Artigos e Opinião

artigo

A+ A-

João Batista
Pereira: 'Humilhados'

Advogado

Redação

23/01/2018 - 02h00
Continue lendo...

Brasileiros e estrangeiros são humilhados neste país, não interessando quem os humilha se pessoa física ou jurídica. Desdenham das pessoas aflorando a ignorante vaidade humana notadamente de quem exerce cargo público. Entendem ser o dono da verdade e estar acima do bem e do mal.

Machado de Assis em “Dom Casmurro” fala do personagem Marcolini, tenor decadente que justifica a falta de voz: “O desuso é que me faz mal”. Certa noite, depois de muito Chianti (vinhos tintos algo ásperos e ácidos, produzidos na região de Toscana Itália), discutia ser a vida uma ópera, viagem de mar ou uma batalha. Marcolini foi enfático: - “A vida é uma ópera e uma grande ópera”.

“O tenor e o barítono lutam pelo soprano, em presença do baixo e dos comprimários (parte secundária da ópera); quando não são o soprano e o contralto que lutam pelo tenor.” “Há coros numerosos, muitos bailados, e a orquestração é excelente...” e completou: “Deus é o poeta”. “A música é de Satanás”.

“Deus escreveu um libreto de ópera do qual abriu mão”. “Satanás levou o manuscrito para o inferno e compôs uma partitura e queria porque queria que Deus a ouvisse”. O Senhor declinou, mas diante de tanta insistência “Criou um teatro especial, este planeta, e inventou uma companhia inteira, com todas as partes...”

O Brasil com suas belezas naturais e um povo alegre faz parte desse teatro, embora governado de há muito com irresponsabilidade. O “velho tenor parafraseia a Escritura:” “Muitos são os chamados, poucos os escolhidos”. “Deus recebe em ouro, Satanás em papel”.

"Dom Casmurro" bem que poderia representar se Machado de Assis assim o permitisse o momento brasileiro. Está chegando a hora de o tenor e barítono (os políticos) coadjuvados pelos comprimários (seus asseclas) lutarem pelo soprano e o contralto (a população). Não se generaliza; mas pintam para os eleitores quadros mágicos de realizações benéficas com resultados incomensuráveis. Lídimos representantes do povo guerrearão na área da Saúde e os hospitais terão leitos suficientes para atendimento sem superlotação nos corredores.

Exames confiáveis. Medicamentos, médicos e profissionais em saúde com fartura e sem mortes nas portarias.  Os parlamentares exigirão dos governantes estradas mais seguras preservando vidas evitando mortes e mutilações.

Segurança pública, nem é bom falar. Desnecessárias Forças Armadas nas ruas. Polícias bem aparelhadas e estruturadas com integrantes preparados e remunerados condignamente. Não se falará mais em bala perdida ceifando vidas. Acabará a truculência policial com mortes.

Policiais não serão mais assassinados em serviço ou fora dele. O crime e a violência devidamente controlados. Enfim, a população no paraíso.  Eleitos, “os intrépidos cavaleiros da Távola Redonda” desaparecem. Aí será vez de o soprano e contralto (as pessoas) correrem atrás do tenor e barítono (os políticos) cobrando as promessas.

A decepção e humilhação serão flagrantes porque não passarão dos umbrais das Câmaras, Assembleias, Congresso Nacional, portões governamentais. Adentrando-se ouvirão mentiras e desculpas esfarrapadas.

Brasil afora o negro sofrerá com racismo e humilhação. O cidadão e a cidadã se surpreendem com a taxa de lixo no seu IPTU e se humilham para saber o porquê da cobrança.

O indivíduo se depara com “blitz” policial e tenta argumentar e recebe de pronto: “cala a boca”. Os considerados integrantes do terceiro gênero sofrem com a homofobia e não raras vezes são assassinados. É seu o direito de escolher o caminho que deseja. Entretanto, a mídia não precisa exagerar expondo meninas em namoro entre elas e até mãe abrigando na sua casa o “marido” do filho, em horário nobre. É a realidade? É.

