No último dia 15, o presidente do Equador, Rafael Correa, decretou estado de exceção naquele país em função da ameaça de erupção do vulcão Cotopaxi e ordenou a retirada de grande parte da população da região central do País. “Declare-se o estado de exceção em todo o território nacional para enfrentar o processo eruptivo do vulcão Cotopaxi”, dizia o documento. Conforme a imprensa local, o vulcão se encontra inativo há 140 anos!
É provável, porém, que a decretação do ‘estado de exceção’ pelo presidente equatoriano no dia 15 não tenha sido só em função da ameaça de erupção do Cotopaxi – embora só isso o justificasse – mas se deva também à grave crise política que Correa enfrenta há algum tempo em seu país, especialmente agora ao completar seu oitavo ano de mandato.
Coincidência ou não, na última quinta-feira (13), um protesto indígena realizado nos últimos dias no Equador acabou de forma violenta. A marcha da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador reuniu milhares de pessoas em Quito e terminou em conflito com policiais. Entre os presos e feridos, havia uma brasileira/francesa, a jornalista Manuela Picq, namorada de um dos principais ativistas indígenas do Equador, Carlos Pérez Guartambel. Na última sexta-feira (14) ela teve seu visto cancelado pelo governo equatoriano.
O fato é que o presidente do Equador, Rafael Corrêa – a exemplo do que acontece atualmente em maior ou menor grau com outros presidentes sul-americanos, inclusive com a presidente Dilma Rousseff aqui no Brasil, Nicolas Maduro na Venezuela, Cristina Kirchner, na Argentina, Michelle Bachelet, no Chile – enfrenta uma onda de protestos desde junho deste ano envolvendo políticos, setores da classe média e alta, empresários e os próprios indígenas, que haviam começado a marcha contra o governo no início do mês. E o próprio presidente afirmou no fim de julho que esta era a ‘pior crise política’ que ele havia enfrentado em oito anos de governo.
No Brasil, ao comentar sobre a última manifestação do dia 16/8,Luiz Nassif diz que “hoje encerra-se oficialmente um ciclo político no país: o da intolerância. Multidões ainda sairão às ruas como renas amestradas. Baterão panelas atrás do impeachment e cabeças atrás de ideias. E não terão nem uma, nem outra”. É evidente, porém, que a fala de Nassif não reflete toda a realidade.
Há nos dias de hoje uma direita muito mais organizada, que atua em todos os segmentos da sociedade – inclusive junto às forças armadas, assim como no legislativo e no judiciário, à espera apenas de uma sinalização dos partidos situados à direita do espectro político, para determinar a renúncia e/ou impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Assim, não resta outra alternativa à esquerda brasileira que não seja a de se armar para a batalha que se avizinha. Em coletiva à imprensa realizada na segunda-feira (17) no Sindicato dos Jornalistas na capital paulista, dirigentes dos movimentos sociais convocaram a população a participar de atos, que serão realizados em todo o Brasil, na quinta-feira (20). Os militantes acreditam que a saída para a crise econômica que atingiu o mundo e agora afeta o Brasil deve ser pela esquerda, em defesa dos trabalhadores e dos mais pobres.
Mas como diz Fania Rodrigues em artigo da revista ‘Caros Amigos’ de agosto 2015: “Um novo ciclo político começou e nele reside o desafio dos governos de esquerda de permanecer no poder e repensar seus modelos e estratégias. Esses são alguns dos elementos políticos que compõem o atual cenário político e econômico na América Latina, especialmente na Venezuela, Equador, Argentina, Brasil e Bolívia”. Vamos ver.