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Gilson Cavalcanti Ricci: "Ana Néri, mãe dos soldados brasileiros"

Advogado

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O Brasil é celeiro de heróis. Heróis natos, muitos deles epítetos caricatos de quasimodos anônimos, que povoam a vastidão do território brasileiro. Nas regiões mais humildes do País, eles vivem amontoados como trastes humanos sem valor. No meio desses aglomerados desumanos, alguns dos habitantes conseguiram eternizar seus nomes no mundo do crime, como o cidadão pernambucano Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião, que se celebrizou no cangaço como o mais valente e temido de todos os facínoras do Pajeú. Nesse ambiente selvagem nasceu Anna Justina Ferreira Nery, a heroica enfermeira brasileira Ana Néri, cujo trabalho de enfermagem na Guerra do Paraguai enalteceu gloriosamente o nome do Brasil, por sua intensa e dedicada vigília no tratamento dos feridos brasileiros, o que lhe rendeu a carinhosa alcunha de “Mãe dos soldados brasileiros”.   

Baiana de Cachoeira, Ana Néri casou-se com o oficial da Marinha Imperial Antônio Nery, quando adotou o sobrenome do marido, e teve três filhos: Justiniano Nery, Antônio Pedro Nery e Isidoro Antônio Nery Filho. O marido morreu em combate em alto-mar, em 1843. Viúva ainda jovem, Ana Néri acabou de criar os filhos, encaminhando-os à vida na senda do bem e amor à Pátria, ensinando-lhes como exemplo o edificante sacrifício do pai pelo Brasil. Nessa mesma senda, dois dos filhos de Ana Néri seguiriam a carreira do genitor, tornando-se ambos oficiais do Exército, e, ao irromper a Guerra do Paraguai em dezembro de 1864, seguiram para o campo da luta, acompanhados do tio, o Major Maurício Ferreira, irmão de Ana Néri. Desolada pela morte de um dos filhos em uma das cruentas batalhas da Guerra do Paraguai, Ana requereu ao presidente da província da Bahia, que lhe fosse facultado acompanhar o filho remanescente e o irmão dela durante os combates, ou pudesse prestar serviços nos hospitais de sangue. 

Ana Néri partiu de Salvador incorporada ao 10° Batalhão de Voluntários da Pátria, na graduação de enfermeira. Durante toda a campanha, ela prestou serviços ininterruptos nos hospitais militares de Salto e Corrientes, na Argentina, e  Humaitá e Assunção, no Paraguai, bem como diretamente nos hospitais avançados da frente de operações de guerra. Viu morrer em plena batalha um de seus filhos amados, o que a levou a dedicar-se com grande discernimento humano a todos os feridos indistintamente, inclusive aos paraguaios, o que a levou a uma reprimenda de seus superiores, diante da escassez de recursos para abastecer os hospitais brasileiros com material hospitalar de alto custo, e da mais alta necessidade. Episódio que marcou a passagem de Ana Néri no hospital de Assunção foi o atendimento de enfermagem ao soldado paraguaio Hermínio Ortiz, ferido gravemente à baioneta, o que levou Ana a socorrê-lo sem hesitação, até colocá-lo fora de perigo de vida. Salvo, o bravo soldado guarani deu o nome de Ana à sua filhinha recém-nascida, em homenagem à heroica enfermeira brasileira.    

Terminada a guerra, foram-lhe prestadas grandes homenagens. O governo imperial concedeu-lhe a Medalha Geral de Campanha e a Medalha Humanitária de 1ª Classe. Getúlio Vargas assinou o Decreto nº 2.956, que instituiu o Dia do Enfermeiro, a ser celebrado a 12 de Maio, devendo nesta data serem prestadas homenagens especiais à memória de Ana Néri, em todos os hospitais e escolas de enfermagem do País. Em 2009, a Lei nº 12.105, de 2 de dezembro de 2009, instituiu Anna Justina Ferreira Nery como a primeira mulher a entrar para o Livro dos Heróis e das Heroínas da Pátria, depositado no Panteão da Liberdade e da Democracia, em Brasília. Além das inúmeras homenagens que Ana Néri recebeu, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos lançou um selo comemorativo com o busto da enfermeira em uma série de personalidades femininas com relevo histórico. Ana Néri morreu na cidade do Rio de Janeiro aos 65 anos, no dia 20 de maio de 1880.  

Mulher brasileira – patrimônio da honra da Pátria na paz e na guerra!