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Jacir J. Venturini: "Ontem feliz, hoje estou triste"

Professor, coordenador da Universidade Positivo e autor de três livros.

Redação

08/08/2015 - 00h00
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Uma frase pungente de Jorge Luís Borges marcou-me como um sinete: “Cometi o maior pecado que um homem pode cometer: não fui feliz”. A maior aspiração do ser humano é a felicidade contínua e, bem sabemos, impossível. Outro eminente escritor, George Bernard Shaw, dá o seu veredito: “Uma vida inteira de felicidade! Nenhum homem vivo conseguiria suportá-la. Seria o inferno”.
Felicidade e infelicidade fazem parte de uma gangorra em movimentos alternantes, e desejamos que as alegrias se aninhem permanentemente no alto da gangorra. Mas a vida impõe frustrações, reveses, perdas, lutos. A aceitação dessa alternância entre fases, ditosas ou não, torna o fardo mais leve.  Rejeitar o sofrimento ou tristeza é como rejeitar a própria condição humana.

A televisão e as mídias sociais fazem da conquista da felicidade uma obsessão. Em tom de blague, podemos dizer que o ideal de vida seria morar no Facebook – só tem gente feliz! E quanto aos ídolos, enxerga-se pouco do lado humano deles, prevalecendo o bordão: é feliz porque é famoso e rico. Porém, o vazio e o infortúnio também os abatem e parte deles busca na dependência química um escapismo. Elvis Presley (42 anos), Marilyn Monroe (36) e Michael Jackson (50) foram vítimas dos medicamentos. Raul Seixas (44) e Amy Whinehouse (27), de alcoolismo. Janis Joplin (27), Jim Morrison (29), após uma overdose de heroína. Kurt Cobain (27), viciado em cocaína, suicidou-se com um rifle na estufa de sua casa.

A felicidade também depende fatores hereditários? Estudos iniciados em 1970 por David T. Lykken, geneticista e professor de psicologia da Universidade de Minnesota, indicam que sim. O autor e outros pesquisadores afirmam que, quanto ao bem-estar subjetivo, dependemos em parte da “grande loteria genética que ocorre no momento da concepção” – daí resultariam as pessoas serem prevalecentemente otimistas ou pessimistas. É evidente que temos picos extremados de infelicidade – mortes de entes queridos, doenças severas em si próprios ou em familiares, perda do emprego, separação conjugal – , ou em outra ponta, de felicidade – a vivência de um grande amor, o recebimento de uma bolada na loteria, grandes conquistas dos filhos. Porém, passadas essas anomalias pontuais, “você retorna ao nível padrão de felicidade do cérebro, determinado em grande parte pelos genes” – argumenta o psicólogo e professor na Universidade da Virgínia, Jonathan Haidt. 

Mas, então, ficamos bovinamente subjugados por esse determinismo? Certamente que não! Se alguém tem predisposição hereditária para diabetes, há como preveni-la ou minimiza-la. Da mesma forma, a busca do contentamento interior requer esforço, disciplina pessoal e bom uso do nosso livre arbítrio. No livro A Semente da Vitória, Nuno Cobra elenca três condições essenciais para o bem-estar de uma pessoa: 1) sono reparador; 2) alimentação saudável; 3) exercícios físicos regulares. 

Complemento essa lista com: bons relacionamentos (amar e ser amado); atividades culturais; momentos de lazer; a prática da espiritualidade e da solidariedade; boas leituras e boas músicas. Enfim, a prática do bem, a sensação do dever cumprido e a persistência em ser útil são valores essenciais para o genuíno contentamento, e as palavras de Goethe bem arrematam o nosso texto: “Uma vida inútil é uma morte prematura”.