A aprovação da reforma da Previdência, que pode ocorrer nos primeiros meses de 2018, poderá acarretar uma transformação social preocupante para a população acima dos 60 anos no Brasil.
Isso porque a proposta do governo federal é a de fixar uma idade mínima para dar entrada na aposentadoria, de 65 anos para homens e 62 anos para mulheres, além de 40 anos de contribuição para ter direito ao benefício integral. O grande dilema é se haverá mercado de trabalho para aqueles que possuem mais de 55 ou 60 anos.
Infelizmente, sabemos que pela realidade atual do País muitas pessoas com faixa de idade avançada sofrem preconceito ao procurar trabalho e também enfrentam a dificuldade de conseguir um salário que corresponda a sua experiência profissional.
A equipe econômica de Michel Temer, certamente, não pensou nesse grande problema futuro, pois parece apenas se preocupar com o jogo político e os números imediatos da economia, quando o assunto é reforma.
Na verdade, o envelhecimento gradual da população brasileira é real e uma reforma do sistema previdenciário se faz necessária, mas não como esta que temos na mesa, que visa atender a interesses políticos e empresariais, focada apenas na questão fiscal e deixando totalmente de lado a questão social.
O desafio será, caso a proposta atual seja mesmo aprovada em 2018, ano eleitoral, ter um projeto para conseguir espaço profissional para os idosos. Entretanto, vale enfatizar que o País vive uma gigantesca crise quando o assunto é emprego, a qual atinge trabalhadores de todas as idades e classes sociais, são mais de 23 milhões de desempregados.
E outra equação difícil de se encontrar o resultado é a questão do plano de carreira mais longo para trabalhadores conseguirem se manter no mercado até os 62 ou 65 anos. Isso porque, a partir de uma certa idade e tempo de empresa, a carreira fica vulnerável.
No Brasil, os idosos são vistos como trabalhadores menos produtivos e mais caros, porque têm salários maiores. E assim, muitos acabam optando pela informalidade e tendo mais dificuldade para sobreviver, pagar as contas e até contribuir com a Previdência Social.
Apesar do rápido aumento do número de idosos nos últimos anos, o País não está preparado para o envelhecimento de sua população. As empresas não estão preparadas para empregar pessoas mais idosas. Na questão de saúde, temos outra enorme crise, com falta de leitos, filas gigantes para procedimentos cirúrgicos e altos e escandalosos preços de planos de saúde para aqueles que passam dos 50 anos.
Assim, se faz necessário apressar o debate e também a apresentação de propostas e projetos de políticas voltadas para a população idosa no mercado de trabalho. Aliás, já deveria ser apresentada em paralelo com a reforma da Previdência uma garantia de empregabilidade dos mais idosos.
Pesquisadores chamam a atenção de que, se nada for feito de imediato, crescerá ainda mais a população chamada de “Nem Nem”, ou seja, nem trabalhador nem aposentado, pois não consegue uma colocação no mercado nem tem os requisitos necessários para se aposentar. E com o possível aumento da idade mínima para aposentadoria, fatalmente essa população terá um aumento significativo, o que elevará também as dificuldades e a miséria.
Precisamos continuar lutando por uma sociedade mais justa e que tenha realmente voz nas decisões que envolvem seu futuro e seus direitos. Hoje, no País, milhões de pessoas não têm perspectivas nem de emprego e muito menos de conseguir se aposentar. A reforma não combate essa deformidade, pelo contrário, só aumentará a injustiça social.