Inaugurada em dezembro de 1949, a ZYX 4, Rádio Cultura de Campo Grande, estava instalada em todo quinto andar do Edifício Santa Elisa, atualmente Edifício Nakao, de propriedade do riquíssimo imigrante japonês Nakao Gonziro. Gerenciava a emissora o técnico eletrônico FUAD MALUF, assessorado por uma boa equipe de técnicos e artistas, tais como: NASRALA SIUF, o popularíssimo “NASSURA”, contabilista; SABINO PRESA, educador do SESI; ANTÔNIO NAHAS, pesquisador artístico e poeta; OLINTO CABRAL, técnico de som; e vários outros funcionários conhecedores dos misteres da radiofonia, que destacavam a boa qualidade do rádio campo-grandense: Flaviano Lugo, técnico de som; Arnaldo Rodrigues e Shimishio Higa, locutores; e o humílimo signatário desta crônica, discotecário. Estes últimos eram acadêmicos dos colégios Dom Bosco e Osvaldo Cruz, naquela época de ouro da “Capital Econômica do Mato Grosso”.
Como discotecário-programador, consegui angariar a confiança dos meus chefes, sobretudo de várias empresas comerciais patrocinadoras dos variados programas musicais, que atingiam a alma dos ouvintes: Noches Del Paraguay (guarânias, polcas e música correntina), patrocinado pela Indústria Riabelmo, produtora do famoso Licor de Pequi Cuiabano Renascença “o presente ideal de todo mato-grossense”, como assim era o slogan da propaganda no ar. Outros programas similares também envolviam docemente o ouvinte, como modas de viola; sambas; músicas gaúcha e nordestina; marchinhas carnavalescas; ritmos latinos americanos; músicas italianas; e outros variados temas musicais para o deleite do ouvinte. Sabino Presa apresentava dois programas de auditório nos domingos: pela manhã, o Clube dos Sesinhos, patrocinado pelo SESI, e à noite “Variedades”,no qual vários cantores se apresentavam, encantando o público com suas vozes de “veludo”: Yolanda Lemos; Anastácio Cardoso; Nascimento Filho; e a orquestra do Maestro Lalo. Antônio Nahas, locutor, apresentava o programa Colar de Tangos e Poesias, que ia ao ar todas as noites das vinte às vinte e duas horas de segunda-feira a sábado, o qual alcançava os maiores índices de audiência da rádio.
A Cultura transmitia os jogos do Campeonato Estadual de Futebol disputados no estádio da LEMC (atual Belmar Fidalgo), e a função de locutor-comentarista cabia ao Nassura. Nos domingos à tarde Nassura na locução e eu na técnica de som, transmitíamos os jogos aos quais comparecia grande número de torcedores. Era uma atividade divertida, pois no estádio não havia cabine de rádio, de modo que Nassura ficava exposto diretamente no meio dos torcedores, e assim sua voz se misturava aos palavrões pronunciados em altas vozes pela plateia em delírio. Às gargalhadas, a cidade inteira ouvia a voz de Nassura transmitindo os jogos. Era um cômico impagável, trabalhar a seu lado constituía uma boa diversão! Ria-se à vontade das pândegas que aprontava no ambiente de trabalho. Mormente quando, em companhia de outro cômico irrequieto, o violeiro Ferreirinha, Nassura apresentava um programa caipira nas manhãs de segunda a sexta feira, no qual a dupla cantava paródias e fazia gozação dos políticos da época.
Com o passar dos anos, aquela gente se dispersou. Posteriormente, a emissora passou a integrar o Grupo de Comunicação Correio do Estado, quando outros destacados radialistas mantiveram elevado o excelente nível de programação da Rádio Cultura, como Ramão Achucarro, Zé do Brejo, Rui Pimentel e outros apresentadores de sucesso perante o público. Atualmente, a saudosa Rádio Cultura não mais existe, assumindo em seu lugar a novel Rádio Hora, 92,3 FM, a qual se dedica especialmente à programação evangélica, levando ao ar músicas gospel, difundido ao público ouvinte temas religiosos cristãos. Naqueles tempos áureos, a Rádio Cultura também oferecia aos ouvintes programas religiosos de várias crenças, predominando católicos e protestantes (evangélicos), além da programação normal constituída de variados temas musicais das mais diversas origens, como atrás exposto. O simplório desaparecimento da nossa eterna X-4 entristece seus antigos ouvintes. Ela coloriu a vida dos campo-grandenses com sua programação romântica numa época de paz e prosperidade da nossa amada Cidade Morena.