades distintas da sua própria.

Torna-se, ao mesmo tempo, mais desconfiado e mais desinformado, conhecendo o mundo mais pelo “ouvir dizer” do que pela experiência direta. A realidade passa a ser filtrada, editada e, muitas vezes, distorcida.

As bolhas criam falsas impressões. Quando se consolidam em grupos, reforçadas pelo sentimento de pertencimento, geram uma perigosa falta de sintonia com o restante da sociedade. Problemas coletivos passam a ser relativizados, minimizados ou simplesmente ignorados.

A empatia dá lugar à autoproteção e o interesse público acaba substituído pela preservação de privilégios.

Nesta edição, mostramos um exemplo concreto dessa desconexão: o aumento do duodécimo para quase todas as instituições de Mato Grosso do Sul, mesmo após um ano marcado por crise financeira, enquanto cresce a sobrecarga sobre o Poder Executivo.

É sobre ele que recai, de forma quase exclusiva, o peso de enfrentar as dores reais da sociedade: da falta de recursos para serviços essenciais às demandas crescentes por saúde, educação, transporte e assistência social.

Essa discrepância orçamentária não é apenas um dado técnico. Ela reforça as bolhas institucionais. Enquanto uma parte do Estado amplia suas zonas de conforto, outra é pressionada a fazer mais com menos, arcando com o desgaste político e social das escolhas difíceis.

Trata-se de um desequilíbrio que aprofunda a sensação de injustiça e distancia ainda mais as instituições da realidade vivida pela população.

Seria desejável que integrantes das instituições que recebem repasses de duodécimo saíssem de suas bolhas. Que vivessem mais intensamente a realidade fora de gabinetes, relatórios e planilhas.

Que entendessem que, em tempos de dificuldades financeiras, reforçar privilégios e ampliar confortos institucionais não é apenas insensível, é socialmente injusto.

Romper bolhas não é simples, mas é necessário. Para indivíduos, para grupos e, sobretudo, para instituições públicas. A democracia e a justiça social exigem mais contato com a realidade concreta e menos acomodação em mundos protegidos. Caso contrário, seguiremos administrando percepções, e não problemas reais.

ARTIGOS

A Interpol e as lições do roubo ao Louvre: quando a cultura exige proteção global

O que alguns insistem em tratar como luxo é, na verdade, expressão de identidade coletiva, memória histórica e soberania cultural

16/12/2025 07h45

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A Interpol é amplamente reconhecida por seus sistemas de avisos e pela atuação no combate ao crime organizado transnacional.

O recente episódio envolvendo o Louvre, porém, recoloca em evidência um ponto ainda subestimado no debate público: crimes não violentos, como o roubo de bens culturais, também demandam tutela internacional qualificada.

O tráfico de obras de arte e de patrimônio histórico segue sendo um delito de baixo risco e alto lucro, alimentado pela opacidade do mercado e pela fragmentação das respostas estatais.

O que alguns insistem em tratar como luxo é, na verdade, expressão de identidade coletiva, memória histórica e soberania cultural. A Interpol parte dessa premissa, ao reconhecer a cultura como interesse jurídico protegido, merecedor da mesma atenção dedicada à vida, à segurança e à integridade física.

Nesse contexto, o Banco de Dados de Obras de Arte Roubadas da organização cumpre papel central: dar rastreabilidade a um mercado em que o patrimônio cultural pode, com facilidade, converter-se em saque.

A existência do banco de dados não é apenas simbólica. Ela permite a identificação de peças subtraídas, inibe a circulação ilícita e oferece suporte técnico às investigações nacionais.

Ainda assim, a eficácia do sistema depende de algo que nem sempre acompanha a velocidade do crime: cooperação internacional efetiva e compartilhamento ágil de informações entre agências de aplicação da lei.

Há espaço evidente para aprimoramentos. A ampliação do banco de dados com atualizações em tempo real, a integração mais ampla de museus, casas de leilão e colecionadores privados, além de protocolos obrigatórios de verificação de procedência, fortaleceriam significativamente o combate ao tráfico ilícito.

Do mesmo modo, penalidades mais rigorosas e treinamento especializado para forças policiais e autoridades alfandegárias são medidas indispensáveis para reduzir a atratividade econômica desse tipo de crime.

O episódio do Louvre serve como alerta. Proteger bens culturais não é capricho elitista nem pauta secundária: é defesa da memória, da identidade e do patrimônio comum da humanidade.

Quando uma obra é roubada, perde-se mais do que um objeto, perde-se um fragmento da história coletiva. A resposta, portanto, precisa ser global, coordenada e à altura desse valor.

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