Mas há de se respeitar o direito de quem não concorda.  Do velho tenor: “Com efeito, há lugares em que o verso vai para direita e a música para esquerda”. E assim o é no Brasil. A população deseja o melhor para si; nossos representantes só pensam neles. Concluindo: Os Poderes Constituídos do País recebem em ouro, a população em papel.

ARTIGO

Produtos livres de desmatamento nas estratégias da União Europeia

11/04/2024 07h30

Continue Lendo...

O Regulamento para Produtos Livres de Desmatamento é um entre vários componentes do Pacto Ambiental Europeu (European Green Deal), que tem como objetivo final atingir neutralidade de emissões de gases de efeito estufa em 2050, com um crescimento econômico livre da exploração excessiva dos recursos naturais e sem deixar ninguém para trás.

Trata-se, portanto, de uma peça dentro de um quebra-cabeça bem mais complexo que visa tornar a Europa um continente sustentável e carbono neutro.

Desde 2019, o Pacto Ambiental Europeu apresenta diretrizes que vão sendo gradativamente regulamentadas, cobrindo de energia renovável a produção de alimentos, passando por transporte e construção civil.

Trata-se de um marco legal abrangente que aborda diversas questões ambientais, incluindo o desmatamento, como parte dos esforços da União Europeia (UE) para um novo modelo de economia verde. 

O regulamento para produtos livres de desmatamento, aprovado em 2023, disciplina as atividades dos importadores europeus que passam a ser responsáveis por garantir que os produtos adquiridos não venham de áreas desmatadas depois de 31 de dezembro de 2020.

As restrições entram em vigor no final de 2024. Os importadores são os responsáveis pela implementação das verificações nos países exportadores, as chamadas “due dilligences”. 

As implicações para o Brasil são significativas, pois a UE é o segundo maior comprador dos nossos produtos agropecuários. Enfrentamos sérios problemas de desmatamento ilegal na floresta amazônica, além de questões fundiários e sociais.

Outro ponto importante é que a legislação europeia não faz distinção do que é considerado desmatamento legal ou ilegal. A normativa claramente se refere a desmatamento em geral. 

Esse ponto vem sendo questionado pelo governo brasileiro, alegando que está acima das exigências legais do ordenamento jurídico do país. Argumenta-se que essa normativa representaria uma forma de barreira não tarifária aos produtos do Brasil.

Entretanto, o argumento contrário é de que a UE tem a prerrogativa de estabelecer os critérios para os produtos que farão parte das suas cadeias de suprimento. E, como o objetivo maior é a redução dos impactos ambientais do consumo dos próprios europeus, nada mais lógico do que exigir que seus fornecedores sigam padrões compatíveis com essa ambição.

Importante notar que há fortes reações ao Pacto Ambiental dentro da própria UE, como vimos recentemente nos diversos protestos de produtores rurais no território europeu.

Embora estejam sensibilizando parte da sociedade e postergando algumas limitações, dificilmente a insatisfação dos produtores europeus ou dos governos fornecedores de produtos agrícolas para a Europa terão força para uma guinada nos objetivos de longo prazo da UE.

Parece haver um sério proposito do continente em mudar completamente suas bases de desenvolvimento, mirando a transição para uma economia mais resiliente e de baixas emissões de gases de efeito estufa.

Ao Brasil cabe o desafio de entender essas normativas e entrar em um processo de negociação sério e embasado na ciência. Ainda há grandes lacunas sobre como serão feitas as verificações do desmatamento e, sobretudo, como serão mapeadas as origens de cada lote de exportação.

Precisaremos acelerar nossos investimentos em rastreabilidade e transparência nos processos produtivos, assim como no aprimoramento de plataformas de monitoramento territorial. Tudo isso em consonância e em estreita colaboração com os importadores e agentes da União Europeia.

Ainda estamos em um momento de discussão e entendimento junto aos agentes europeus de como o novo regulamento será implementado no Brasil. Entende-se que será um processo com aprendizado mútuo e um período de adaptação.

Os entes governamentais têm o papel de catalisar essa discussão entre produtores, processadores e exportadores brasileiros para que estejamos prontos para manter a liderança como fornecedores de produtos agrícolas para a União Europeia. 

 

Assine o Correio do Estado

ARTIGO

Era uma vez em uma escola na Suécia

11/04/2024 07h30

Continue Lendo...

