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ARTIGO

José Neres: "Os sábios ditados de nossos avós"

José Neres: "Os sábios ditados de nossos avós"

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Para muitas pessoas, idosos são sinônimo de rosto vincado pelas rugas, corpo cansado pelas duras batalhas contra o tempo e ideias ultrapassadas. No entanto, quando recebidos e acolhidos com a devida atenção, é possível perceber que por trás de cada uma dessas retinas se esconde todo um universo de saberes que, embora possam ser interpretados por alguns como algo obsoleto, ainda tem muito a ensinar tanto às pessoas de hoje quanto às que ainda virão.

Uma dessas fontes ancestrais de conhecimento e de sabedoria é o imenso arsenal de ditados populares que são evocados para explicar, analisar ou replicar situações e ideias tidas como modernas. Usando frases curtas, com alguma, senso de humor e bastante coerência nossos avós conseguem trazer à baila algumas noções que andam meio esquecidas em um mundo repleto de tecnologias, dados e informações acumuladas que nem sempre se transformam em conhecimento.

Desse modo, em um momento histórico que valoriza as posses e os oportunismos, nossos idosos dão lições de ética quando afirmam que “olho viu, mão não buliu”, ou seja, que não podemos nos apossar daquilo que não é nosso, que devemos deixar tudo no mesmo lugar e que a honestidade deve prevalecer.

Quando, em buscas de likes, curtidas e compartilhamentos, as pessoas postam fotos com personalidades e celebridades que nem sempre são exemplo de bom caráter e de reputação ilibada, nossa querida avó solta um breve sorriso e nos leva a refletir alertando: “diga-me com que andas e eu direi quem tu és” ou ironiza dizendo que “antes só que mal acompanhado”.

Em tempos nos quais os acusados não se defendem dizendo que são inocentes, mas sim tentando provar que as notícias são falsas – as chamadas fake News – ou dizendo que todos estão no mesmo nível ético, nossos amados idosos alertam que “onde há fumaça, há fogo”, isto é que não se deve “colocar a mão no fogo” por alguém a quem defendemos cegamente, apesar das evidências, afinal “quem se mistura com porcos, farelos come”.

Todos sabem também que “a mentira tem pernas curtas” e um dia, cedo ou tarde, toda a verdade virá à tona, então quem agora acredita piamente nessa onda de verdades fabricadas, ficará mais atento, afinal de contas “gato escaldado tem medo até de água fria”.

Os portadores dessas sabedorias populares costumam pregar que a paciência é uma grande virtude a ser preservada e cultivada, sabem que “devagar se vai ao longe” e que a ambição pode pôr tudo a perder, pois “mais vale um pássaro na mão do que dois voando” e que “a pressa é inimiga da perfeição”.

Embora alguns desses idosos apreciem passeios e visitas a casa de parentes e amigos, sabe que o lar é um “porto seguro em mares tempestuosos”, que “quem boa romaria faz, em sua casa está em paz” e que o aconselhado é sempre manter “cada macaco em seu galho”.

Contudo, às vezes, diante de tantas injustiças, nossos idosos acabam também apostando na ideia do “olho por olho, dente por dente” e creem que “ladrão que rouba ladrão merece cem anos de perdão”. Desconfiados, eles sabem que “as aparências enganam” e que “cesteiro que faz um cesto, faz um cento e, tendo cipó, faz duzentos”, logo é importante andar sempre “com um pé atrás” e “dormir com um olho aberto e um fechado”, afinal “precaução e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém”.

Nossos idosos são sábios. Quem se dispõem a passar um tempinho ouvindo suas experiências jamais sairá “com as mãos abanando”. Muitos nunca colocaram os pés em uma universidade, mas são doutores na arte de conhecer as entranhas da vida, raramente ficam totalmente parados, pois sabem que “camarão que dorme a onda leva”. São pessoas experientes, velhas não. Afinal: “velho é o mundo”.

EDITORIAL

As bolhas que nos afastam da realidade

Enquanto uma parte do Estado amplia suas zonas de conforto, outra é pressionada a fazer mais com menos, arcando com o desgaste político e social das escolhas difíceis

17/12/2025 07h15

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A expressão “estar em uma bolha” deixou de ser apenas uma gíria de internet para se transformar em um retrato cada vez mais fiel da forma como a sociedade vem se organizando. Nas redes sociais, algoritmos direcionam conteúdos, opiniões e notícias de acordo com preferências previamente identificadas.

O resultado é um ambiente confortável em que quase tudo confirma aquilo que o indivíduo já pensa. Divergir passa a ser exceção e confrontar ideias, um incômodo evitado.

