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Frederico Valente:
'A propósito da taxa de lixo'

Engenheiro Ambiental

Redação

18/01/2018 - 02h00
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Tempos atrás, conheci no detalhe o funcionamento do sistema de coleta e destinação final dos resíduos sólidos (lixo) de uma das cidades mais limpas do mundo, segundo especialistas. Essa cidade se chama Adelaide, tem o porte de Campo Grande e fica no sul da Austrália.

Tudo bem que a Austrália é um país rico e desenvolvido e tal situação é mais ou menos óbvia. Eles também não têm que ficar cuidando de buraqueira nas ruas, iluminação pública deficiente, falta de segurança, e muito menos escolas sem professores e fila nos postos de saúde. São problemas superados, o que lhes permite mais tempo para pensar a cidade com o olhar na melhoria da qualidade de vida de seus habitantes.

Ocorre que o que eu vi foi um sistema de limpeza, coleta e disposição final dos resíduos sólidos, simples e sem maiores e caras inovações tecnológicas. E como resultado inicial da implantação do serviço que eles chamam de “3 Bins and a Basket”, cerca de 60% do lixo doméstico deixou de ir para o aterro sanitário.

Minha filha mora nessa cidade e ao visitá-la pedi para ela que é amiga de um integrante do Conselho de Burnside (região da cidade), buscar uma forma que me permitisse conhecer como funciona a Gestão da Cidade.

De uma maneira extremamente atenciosa e gentil, fui recebido pelo “Prefeito” de Burnside que organizou uma reunião com uma equipe de técnicos locais, e durante toda uma tarde me deram uma aula de cidadania, planejamento e administração da coisa pública, e um espesso caderno com a síntese de todas as leis e regulamentos da região/bairro.

Após a reunião, ainda fui levado para conhecer a estrutura física de prestação de serviços em Burnside, onde duas coisas me chamaram mais a atenção. Primeiro foi a quantidade de voluntários prestando serviços à comunidade, resultado da confiança que a gestão pública tem junto à população e em segundo lugar a questão do lixo, aqui por conta de minha formação profissional (engenharia sanitária).

Na organização política institucional australiana as regiões das cidades têm grande autonomia política e administrativa. Cada uma tem um Conselho que decide tudo, garantindo ampla participação popular na gestão, e um “Prefeito” com uma estrutura administrativa e de serviços que executa.

Por conta disso o Conselho decidiu que a questão do lixo seria definida a partir de preceitos socioeconômicos e ambientais. 

O aterro sanitário cobra altos valores pelo descarte de lixo, o que incentiva a reciclagem. Para isso cada residência recebe um kit composto de cestinha com um rolo de sacos plásticos biodegradáveis, para coleta dos restos de comida, e três recipientes bem maiores(lixeiras), com tampas nas cores amarela, verde e vermelha, para acondicionamento do lixo reciclável (coleta quinzenal), do que vai para compostagem (coleta quinzenal) e do que será descartado no aterro sanitário(coleta semanal), respectivamente. No dia programado somente é coletado o lixo da lixeira com a cor predefinida.

A lixeira tem um formato e um chip eletrônico que permite o caminhão coletor fazer a coleta de forma automática com um braço hidráulico (tipo munck) e um sistema computadorizado que lê no chip eletrônico o endereço da coleta e faz a pesagem individual do lixo coletado.

O sistema protege o meio ambiente, pois restringe cada vez mais o lixo descartado no aterro, é justo porque cobra pelo peso que coleta, é ágil porque é terceirizado e sujeito a altas multas, é transparente e tem função educativa, pois a população precisa receber e estar atenta às informações sobre esse assunto, que envolve cada um individualmente.