Depois de anos educando as crianças quase que exclusivamente com recursos digitais, o Ministério da Educação da Suécia começou a perceber alguns sintomas perturbadores nas suas crianças: deficiência na leitura e na compreensão de textos apropriados para a idade, muita dificuldade de escrever e, quando solicitadas, escritas realizadas apenas em caixa alta.

Mas o que mais chamou a atenção foi a percepção de que as crianças também começaram a apresentar dificuldades para expressar o que sentiam, pois lhes faltava vocabulário até mesmo para descrever cenas breves ou relatos de emoções simples.

Muitas dessas manifestações, resultantes da falta de exercício cognitivo e motor, assemelhavam-se a alguns transtornos psicológicos, e não é de se espantar que muitos pais possam ter procurado psicólogos, feito exames ou mesmo ministrado medicamentos, preocupados com a lentidão, o mutismo ou ainda com dificuldade de compreensão de seus jovens filhos.

O governo sueco, diante dessa constatação, resolveu dar uma guinada nas suas orientações escolares e agora estimula fortemente o uso de livros em vez de laptops, como também incentiva a leitura em voz alta, as rodas de conversa e a prática da escrita - inclusive ditados - com o objetivo de reverter o cenário que se desenhava catastrófico para o futuro.

Crianças que não são estimuladas desde cedo em atividades motoras e intelectuais podem ter dificuldades de desenvolvimento profissional na vida adulta, particularmente em um mundo onde a criatividade e a inovação são realidade em todo lugar. 

No último Pisa, divulgado em 2023, o resultado geral dos jovens estudantes suecos foi de 487, ante 499 registrado na edição anterior, de 2018. Em Matemática, a queda foi de 15 pontos e em Leitura, de 10 pontos.

Suficiente para que fizesse um país sério, como a Suécia, acender as luzes amarelas e buscar compreender as razões dessa perda de energia no aprendizado de seus jovens cidadãos, (para além dos efeitos da covid, que afetou de maneira praticamente igual os países participantes).

Uma das medidas que o governo buscou implementar em todas as escolas - embora na Suécia o programa e as orientações pedagógicas não sejam unificadas como no Brasil - foi: menos celular, menos laptop e mais livro, leitura, escrita e conversa. O básico que, desde mais ou menos cinco séculos atrás, tem orientado a ideia do que é ensinar e aprender.

 Lógico que esta constatação não implica em demonizar o uso de tecnologia em sala de aula, mas de usá-la com sabedoria, de forma que ela ofereça o que, de fato, não é possível conseguir por outros meios.

Mal comparando, é como o hábito de muita gente usar palavras em inglês para se referir a coisas ou situações nas quais já existe uma palavra em português perfeitamente cabível. Esse é o mau uso da língua estrangeira. O que não significa que não se deva aprendê-la e usá-la, muito pelo contrário.

A tecnologia compreende um conjunto de ferramentas e habilidades que deve servir para ampliar nossa capacidade de ler, raciocinar, produzir e nos comunicar. Mas, para isso, precisamos antes saber ler, raciocinar, produzir e nos comunicar.

O perigo do uso de celulares e laptops no ensino fundamental é o de diminuir ou mesmo obstaculizar  o desenvolvimento motor e cognitivo das crianças, além de dificultar a expressão de ideias, emoções e socialização, por falta de vocabulário capaz de se fazer entender quando relatar uma experiência.

O fenômeno hikikomori, que se refere aos jovens que abandonam qualquer contato social real e mantêm-se isolados em seus quartos, comunicando-se apenas pelas redes sociais, vem se alastrando por todo mundo, assim como a descrição de novos transtornos psicológicos associados à dificuldade de comunicação e socialização. A saída, porém, pode estar um pouco antes do consultório médico ou do psicólogo. Na boa e velha sala de aula.

 

ASSINE O CORREIO DO ESTADO 

NEWSLETTER

Fique sempre bem informado com as notícias mais importantes do MS, do Brasil e do mundo.

Fique Ligado

Para evitar que a nossa resposta seja recebida como SPAM, adicione endereço de

e-mail [email protected] na lista de remetentes confiáveis do seu e-mail (whitelist).