Enquanto Ministério Público Estadual e Polícia Federal seguem o rastro do cafezinho, políticos da capital com suspeita de envolvimento no esquema já pensam em não se candidatar novamente
No momento, o efeito maior produzido pelas operações Lama Asfáltica, da Polícia Federal, e Coffee Break, do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), sobre os vereadores de Campo Grande é a angústia. Não há parlamentar que não esteja apreensivo com as consequências das investigações nas eleições do ano que vem, mesmo entre os que não estão envolvidos diretamente com o esquema criminoso.
Enquanto Ministério Público Estadual e Polícia Federal seguem o rastro do cafezinho (apelido da propina recebida por políticos, engenheiros e empresários da organização criminosa supostamente chefiada pelo empreiteiro João Amorim), os políticos da Capital com suspeita de envolvimento no esquema perdem o sono e, até mesmo, pensam em não mais se candidatar.
O ambiente está de fato constrangedor para os representantes da classe política. Diante das investigações que desmascararam quadrilhas, compostas por políticos, lobistas e empreiteiros especializados em desviar dinheiro público, a população mudou sua postura e já não aceita passivamente os crimes cometidos por seus representantes.
O cidadão também está mais atento e fiscaliza intensamente os políticos nas ruas e nas redes sociais. Os protestos estão por toda parte, na forma de painéis publicitários e em panfletos e cartazes, e são raríssimos os detentores de mandato que vão a público para dar satisfação sobre seus atos.
Político nenhum está disposto a comparecer em eventos e nas ruas para ser chamado por apelidos como “cafezeiros” e “pixulequeiros”. O desgaste é muito grande, e a indignação da população pode fazer com que o nome deles seja lembrado negativamente nas próximas eleições.
Como resultado da pressão popular, no caso específico dos vereadores da Capital, eles têm evitado conversar com seus pares em público e ainda ficam escondidos de sua base. No foco da Operação Coffee Break, suspeitos de receber propina para votar favorável à cassação do prefeito Alcides Bernal em março do ano passado, os parlamentares municipais têm dedicado mais tempo para tentar salvar seus mandatos e escapar de um processo criminal.
Com tanta demanda gerada pela Polícia Federal e pelo Gaeco, está difícil a comunicação dos vereadores com suas bases. Nem tanto pelo excesso de tempo ocupado com a defesa perante as acusações que estão por vir, mas, sobretudo, pelo constrangimento de reencontrar aqueles que lhe garantiram o mandato há três anos.
Os sinais de que a paciência da população com os políticos acabou têm sido revelados no plano nacional e foram vários. Hostilização a ministros em restaurantes em São Paulo e vaias à presidente Dilma Rousseff em aparições públicas dela. Em Mato Grosso do Sul, também não há mais algum sinal de tolerância aos cafezinhos e pixulecos. Essa reprovação aos escândalos será vista nas urnas em outubro do ano que vem.