A perspectiva do governo é de melhora a partir de 2016, mas, até agora, o cenário não se mostra favorável a projeção tão otimista
Inflação nas alturas - já com indicativo de acumular alta em doze meses de 9,32%, segundo boletim do Banco Central divulgado ontem - e retração no crescimento econômico são fatores suficientes para afastar a intenção de compradores de imóveis. O golpe final é a postura rígida dos bancos em relação ao mercado imobiliário, principalmente, nas restrições impostas nos contratos da Caixa Econômica Federal (CEF). Desde maio, financiamento de usados com recursos da poupança passaram a ter redução do limite do valor financiado de 80% para 50% do valor no Sistema Financeiro de Habitação (SFH). Isso quer dizer que o interessado deve entrar com metade do dinheiro para garantir o financiamento do restante. Não é à toa que o setor em Campo Grande sofreu baque e, em dois meses, enfrenta queda média de 70% nas negociações de usados.
No cenário nacional, das 15 principais empresas de capital aberto do setor, 11 informaram perdas em volume bruto medido pelo Valor Geral de Vendas (VGV) em variação de 70% a 90%. No primeiro semestre, houve influência da ausência de contratações pelo programa Minha Casa, Minha Vida, na faixa de renda mensal até R$ 1,6 mil e tem subsídio oferecido pelo governo Federal. O Executivo reduziu a verba do Ministério das Cidades utilizada na contratação de novas unidades, o que foi feito antes do ajuste fiscal e mantém-se no corte orçamentário. Até os negócios que estavam fechados são desfeitos e a devolução de apartamentos e casas em contratos fechados cresce.
A estratégia adotada pelas construtora, então, é retrair lançamentos e tentar vender o estoque, alternativa escolhida para conter gastos e evitar oferta excessiva.
O efeito cascata é inevitável. No corte de gastos, os projetos são adiados e, com isso, os trabalhadores da construção civil são demitidos. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram que, em um ano, o setor foi responsável por 9,6 mil demissões em Mato Grosso do Sul, o pior desempenho da série histórica divulgada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Especialistas dizem que a área é que mais sente a oscilação da economia e os números refletem o que, infelizmente, ocorre de maneira geral na indústria e no comércio. Enquanto a fragilidade econômica perdurar, a readequação do custeio e do quadro de funcionários é a saída mais usada pelos empresários. Índice de desemprego crescente, é menos dinheiro circulando na praça e mais inadimplência, até de contas básicas. O montante arrecadado em impostos também é prejudicado e as contas das administrações públicas são impactadas com redução do recolhimento de tributos que afetam municípios, Estados e União. Em Campo Grande, a situação é tão grave, que foi exposta, na semana passada, pelo secretário-adjunto de Finanças da capital, Ivan Jorge, que admitiu que a cidade está à beira do caos e, se o quadro não for revertido, será a falência do município, um verdadeiro colapso financeiro. A perspectiva do governo é de melhora a partir de 2016, mas, até agora, o cenário não se mostra favorável a projeção tão otimista. Os indícios - políticos e econômicos - mostram que a turbulência está só começando.