A religiosidade humana sempre foi necessária para domesticar a porção primitiva e, por consequência, canalizar a excessiva energia física (agressividade) e a energia psíquica (Eros-prazer) para aprimorar o aspecto fraterno das relações humanas. Não fosse a religiosidade e as artes bem provável que o ser humano nunca teria experiencias de transcendência espiritual, dimensão que possibilita caminhos para dar um toque de elegância na primitivez inata. No entanto as dificuldades das pessoas começam e terminam nas suas relações. Quando não consegue superá-las recorrem a sua porção religiosa, que pode ir de karma negativo a um encosto satânico. Contra esses males todas as religiões têm explicações e soluções.
Assiste-se hoje como também nos anos 60 e 70 em plena crise cultural, a um aparente esvaziamento de valores na nossa sociedade, a uma violência gratuita, a uma perda do sentido da vida, ao apagamento do respeito pelas figuras de autoridade, a um vasto numero de desempregados e marginalizados, a uma insegurança e instabilidade no mercado de trabalho, a perda da comunicação familiar, a redução do papel tradicional das religiões, da falência do sentido de comunidade ou simplesmente de vizinhança. A crise cultural possibilita a emergência de falsos messias, ídolos, curandeiros, adivinhos e lideranças negativas localizadas em seitas e cultos.
Embora a religiosidade nos momentos de crise cultural possa atuar como bálsamo a amenizar a confusão e a fragilidade dos valores culturais, sua utilização danosa também pode ocorrer, acentuando casos de crise de identidade pessoal e cultural. Substancias psicoativas e clinicas para dependências se tornam o plano B.
Estudos realizados por Margareth T. Singer da Universidade da Califórnia no final dos anos 70 e pela portuguesa Lia Fernandes, publicando “A influência psicológica das seitas”. Revista de psiquiatria da Faculdade de Medicina do Porto. 3ª série, Ano XIX – jan-jun 1997, concluíram que: “...... é evidente que não tendo estas seitas e cultos, na sua forma de apresentação inicial nada fora da ordem, das normas e da lei, procuram abordar problemas de base da sociedade como estratégia de persuasão inicial. Posteriormente vem a doutrinação. Uma vez feita a adesão a este sistema de crenças, cuja apresentação se reveste de objetivos altruístas humanistas e de ajuda ao próximo, rapidamente qualquer membro passa a estar a serviço dos desejos caprichosos e ordens de um líder.”
O desligamento do sinal analógico em Campo Grande e Terenos, com quase um milhão de esperançosos, deve melhorar bastante o dizimo das igrejas eletrônicas. Das treze retransmissoras do sinal digital agora, temos CNT, Rede Vida, Novo Tempo, Ideal, Aparecida, RIT, Canção Nova, Imaculada. Seus conteúdos, em 99% de cunho religioso e doutrinário. A Rede Brasil (estatal) deve lucrar bastante, vendendo horários para isso. A TVI, SBT e a Record, em detrimento de suas retransmissões locais, têm controladores íntimos da religiosidade eletrônicas. Com certa independência do assedio religioso escapam por pouco a TV Educativa e a Globo. Coitado dos ateus anônimos! Ficam sem muita opção, mesmo a Constituição Federal os protegendo de seus direitos inalienáveis. Se tiver insônia tá roubado. Só resta assistir TV a Cabo se fizer a assinatura.
Amiga minha esperta me disse, diante dessa constatação – tudo em excesso acaba enjoando e se transforma em aversão. Pensa! O exercício da religiosidade doutrinaria em massa, presencial ou em HD, tira a autonomia das pessoas em aprender a vencer limites e obstáculos naturais da vida, tornando-os refém de uma religiosidade em crise existencial. Talvez a politização acentuada da religiosidade brasileira explique seu futuro.
Como diria Albert Einstein ...... ^ a ciência sem a religião e manca, a religião sem a ciência e cega^.