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Geraldo Resende e Rosana Leite de Melo: "Entre críticas e excelências"

Médico, secretário estadual de Saúde e médica, presidente do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul, respectivamente

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Em dezembro do ano passado, o Hospital Regional de Mato Grosso do Sul (HRMS) mobilizou 50 profissionais de diversas especialidades para a realização de uma cirurgia em um bebê ainda durante o parto, com a retirada de um tumor na cabeça. O procedimento foi um sucesso e salvou a vida da mãe e da criança. A cirurgia de Teratoma Cervical Neonatal foi a primeira realizada em todo o Estado de Mato Grosso do Sul. Naquele 18 de dezembro do ano passado, a equipe médica do HRMS fez história, aliando profissionalismo, competência, amor ao próximo, pesquisa, talento, sensibilidade e tecnologia. 

São histórias como essa, aliadas ao dia a dia de uma instituição que devolve a saúde a milhares de pessoas, anualmente, de todas as partes do Estado que nos motivam a trabalhar pela construção de uma saúde de melhor qualidade para nossa gente. É a face boa, em alguns casos até de excelência, que nem sempre é exposta ao público, de um hospital que em 2017 completou 20 anos e que é referência no atendimento ambulatorial e hospitalar de média e alta complexidade para todos os municípios de Mato Grosso do Sul.

Com 2.171 funcionários e 429 leitos, o Hospital Regional é um dos mais importantes de Mato Grosso do Sul, referenciado na Assistência de alta complexidade em Nefrologia, Assistência ao portador de Obesidade Grave, Cuidados intermediários Neonatal, Oncologia Pediátrica, Cirurgia Cardiovascular, procedimentos de Cardiologia intervencionista, além de assistência de alta complexidade e Alta complexidade em Terapia Nutricional.

O prédio do Hospital Regional de MS já faz parte da paisagem urbanística de Campo Grande, com seus 32 mil metros de área total e 10 pavimentos. Detentor de diversos títulos, entre eles o de Hospital Amigo da Criança (desde 2003), Hospital de Ensino (desde 2010), participante do Projeto Rede Cegonha (desde 2011), colaborador do programa Hospital Sentinela (desde 2015), participante do Projeto Ápice On (desde 2017), entre outros, podemos dizer que essa unidade hospitalar é um orgulho para nosso Estado.

Ao longo dos anos, porém, parte da imprensa tem potencializado notícias negativas sobre o HRMS. Ocorrências internas daquele hospital são levadas ao conhecimento do público quase que em tempo real, muitas vezes de forma exagerada e distorcida. Ausência de insumos, falta de marmitas, quebra de elevadores, infestação de piolhos de pombos, a passagem de uma barata... sempre há alguém com uma câmera em punho, um vídeo ou uma foto para levar a denúncia adiante.

Mas os exames, as cirurgias bem sucedidas, as consultas, e os demais procedimentos que salvam vidas... muito pouco disso é divulgado. A sensação que fica, no final, é que ali só se faz coisas ruins. Poucos sabem (porque parte da imprensa esconde as informações) que somente no ano passado, o hospital realizou 724 mil procedimentos médicos, 58 mil atendimentos ambulatoriais, sete mil cirurgias, 23 mil atendimentos na unidade de Pronto Atendimento (PAM) e 12 mil internações.

Não que as notícias ruins não tenham acontecido, mas não na proporção em que são noticiadas. Mazelas existem em todo lugar.

Problemas, distorções, insatisfação, etc. Mas os fatos altamente positivos que ali ocorrem precisam ser mencionados, assim como o esforço de toda uma equipe para solucionar o que está errado.

De nossa parte, isso vem sendo feito, tanto que firmamos convênio com o Hospital Sírio Libanês de São Paulo, que no dia 11 de dezembro passado, concluiu o a primeira fase do Projeto Lean nas emergências para otimizar o tempo de espera e a rotatividade no PAM do Hospital, já com resultados extremamente positivos. Queremos e estamos trabalhando para uma unidade cada vez mais excelente no atendimento, em todas as áreas.

