Existe grande ansiedade quanto aos rumos do próximo governo, mas é muito cedo para ter certezas absolutas. O governo ainda nem começou e suas primeiras iniciativas são contraditórias. Como já se diz, Bolsonaro acerta quando recua e erra quando avança.
O discurso de campanha criou muitas expectativas, na maior parte, inviáveis diante da grave crise fiscal. Por isso, é importantíssimo acertar na economia. A economia é exatamente essa ciência e arte de operar, com recursos escassos, diante de necessidades infinitas.
Quanto à questão-chave da governabilidade, é preciso construí-la tanto no campo institucional – Congresso e Judiciário – como junto à sociedade. Como o futuro presidente conduzirá essa construção?
O futuro é necessariamente incerto e abre-se a diferentes alternativas factíveis. Tendo como referência a opinião do Prof. Rogério Bastos Arantes (USP), são elas apresentadas abaixo.
– O primeiro cenário é o da adesão de Bolsonaro ao presidencialismo de coalizão, ou seja, mais do mesmo. A tentativa de basear a governabilidade nas bancadas corporativas (agronegócios, evangélicos, da bala, etc.) e nos governadores não dá os resultados esperados. Neste caso, desaquece o discurso antissistema e ajusta suas estratégias à política realmente existente.
Indícios de que Bolsonaro pode se render a essa lógica são a retirada da ameaça de extinção dos 20 mil cargos de confiança e os recuos e flexibilizações de posições, como no caso da redução do número de ministérios.
Existem dificuldades na evolução de Bolsonaro em direção a este cenário de adesão às regras do presidencialismo de coalizão: o seu eleitorado e apoiadores poderão considerar essa fraqueza como um estelionato eleitoral, e o setor militar poderá pressionar pela centralização do poder.
– Um segundo cenário a considerar é o de avanço autoritário.
Bolsonaro, que expressou em campanha que “pelo voto não se muda nada”, vira a mesa desfazendo-se da política tradicional e de suas instituições. Passa ao uso intenso de medidas provisórias. Apela para a sustentação popular direta. Governa com nova Constituição, elaborada por juristas auxiliares. Os militares passam a ocupar o núcleo central do poder e
o Brasil aproxima-se da política internacional de Trump.
Serão obstáculos a esse cenário a articulação das forças democráticas que mobilizariam a sociedade civil e as suas instituições. Parte do eleitorado do presidente passaria também
a reagir. Haveria ainda forte pressão internacional contrária ao fechamento do regime.
Alguns indícios dessa alternativa autoritária podem ser notados na dificuldade atual de lidar com o Congresso, mesmo em questões centrais como a discussão do orçamento de 2019
e a reforma da Previdência ainda em 2018. Também sinaliza, nesse sentido, a prometida guinada na política externa, que passaria a ser antiglobalista, com nefastas consequências econômicas.
Os dois primeiros são cenários extremos. Dificilmente se realizariam por completo, seja por contradições internas, seja por resistência do eleitorado e das instituições democráticas.
– Diante disso, um terceiro cenário se apresenta, o de um governo sem rumo.
Bolsonaro, não conseguindo dobrar as instituições, busca manter o apoio direto dos eleitores, recorrendo à mobilização popular pela mídia eletrônica, com constante uso de plebiscitos e referendos, estimulando a violência na sociedade e a beligerância internacional. Pressionado entre economistas liberais e militares nacionalistas, torna-se um governo sem rumo. Aumenta a instabilidade do País.
Indicam esse rumo as negociações alternativas com governadores e bancadas corporativas, em vez de se trabalhar com os partidos políticos e mandatários, o que pode se revelar insuficiente.
Esses três cenários deverão ser levados em conta pelas forças políticas, especialmente do campo democrático, para se posicionarem perante o futuro governo. Nada de voluntarismo e pressa. O jogo ainda está por se jogar.