Em uma situação hipotética, em que todas as obras inacabadas estivessem concluídas, ainda restariam mais dificuldades para o poder público, como manter estes prédios em operação.
O prefeito de Campo Grande, Marcos Trad (PSD), terá de lidar durante todo o seu mandato com a herança maldita deixada por seus últimos três antecessores: mais de uma centena de obras inacabadas.
Basta circular por todas as regiões da cidade para verificar a existência de muitas delas, que servem para incontáveis propósitos, todos negativos: criadouro do mosquito transmissor de doenças como dengue, zika e febre chikungunya, esconderijo de criminosos e local para usuários de entorpecentes. Sem iluminação artificial alguma, estas construções não concluídas também aumentam a insegurança para quem mora perto delas.
Conforme reportagem publicada nesta edição, o desafio do prefeito será grande. São nada menos que 154 obras que custarão R$ 442 milhões para serem concluídas. Este valor vultoso, que equivale, por exemplo, a mais de quatro meses de folha salarial de todos os servidores do município, é só a ponta do iceberg do problema.
Em uma situação hipotética, ideal e distante, em que todas estas construções estivessem concluídas, ainda restariam mais dificuldades para o poder público: mantê-las em operação.
Veja, por exemplo, o caso de um centro de educação infantil (Ceinf). Há alguns entre estas obras inacabadas. O funcionamento de uma creche destas, dotadas de professores, recreadores, merendeiras, zeladores e guardas patrimoniais, custa muito mais que os alguns milhões de reais aplicados em sua obra física.
Se o município não tem os R$ 442 milhões para concluir todas as obras paralisadas, é muito fácil deduzir que também não terá os recursos necessários para manter todos estes novos prédios públicos em plena operação. A constatação nos remete à falta de responsabilidade e de planejamento dos três últimos gestores.
A julgar pelas construções inacabadas espalhadas pela Capital, percebe-se que o interesse dos últimos prefeitos era muito mais relacionado aos efeitos de marketing que o lançamento destas obras causaria (ou casou) e às vantagens de se obter recursos federais para a construção do que propriamente com o funcionamento destas novas repartições públicas.
Obras inacabadas devem ser concluídas, claro. Até para não sacramentar o desperdício de dinheiro público. O que o prefeito Marcos Trad e sua equipe deverão fazer antes de retomá-las é avaliar a utilidade delas. Pode ser o caso de alteração da finalidade de um destes prédios públicos em construção, ou mesmo a substituição de estruturas antigas e decadentes por edifícios novos e mais seguros.
O importante é buscar a eficiência no uso do dinheiro público, algo que, todos sabemos, não está sobrando.
Diante deste retrato do abandono espalhado por toda a zona urbana de Campo Grande, fica a lição não só para o prefeito atual, mas para os futuros gestores do município e chefes do Poder Executivo de outras esferas, como a estadual.
Sempre quando se fizer um projeto para uma nova obra, é necessário mensurar não apenas o custo da edificação e da conclusão das instalações, mas também se deve ponderar os gastos que este novo empreendimento gerará durante seu funcionamento.