É com esse objetivo que estamos projetando investimentos que chegam a R$ 71 milhões na remodelagem da estrutura física e aquisição de equipamentos para o Hospital. Vamos investir, com o apoio do Ministério da Saúde e da bancada federal, R$ 32,6 milhões na reforma e ampliação do prédio e R$ 38,6 milhões na compra de mais de mil aparelhos.

Isso vai propiciar uma repaginação completa e reaparelhamento do HRMS, com a meta de ofertar um resultado ainda melhor para o conjunto da sociedade em determinados setores. O ano de 2020 é auspicioso, porque vamos pôr em prática muito daquilo que o governo do Estado vem planejando nos últimos meses. É o que nos leva a desejar um ano de muita saúde para os sul-mato-grossenses e acreditar que isso será possível com a união de esforços de toda a sociedade, inclusive com o apoio imprescindível da imprensa. 

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Produtos livres de desmatamento nas estratégias da União Europeia

11/04/2024 07h30

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O Regulamento para Produtos Livres de Desmatamento é um entre vários componentes do Pacto Ambiental Europeu (European Green Deal), que tem como objetivo final atingir neutralidade de emissões de gases de efeito estufa em 2050, com um crescimento econômico livre da exploração excessiva dos recursos naturais e sem deixar ninguém para trás.

Trata-se, portanto, de uma peça dentro de um quebra-cabeça bem mais complexo que visa tornar a Europa um continente sustentável e carbono neutro.

Desde 2019, o Pacto Ambiental Europeu apresenta diretrizes que vão sendo gradativamente regulamentadas, cobrindo de energia renovável a produção de alimentos, passando por transporte e construção civil.

Trata-se de um marco legal abrangente que aborda diversas questões ambientais, incluindo o desmatamento, como parte dos esforços da União Europeia (UE) para um novo modelo de economia verde. 

O regulamento para produtos livres de desmatamento, aprovado em 2023, disciplina as atividades dos importadores europeus que passam a ser responsáveis por garantir que os produtos adquiridos não venham de áreas desmatadas depois de 31 de dezembro de 2020.

As restrições entram em vigor no final de 2024. Os importadores são os responsáveis pela implementação das verificações nos países exportadores, as chamadas “due dilligences”. 

As implicações para o Brasil são significativas, pois a UE é o segundo maior comprador dos nossos produtos agropecuários. Enfrentamos sérios problemas de desmatamento ilegal na floresta amazônica, além de questões fundiários e sociais.

Outro ponto importante é que a legislação europeia não faz distinção do que é considerado desmatamento legal ou ilegal. A normativa claramente se refere a desmatamento em geral. 

Esse ponto vem sendo questionado pelo governo brasileiro, alegando que está acima das exigências legais do ordenamento jurídico do país. Argumenta-se que essa normativa representaria uma forma de barreira não tarifária aos produtos do Brasil.

Entretanto, o argumento contrário é de que a UE tem a prerrogativa de estabelecer os critérios para os produtos que farão parte das suas cadeias de suprimento. E, como o objetivo maior é a redução dos impactos ambientais do consumo dos próprios europeus, nada mais lógico do que exigir que seus fornecedores sigam padrões compatíveis com essa ambição.

Importante notar que há fortes reações ao Pacto Ambiental dentro da própria UE, como vimos recentemente nos diversos protestos de produtores rurais no território europeu.

Embora estejam sensibilizando parte da sociedade e postergando algumas limitações, dificilmente a insatisfação dos produtores europeus ou dos governos fornecedores de produtos agrícolas para a Europa terão força para uma guinada nos objetivos de longo prazo da UE.

Parece haver um sério proposito do continente em mudar completamente suas bases de desenvolvimento, mirando a transição para uma economia mais resiliente e de baixas emissões de gases de efeito estufa.

Ao Brasil cabe o desafio de entender essas normativas e entrar em um processo de negociação sério e embasado na ciência. Ainda há grandes lacunas sobre como serão feitas as verificações do desmatamento e, sobretudo, como serão mapeadas as origens de cada lote de exportação.

Precisaremos acelerar nossos investimentos em rastreabilidade e transparência nos processos produtivos, assim como no aprimoramento de plataformas de monitoramento territorial. Tudo isso em consonância e em estreita colaboração com os importadores e agentes da União Europeia.

