Num estabelecimento bancário, tecnicamente, correntista é o cliente titular de uma conta corrente, na qual faz suas movimentações financeiras: depósitos de fundos, saques, recebe créditos de empréstimos contraídos junto ao banco, etc. Mas, pelo menos antigamente, era também a designação do empregado do banco que efetuava os lançamentos contábeis a débito e a crédito de tais contas.
Numa agência de um pequeno banco da cidade, laborava um diligente empregado, o Bartolomeu, Bartô para os amigos, operador de uma das máquinas de contas correntes; sua função era lançar nas respectivas fichas os cheques e depósitos dos clientes.
Os lançamentos eram feitos em duplicidade, ou seja, em duas máquinas, uma sintética e outra analítica, esta também gerando, por cópia, a folha que comporia o livro contábil denominado “Diário”. Cada uma tinha seu operador, sendo o Bartô responsável pelos lançamentos sintéticos.
No final do expediente eram confrontados os saldos dos dois sistemas, conta por conta, a fim de apurar a ocorrência de algum eventual erro.
Como em qualquer banco, havia um número relevante de contas paralisadas ou inativas, aquelas de que alguns clientes, por qualquer motivo, se esqueciam; elas ficavam separadas das movimentadas. Muitas pertenceram a clientes falecidos, cujos herdeiros as ignoravam, algumas até ostentando valores significativos.
Pois o Bartô inventou um modo criativo de se apropriar de valores dessas contas: ele emitia cheques seus na praça e, quando eram apresentados ao banco, lançava-os em alguma delas, previamente selecionada entre as inativadas havia mais tempo, a qual era inserida entre aquelas com movimentação.
Porém, ele retinha o cheque consigo, não deixando que fosse lançado pelo colega da máquina analítica. Quando este saía para almoçar, Bartô, pretextando praticar na outra máquina ou auxiliar o colega, cujo trabalho era mais complicado, efetuava o lançamento de parte dos documentos que se acumulavam durante o intervalo do titular, quando contabilizava seu próprio cheque na mesma conta, no outro sistema.
E assim caminhava a humanidade, enquanto Bartô ia embolsando um dinheirinho extra, que lhe permitia alguns pequenos luxos não comportados por seu salário normal. Mas tudo discretamente, para que ninguém desconfiasse de suas artimanhas.
Porém, como nem tudo dura para sempre, seu esquema também não poderia ir longe: um determinado cliente, depois de ter se esquecido de sua conta corrente por muitos anos, um belo dia descobriu em casa o talão de cheques correspondente, no qual estava anotado o saldo presumidamente existente; foi ao banco e pediu um extrato da conta, para confirmação.
Ao recebê-lo, verificou a existência de um pequeno saldo e o lançamento de vários cheques cuja numeração divergia daqueles em seu poder.
Foi ao gerente, mostrou a situação e pediu esclarecimentos. Confrontada a numeração dos cheques lançados na conta com as requisições de talões de cheques em arquivo, chegou-se a Bartolomeu, que confessou a fraude.