Fora do ambiente digital, a lógica das bolhas também se impõe. O isolamento crescente em condomínios fechados, verticais ou horizontais, reduz o contato cotidiano com o diferente. Ao limitar o convívio, o indivíduo perde a oportunidade de compreender realidades distintas da sua própria.

Torna-se, ao mesmo tempo, mais desconfiado e mais desinformado, conhecendo o mundo mais pelo “ouvir dizer” do que pela experiência direta. A realidade passa a ser filtrada, editada e, muitas vezes, distorcida.

As bolhas criam falsas impressões. Quando se consolidam em grupos, reforçadas pelo sentimento de pertencimento, geram uma perigosa falta de sintonia com o restante da sociedade. Problemas coletivos passam a ser relativizados, minimizados ou simplesmente ignorados.

A empatia dá lugar à autoproteção e o interesse público acaba substituído pela preservação de privilégios.

Nesta edição, mostramos um exemplo concreto dessa desconexão: o aumento do duodécimo para quase todas as instituições de Mato Grosso do Sul, mesmo após um ano marcado por crise financeira, enquanto cresce a sobrecarga sobre o Poder Executivo.

É sobre ele que recai, de forma quase exclusiva, o peso de enfrentar as dores reais da sociedade: da falta de recursos para serviços essenciais às demandas crescentes por saúde, educação, transporte e assistência social.

Essa discrepância orçamentária não é apenas um dado técnico. Ela reforça as bolhas institucionais. Enquanto uma parte do Estado amplia suas zonas de conforto, outra é pressionada a fazer mais com menos, arcando com o desgaste político e social das escolhas difíceis.

Trata-se de um desequilíbrio que aprofunda a sensação de injustiça e distancia ainda mais as instituições da realidade vivida pela população.

Seria desejável que integrantes das instituições que recebem repasses de duodécimo saíssem de suas bolhas. Que vivessem mais intensamente a realidade fora de gabinetes, relatórios e planilhas.

Que entendessem que, em tempos de dificuldades financeiras, reforçar privilégios e ampliar confortos institucionais não é apenas insensível, é socialmente injusto.

Romper bolhas não é simples, mas é necessário. Para indivíduos, para grupos e, sobretudo, para instituições públicas. A democracia e a justiça social exigem mais contato com a realidade concreta e menos acomodação em mundos protegidos. Caso contrário, seguiremos administrando percepções, e não problemas reais.

ARTIGOS

A Interpol e as lições do roubo ao Louvre: quando a cultura exige proteção global

O que alguns insistem em tratar como luxo é, na verdade, expressão de identidade coletiva, memória histórica e soberania cultural

16/12/2025 07h45

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A Interpol é amplamente reconhecida por seus sistemas de avisos e pela atuação no combate ao crime organizado transnacional.

O recente episódio envolvendo o Louvre, porém, recoloca em evidência um ponto ainda subestimado no debate público: crimes não violentos, como o roubo de bens culturais, também demandam tutela internacional qualificada.

O tráfico de obras de arte e de patrimônio histórico segue sendo um delito de baixo risco e alto lucro, alimentado pela opacidade do mercado e pela fragmentação das respostas estatais.

O que alguns insistem em tratar como luxo é, na verdade, expressão de identidade coletiva, memória histórica e soberania cultural. A Interpol parte dessa premissa, ao reconhecer a cultura como interesse jurídico protegido, merecedor da mesma atenção dedicada à vida, à segurança e à integridade física.

Nesse contexto, o Banco de Dados de Obras de Arte Roubadas da organização cumpre papel central: dar rastreabilidade a um mercado em que o patrimônio cultural pode, com facilidade, converter-se em saque.

A existência do banco de dados não é apenas simbólica. Ela permite a identificação de peças subtraídas, inibe a circulação ilícita e oferece suporte técnico às investigações nacionais.

Ainda assim, a eficácia do sistema depende de algo que nem sempre acompanha a velocidade do crime: cooperação internacional efetiva e compartilhamento ágil de informações entre agências de aplicação da lei.

Há espaço evidente para aprimoramentos. A ampliação do banco de dados com atualizações em tempo real, a integração mais ampla de museus, casas de leilão e colecionadores privados, além de protocolos obrigatórios de verificação de procedência, fortaleceriam significativamente o combate ao tráfico ilícito.

Do mesmo modo, penalidades mais rigorosas e treinamento especializado para forças policiais e autoridades alfandegárias são medidas indispensáveis para reduzir a atratividade econômica desse tipo de crime.

O episódio do Louvre serve como alerta. Proteger bens culturais não é capricho elitista nem pauta secundária: é defesa da memória, da identidade e do patrimônio comum da humanidade.

Quando uma obra é roubada, perde-se mais do que um objeto, perde-se um fragmento da história coletiva. A resposta, portanto, precisa ser global, coordenada e à altura desse valor.

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