Ainda estamos em um momento de discussão e entendimento junto aos agentes europeus de como o novo regulamento será implementado no Brasil. Entende-se que será um processo com aprendizado mútuo e um período de adaptação.

Os entes governamentais têm o papel de catalisar essa discussão entre produtores, processadores e exportadores brasileiros para que estejamos prontos para manter a liderança como fornecedores de produtos agrícolas para a União Europeia. 

 

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Era uma vez em uma escola na Suécia

11/04/2024 07h30

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Depois de anos educando as crianças quase que exclusivamente com recursos digitais, o Ministério da Educação da Suécia começou a perceber alguns sintomas perturbadores nas suas crianças: deficiência na leitura e na compreensão de textos apropriados para a idade, muita dificuldade de escrever e, quando solicitadas, escritas realizadas apenas em caixa alta.

Mas o que mais chamou a atenção foi a percepção de que as crianças também começaram a apresentar dificuldades para expressar o que sentiam, pois lhes faltava vocabulário até mesmo para descrever cenas breves ou relatos de emoções simples.

Muitas dessas manifestações, resultantes da falta de exercício cognitivo e motor, assemelhavam-se a alguns transtornos psicológicos, e não é de se espantar que muitos pais possam ter procurado psicólogos, feito exames ou mesmo ministrado medicamentos, preocupados com a lentidão, o mutismo ou ainda com dificuldade de compreensão de seus jovens filhos.

O governo sueco, diante dessa constatação, resolveu dar uma guinada nas suas orientações escolares e agora estimula fortemente o uso de livros em vez de laptops, como também incentiva a leitura em voz alta, as rodas de conversa e a prática da escrita - inclusive ditados - com o objetivo de reverter o cenário que se desenhava catastrófico para o futuro.

Crianças que não são estimuladas desde cedo em atividades motoras e intelectuais podem ter dificuldades de desenvolvimento profissional na vida adulta, particularmente em um mundo onde a criatividade e a inovação são realidade em todo lugar. 

No último Pisa, divulgado em 2023, o resultado geral dos jovens estudantes suecos foi de 487, ante 499 registrado na edição anterior, de 2018. Em Matemática, a queda foi de 15 pontos e em Leitura, de 10 pontos.

Suficiente para que fizesse um país sério, como a Suécia, acender as luzes amarelas e buscar compreender as razões dessa perda de energia no aprendizado de seus jovens cidadãos, (para além dos efeitos da covid, que afetou de maneira praticamente igual os países participantes).

Uma das medidas que o governo buscou implementar em todas as escolas - embora na Suécia o programa e as orientações pedagógicas não sejam unificadas como no Brasil - foi: menos celular, menos laptop e mais livro, leitura, escrita e conversa. O básico que, desde mais ou menos cinco séculos atrás, tem orientado a ideia do que é ensinar e aprender.

 Lógico que esta constatação não implica em demonizar o uso de tecnologia em sala de aula, mas de usá-la com sabedoria, de forma que ela ofereça o que, de fato, não é possível conseguir por outros meios.

Mal comparando, é como o hábito de muita gente usar palavras em inglês para se referir a coisas ou situações nas quais já existe uma palavra em português perfeitamente cabível. Esse é o mau uso da língua estrangeira. O que não significa que não se deva aprendê-la e usá-la, muito pelo contrário.

A tecnologia compreende um conjunto de ferramentas e habilidades que deve servir para ampliar nossa capacidade de ler, raciocinar, produzir e nos comunicar. Mas, para isso, precisamos antes saber ler, raciocinar, produzir e nos comunicar.

O perigo do uso de celulares e laptops no ensino fundamental é o de diminuir ou mesmo obstaculizar  o desenvolvimento motor e cognitivo das crianças, além de dificultar a expressão de ideias, emoções e socialização, por falta de vocabulário capaz de se fazer entender quando relatar uma experiência.

O fenômeno hikikomori, que se refere aos jovens que abandonam qualquer contato social real e mantêm-se isolados em seus quartos, comunicando-se apenas pelas redes sociais, vem se alastrando por todo mundo, assim como a descrição de novos transtornos psicológicos associados à dificuldade de comunicação e socialização. A saída, porém, pode estar um pouco antes do consultório médico ou do psicólogo. Na boa e velha sala de aula.

 

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