A afirmação do ex-ministro Delfim Netto de que “o Brasil deixou o poder econômico controlar a política” (Folha de S. Paulo, 03.7.17, A16) revela com muita clareza o contexto atual do nosso País.
Não obstante se trate de uma realidade que é do conhecimento e sentida pela maioria da população brasileira, não é despiciendo repetir as palavras da experiência desse economista adquirida, não só academicamente, mas também ao longo dos seus 89 anos de existência.
É recorrente ouvir que essa confusão entre o público e o privado é antiga, sobretudo no nosso País, o que retroage a 1500 quando Pero Vaz de Caminha aqui aportou, o que não deixa de ser verdade. Isso tudo agravado, para alguns, pelo sistema capitalista.
Essa situação tem seu fundo de verdade, mas que o quadro se agravou nos últimos 17 anos, independentemente de coloração político-ideológica, só não vê quem não quer. Mas isso não é consequência do capitalismo em si.
O problema está no homem, seja como político, empresário ou gestor. A busca do poder a qualquer custo é o grande vilão desse contexto.
A série de atos de corrupção que vêm sendo divulgada pela imprensa nos últimos tempos, entre eles, e apenas para exemplificar, a do transporte público no estado do Rio de Janeiro (Operação Ponto Final), envolvendo o Poder Executivo estadual, TCE e o setor privado, concedendo benefícios sem licitação (reajustes de tarifas acima do necessário, isenções fiscais de IPVA e ICMS de diesel, entre outras) em troca de propinas e em detrimento do interesse público, mais precisamente dos usuários, tendo como líder mor o ex-governador Sérgio Cabral durante e depois da sua gestão, revelam, com muita tristeza, a que ponto chegamos!
A situação do Rio de Janeiro é apenas um exemplo do contexto brasileiro. Não precisamos ir longe, e apenas à guisa de exemplo, o tal “conglomerado” de empresas existente aqui no Estado, entre elas Itel Informática, PSG Tecnologia Aplicada, Digitho Brasil Soluções em Software, atual Digix e Mil Tec Tecnologia da Informação, ligado a um único empresário, que, segundo noticiado pela imprensa, tem como propósito concentrar contratos milionários em detrimento do interesse público.
O que, por si só, se verdadeiro, revela o imbróglio entre o público e o privado, com uma única perdedora, que é a sociedade.
De fato, com a preponderância do poder econômico sobre o poder político, a confusão está formada e as consequências devastadoras estão aí desnudadas.
Com o passar do tempo, e graças aos trabalhos investigativos da imprensa e das autoridades (polícia, receita federal, Ministério Público e Judiciário, entre outras), vão se avolumando cada vez mais, isto é, estão vindo à tona. Milhões de reais/dólares daqui, bilhões dali surrupiados pela corrupção.
E, com isso, a população sendo massacrada em todos os sentidos e, de outro lado, alguns (e que não são poucos) vivendo no País das maravilhas. Mas isso tudo, é bom que se repita, não é culpa do capitalismo em si ou do poder econômico nem da política como arte/ciência de governança de um Município, Estado ou Nação.
O grande problema está no seu desvirtuamento, motivado, sobretudo, pela corrupção, ganância do poder.
O capitalismo gera riquezas e, desde que regrado, é o que sustenta, entre outros, os encargos sociais, previdenciários, saúde, educação e segurança pública.
De outra parte, é bom lembrar que não existe democracia sem políticos e sem partidos políticos. Poder econômico e política não são incompatíveis, ao contrário, complementam-se, desde que aquele não se sobreponha a esta.
O político, por sua vez, precisa, mais do que nunca, estar consciente do seu papel de gestor público em uma sociedade democrática. Ele foi eleito ou escolhido para administrar a coisa pública e não para se locupletar pessoalmente.
Eleitor, mais do que nunca, fique antenado. As eleições de 2018 estão chegando, prepare a vassoura.