Quem espera grandes mudanças nas eleições de 2018, pode ir tirando o cavalinho da chuva. Como já disse o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o próximo governo ainda será um governo de transição, dada a extrema fragmentação política, a radicalização sectária e a falta de coesão da sociedade brasileira.
Hoje, existem cerca 15 pré-candidatos presidenciais para primeiro turno e, até agora, nenhuma boa ideia capaz para entusiasmar, unir e mobilizar a sociedade. A sociedade está cética e fragmentada. Nesse clima, não é possível construir um projeto de país minimamente consistente e que tenha governabilidade garantida. Devemos lembrar que, ao mesmo tempo em que votarmos no presidente, elegeremos deputados e senadores. Estes parlamentares serão aqueles beneficiários do engodo da minirreforma eleitoral que criou o Fundo Público Eleitoral, sob controle dos caciques partidários, que atuarão no sentido de dificultar a renovação política. O próximo Congresso deverá ser igual ao atual, ou pior.
Quanto à análise sobre a radicalização, não há como fugir da questão, quem introduziu essa política de “nós contra eles” foi o PT, que agora é a sua principal vítima. Se, inicialmente, produziu grandes esperanças, hoje representa a esquerda saudosista e regressiva, dos anos 50 e 60, cuja visão está rejeitada pela história. Hoje, tem contra si a direita saudosista da ditadura. É atraso de esquerda contra atraso de direita, ambas tentando fazer política em um mundo que não existe mais.
A política no País não avança e está vivendo de crise em crise. Depois da democratização, tivemos a transição com Sarney, o curto governo Collor, a transição com Itamar, seguida de quatro governos sociais-democratas, dois do PSDB e quase dois do PT, seguido da atual transição com Temer. Tivessem PSDB e o PT que, de certa forma tinham projetos para o País, grandeza e responsabilidade, poderíamos ter a possibilidade de diálogo. Mas prevaleceram os projetos de poder, com os dois polos sociais -democratas, reforçando as suas aproximações com forças conservadoras e fisiológicas para garantia da governabilidade. A corrupção foi a ferramenta dessa estratégia de poder. Foram quatro oportunidades perdidas.
Hoje, falta à sociedade um mínimo de coesão social. Os diversos grupos vivem, cada um em um País diferente, o que dificulta o diálogo e a identificação de afinidades para articulação de projetos nacionais.
Ter coesão significa que os diversos atores sociais e políticos devem se sentir parte de um mesmo País, para, assim, facilitar a interlocução sobre um projeto de futuro para o Brasil. O País terá de ser único, dos brasileiros, com as divergências disputadas no âmbito do último pacto político social que conseguimos fazer e se encontra consolidado na Constituição de 1998. As disputas teriam de se aterem aos limites desta.
Enquanto isso, as recentes pesquisas eleitorais apontam para o favoritismo de Lula e Bolsonaro em cenários de primeiro e segundo turno, mesmo aquele não podendo ser candidato. Existe também um elevado porcentual de rejeição à política e a todos os candidatos, o que passa de 50%.
Para responder a esse impasse político, seria necessário criar um campo de centro, que articulasse, também, a esquerda democrática e a direita civilizada, em um programa mínimo para ganhar a eleição e sustentar o novo governo, isolando nos guetos os radicais de direita e de esquerda, ambos com visões políticas regressivas e reacionárias diante de um mundo em profunda transformação. Convenhamos, trata-se de uma tarefa muito difícil, mas cuja construção ainda deve ser perseguida.
Isso não acontecendo, não teremos projetos nacionais em disputa em 2018. Teremos que nos conformar com um novo governo de transição, incapaz de reconstruir o País e dedicando-se, nos próximos quatro anos, a uma demorada e complexa reconstrução política nacional. Nada mais.