Com fama de ser uma das capitais mais arborizadas do Brasil, Campo Grande precisa tirar o seu Plano de Arborização Urbana, de 2010, da gaveta e aplicá-lo com atenção.
Campo Grande corre o risco de perder a fama de ser uma das capitais mais arborizadas do Brasil por falta de planejamento e manejo adequado dessa riqueza. Há mais de um ano, a prefeitura, como já admitido, não faz o trabalho de podas de árvores e não tem fiscais suficientes para garantir que a lei ambiental que proíbe cortes radicais seja cumprida. Com isso, vemos casos em que árvores perdem mais de metade da copa em benefício da fiação ou por sujar a calçada, deixando-as apenas com os troncos. Lembrando que a poda radical é crime, uma vez que mata a espécie. Agora, nem mesmo o plantio de novas árvores tem sido feito de maneira adequada. Como informado em matéria desta terça-feira do Correio do Estado, estão sendo plantadas árvores inapropriadas para o meio urbano. Entre os exemplos, está a sibipiruna, espécie frondosa, mas que oferece risco de queda e substituições. Essas ressalvas, por sinal, estão contidas no Plano Diretor de Arborização, de 2010, que acumula poeira em alguma gaveta em vez de servir de diretriz para a urbanização e a arborização da cidade. Seja para planejar ações voltadas para o urbanismo ou para a manutenção da fama de capital arborizada, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Gestão Urbana (Semadur) precisa ter um único foco. Casos como o da Taxa do Lixo, que foi parar na pasta – ainda que exista uma Secretaria de Finanças, na mesma administração –, só servem para tirar o foco principal da pasta e resultar em caos, como ocorreu no início deste ano. A Semadur precisa não só ter uma única função, mas também meios para executá-la. Sem fiscais, fica impossível combater os abusos da poda radical, a devastação do verde e até mesmo acompanhar canteiros e áreas públicas adotadas por empresas da Capital. O Programa de Parceria Municipal (Propam) é antigo e foi intensificado no ano passado. A ideia não poderia ser melhor. Sem recursos suficientes para promover a manutenção de áreas públicas, a administração as cede para a iniciativa privada em troca de publicidade.
Trata-se de uma parceria em que todos deveriam ganhar: a população, que volta a ter uma área bem cuidada, e a empresa, que faz sua ação social e recebe publicidade em troca.
Na prática, tem muito canteiro adotado somente no papel. A empresa ganha o direito de explorar a publicidade, mas pouco faz em troca para merecer esse espaço. São vários canteiros espalhados pela cidade em que a manutenção, quando não deficitária, é praticamente inexistente. Em contrapartida, as placas com os nomes das empresas madrinhas continuam lá. O Instituto Municipal de Planejamento Urbano (Planurb) precisa garantir que a empresa cumpra o que prometeu, dando orientação aos que precisam e, em casos extremos, excluindo os não merecedores. Essa é uma forma até de enaltecer as empresas, de número igualmente grande, que cumprem o acordado com vigor. Há muita área pública, com um zelo admirável, mantida por empresas que respeitam a cidade e as suas marcas. Se Campo Grande quiser se manter como uma das capitais mais arborizadas do Brasil no futuro, é melhor voltar ao passado para aprender com os que a transformaram no que ela é hoje e começar a planejar desde já os próximos passos. O novo Plano Diretor é ferramenta indispensável nesse projeto. Por isso, é grande a importância de que a Câmara Municipal o vote com rapidez. Não dá para entender como um plano que, só no ano passado, passou por dezenas de audiências públicas seja rediscutido agora com mais uma rodada de audiências. Enquanto isso, investimentos, como a abertura de novas empresas ou novos loteamentos, estão parados. Mas, seja na economia ou no urbanismo, essa espera tem limite e o preço pago pelo tempo perdido costuma ser muito alto.