Feliz Ano-Novo!
O que eu poderia falar do ano que passou… Passou rápido? Passou voando? Qual o quê. Igual a todos os últimos, é óbvio que este foi um ano bom se eu considerar o que deu certo, os projetos que vingaram, minha família e nossos afetos, os novos amigos e os velhos também, o que foi possível celebrar, as bobagens que me fizeram rir, os livros incríveis que pude ler, as novas músicas que me encantaram, os filmes a que assisti, as viagens que eu fiz.
Mas não posso me queixar do que não deu certo, porque teria sido em vão; das sandices que ouvi, porque não posso querer que todos concordem comigo; nem das maldades, porque o ser humano serve para isso também. Fazer com que tudo o que importa caiba dentro da memória, quem há de?
Então, que venha 2018 com todas as suas possibilidades. Não adianta fazer previsões, porque prever é para os têm o dom, e eu não tenho. Só tenho esperanças e não me acostumo com elas.
Acostumar-se é morrer, já dizia Pessoa. Mas, na real, me dá um cansaço pensar que mais 365 dias vêm por aí. Que, para início de conversa, estou a me enganar na porta (de novo Pessoa), pois tenho que pagar todos os impostos com a certeza de não obter quase nada em troca.
Que os juízes, como li outro dia, estão com a macaca. Cada um com a sua e nada do Tarzan. Haja cipó. Que tenho que rezar pela previdência e não mais para a Providência.
Que o conservadorismo está tomando as ruas, atropelando a arte e sua humanidade. E o que poderia ser pior do que o show de cinismo de um horário eleitoral? Afe! Já imaginaram o que vai ser? Preparem o saco de risada, porque só ele vai achar graça. Mas, não, não quero ser pessimista.
Quero botar o meu bloco na rua, porque, se poesia não compra sapato, aos olhos de Emmanuel Marinho, como andar sem poesia?
Sei da insuficiência de tudo o que digo neste momento, mas todo ano é a mesma coisa, as mesmas dúvidas, os mesmos desejos, e fico com a impressão de que, como um computador, tenho memória expandida, ainda que seja uma leitura muito literal da expressão. Mas é uma boa expressão.
Não jogo nada fora, só vou acumulando ideais, revisitando pensamentos, experimentando novas combinações de palavras, aproximando imagens. Continuo fazendo minhas listas, mas as outras pessoas não precisam delas mais do que eu mesma. A cada um suas obsessões.
Para encerrar este começo, só posso dizer que as minhas expectativas para 2018 estão mais baixas do que as dos anos anteriores, sim.
Um após o outro virão os dias e, mesmo que de vez em quando “só o que chamamos de absurdo parece dar a tudo algum sentido”, como fragmentos de um velho poema que sempre volta a me atropelar, mais um ano vai passar, mais um ano contado em horas e, quem sabe, em risos, em todas as línguas, faça o mesmo balanço e conclua que foi mais um ano feliz.