Assentada soberbamente na margem esquerda do Rio Paraguai, Corumbá tem o carisma atrativo das cidades turísticas do mundo. Lamentavelmente, nenhum político da órbita governamental estadual ou federal se interessou – e nem se interessa – em tratá-la como tal, relegando-a à própria sorte. Todavia, algumas entidades particulares do ramo turístico têm colocado Corumbá na rota do turismo nacional e internacional, contribuindo assim para o incremento socioeconômico da cidade. Caso contrário, estaria entregue às moscas a bela “Capital do Pantanal”, como é vista pelos poetas inspirados na maviosidade branca das ruas corumbaenses. Submisso a esse carisma, escrevi tempos atrás uma modesta crônica com o referido título, publicada neste importante órgão da imprensa brasileira, que é o jornal diário Correio do Estado.
A tricentenária Cidade Branca tem qualidades turísticas das mais diversas modalidades do turismo de massa, desde a simples contemplação das belezas urbanas da cidade às mais arrojadas modalidades de esportes aquáticos nas águas límpidas pantaneiras. Com a prática da pesca esportiva e esportes arrojados, Corumbá e região poderiam se alinhar aos mais importantes roteiros turísticos do Brasil, em conjunto com muitos outros atrativos, como as procissões religiosas nas margens do Rio Paraguai e também a variada gastronomia pantaneira – virtudes fortemente turísticas que fazem de Corumbá e região um rico e promissor polo do turismo nacional. Não temo afirmar categoricamente que o desinteresse político-governamental é o principal motivo – se não o único – para estagnar o turismo em Corumbá e em toda a região pantaneira. Para se ter ideia da vocação turística da Cidade Branca, basta andar pela cidade afora, de preferência a pé, e embarcar num dos muitos barcos elegantes atracados no Casario do Porto, descer o Rio Paraguai até a ponte Eurico Gaspar Dutra, para se deleitar com o magnetismo de uma região louçã, dotada de visual exótico desde a saída de Corumbá, passando por Ladário, Albuquerque e Porto Esperança. Nesse glamouroso roteiro pode o turista embevecer-se com a quietude e o aspecto exótico do casario de Corumbá, a mostrar-se aos olhos dos embarcados como um primoroso presépio natalino, seguido pelas belonaves de guerra ancoradas na Base Fluvial Naval de Ladário, o complexo industrial do cimento e as tímidas vivendas das corruptelas ribeirinhas a se perderem de vista nas margens do grandioso rio – um sonho real!
Corumbá teve seu passado de glória calcado no aspecto econômico e social, graças à pujança da natureza exuberante e sua favorável situação geográfica, fatores estratégicos que dinamizaram a importância de seu porto fluvial logo após o término da Guerra do Paraguai. No dia 15/11/1878, por força da Lei nº 525, Corumbá foi elevada à categoria de cidade, graças a seu envolvente progresso econômico. No fim do século 19, o porto de Corumbá era o terceiro mais importante da América Latina, com grande movimentação de vapores nacionais e estrangeiros carregados de mercadorias, como cimento inglês, livros didáticos, porcelanas chinesas, vinhos portugueses, refinados tecidos franceses e outros tipos de produtos valiosos. Levavam daqui produtos de exportação, como borracha, couro, charque, cal e erva-mate. Esse grandioso intercâmbio comercial transformou a região em um rico corredor de importação de vários produtos nacionais e estrangeiros e exportação de produtos produzidos em Mato Grosso.
A cidade progredia com a contínua chegada de imigrantes e mercadorias das mais diversas procedências. Funcionavam em Corumbá 25 bancos internacionais, como o City Bank, e a moeda corrente era a libra esterlina. Havia uma enorme composição do elemento humano estrangeiro em sua população, como italianos, árabes, libaneses, argentinos, paraguaios, entre outros, e nessa época a população estrangeira em Corumbá chegou a superar numericamente a brasileira. A zona urbana se desenvolveu sob o impulso do movimento mercantil e fluvial, o que aumentou os estabelecimentos comerciais e o número de estrangeiros na cidade (informações extraídas da Wikipédia).
Entretanto, toda essa pujança socioeconômica da Cidade Branca desapareceu com a chegada da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, a qual, passando por outro roteiro pelo interior dos estados de São Paulo e Mato Grosso, desviou drasticamente todo o volume de cargas e de passageiros para a rota ferroviária, o que resultou na quase total estagnação do porto corumbaense, com consequências sociais e econômicas desastrosas para a cidade e região. Entretanto, o perfil soberbo da Cidade Branca não foi afetado pela estagnação do porto, permanecendo vivo o carisma de Corumbá como a “Pérola do Pantanal”.